O exuberante realismo imaginativo de Renata Bomfim
Pedro Sevylla de Juana
Contenido: Exuberante Realismo Imaginativo Introducción. Letraefel. Os três primeiros livros de Renata Bomfim: Mina, Arcano Dezenove e Colóquio das árvores. O Coração da Medusa: Mi prefácio y los cuatro poemarios em português y castellano. Poemas de Renata Bomfim traducidos al castellano. Tres ensayos de Renata, uno en castellano y dos em português. Su pensamiento. Cronología vital. Videos
La imagen principal es una foto de Renata Bomfim no Mosteiro Zen Morro da Vargem, em Ibiraçu, Espírito Santo; donde ella actuó como educadora socioambiental durante seis años.
Presentado por uma amiga común, Ester Abreu, entré en el planeta Renata Bomfim a través de Letraefel, su blog literario, artístico, onírico; un espacio que ella consideraba O covil das palavras. Publiqué algunos poemas allíl y, más que eso, leí.
El primer poema suyo leído dentro, de 2010, decía así:
Renascimento
Cante sobre meus ossos
para que eu reviva.
Empreste-me a tua carne.
Deixe que eu renasça
de tuas entranhas.
Estranha
até mesmo para mim.
Plena.
Conjugada.
Assim misturada
serei o fruto do teu amor.
Cante sobre meus ossos
para que todos os ciclos se fechem
e os astros se alinhem.
Banhe com tuas lágrimas
o meu esboço.
Serei argila,
América indígena,
pedra,
árvore,
fonte.
Fera indomável.
Não me possua e nem me cultive.
Deixe-me assim.
Te acolherei amorosamente
Livre.
renatabomfim
Poesía pura, selvática, iconoclasta, exuberante; de un realismo muy imaginativo.
Recibí un chasquido interior y se lo dije. A partir de entonces recibía poemas recién nacidos, los leía y, si me gustaban, los devolvía traducidos; apareciendo luego en Letraefel. Encontré allí ensaios muy bien documentados. Por ello me esforcé para que los lectores de mis dos idiomas y mis dos patrias conocieran a la autora a través de su obra.
Nesse tempo, ano 2010, Renata publicou, em Flor & Cultura Editores, MINA com prefácio de Luis Eustáquio Soares, orelhas de Maria Lúcia Dal Farra e contracapa de Ester Abreu Vieira de Oliveira.
Se trata de um libro primero, pero no primerizo. Había crecido tanto en la escritura y en el conocimiento, que su mano solo tenía que obedecer al eu lírico, un yo lírico com personalidade propia y, acaso, única.
Un año después aparece, también em Flor & Cultura Editores, su Arcano Dezenove, com prefácio de Favio Mário da Silva, posfácio de Ester Abreu Vieira de Oliveira y orelhas de Anna KALEWSKA
RENATA BOMFIM, RETRATO ACTIVO,
Ensaio crítico sobre os poemarios Mina e Arcano Dezenove por Pedro Sevylla de Juana
En el principio era el símbolo, y el símbolo estaba cargado de energía. El símbolo global albergaba símbolos más pequeños y, estos, símbolos individuales. El conjunto era un mosaico simbólico de una belleza sublime.
El Demiurgo se complacía en la excelsa visión del mosaico de símbolos. Lo imaginó real y obró en consecuencia. Al símbolo del sol le dio masa y lo llamó Sol. Procedió del mismo modo con todos los símbolos. Los llamó Tierra y Luna, y Cielo y Suelo, y Día y Noche, y Mar y Río y Peces, y Aire y Águila, y Caballo y Árbol y Roca, y Mujer y Varón.
Terminada esa tarea ingente, el Demiurgo enunció unas normas destinadas a mantener el Equilibrio y la Armonía. Las llamó Leyes Naturales, y se sintió satisfecho. El paso del Tiempo con su roce constante, ese Devenir dinámico, ocasionó holguras entre los pedacitos que formaban el Mosaico; y ya nada fue como al principio.
Se miraba Renata Bomfim, joven poetisa capixaba, en el agua del manantial donde lava su cara; y el agua se movía mostrando un rostro móvil, un retrato activo. Conoció, la joven artista brasileña el origen del mosaico universal y, en busca de la belleza primigenia de los símbolos, se dirigió al principio. Del símbolo hizo pieza de su mosaico poético, de su mosaico artístico, y embelleciendo su entorno avanza: Transitei por mundos ignorados. /Abracei, com amor, os corpos celestes, / Reencenei a criação do mundo…/ Vi uma imagem refletida/ Na superficie dolente de um lago, / (Era a minha).
Buscadora de oro en los cauces auríferos, sabe Renata Bomfim que no es oro todo lo que reluce: Le pregunto acerca del proceso artístico y poético seguido, y me dice: “Estou muito encantada e feliz em ter o seu olhar sobre a minha arte. Geralmente as pessoas esquecem que também sou artista plástica. Embora neste momento me dedique apenas a poesía, entre os anos de 1995 e 2000 eu trabalhei como mosaicista e design de joias. O mosaico “alegria” é feito com cristais e ágatas brasileiras, ele é uma ode ao momento, um altar para Chronos, deus do tempo. As jóias mosaico são uma tentativa de colocar o cosmo no colo das mulheres, uma evocação ás formas e a energia da natureza… Eu sofri um acidente automobilístico (um big bang que sobrevivi), e fiquei impossibilitada por dois anos de fazer mosaicos. Então, passei a estudar teorias que não exigissem tanto do meu corpo, estudei arteterapia, psicologia junguiana, psicossomática; e todos os caminos que arrisquei seguir me levaram a poesia. Hoje estou completamente recuperada. Bem, eu pinto por prazer mas me sinto mosaicista, e fui aluna e amiga de uma grande mestre, que é considerada a mãe do mosaico brasileiro, o nome dela é Freda Cavalcanti Jardim: morreu em 2000. Me dediquei ao mosaico, e dentro do mosaico, ao vitral e a joalheria., le encaminho um link com alguns trabalhos, uma parte muito pequena do que produzi. Tenho joias espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Mas, isso tudo me parece tão distante, não sei dizer o por quê… Tudo o que faço é mosaico, até mesmo os poemas são poemas-mosaico”.
La poesía es para Renata Bomfim el estaño que une las piezas en el colorido vitral de su vida: ir, abarcar, progresar, dejar huella, mejorar lo existente, trasformar, crear, amar y ser amada: Poesia é / a palavra / dando cria, / germinando, /brotando…Sou um soneto/que aquela poeta cantou/ fazendo vibrar a alma…. Vem buscar a palavra. / As letras estão espalhadas/ pelo meu ventre… Busco alento na poesía… Transita no ritmo/ Explode e goza num grito: Poesia!… Ser poeta é cantar alto/mesmo com a voz embargada/… El poeta, ser plural, asume su propio papel y lo desarrolla con todo el saber y entender: É um mago condenado. / É tantos e todos que é ninguém. Por eso necesita: Banhar-se na chuva mansa, regozijar na tempestade/ e dormir ao relento, onde o frio adensa; buscar veios de ouro e água doce no deserto.
Renata Bomfim parte de la consciencia de Ser, de Existir; punto de apoyo de su palanca. Es y existe integrada en el Universo en expansión, piedrecita del mosaico universal, mas piedra viva y pensante: Eu sou pedra bruta/ girando na ciranda viva… Sou toda bruma/ rio a deslizar pelos penhascos…Amo cada centímetro desse chão, /cada fungo, cada inseto… raízes brotam do meu peito e/ saem pela minha boca…Ó felicidade de entender, maior que a de imaginar ou a de sentir! Se esfuerza a diario para ser esa piedra diferenciada que encaje a la perfección en el lugar previsto del mosaico; diseño predefinido entre la naturaleza y ella. Para la poetisa y artista capixaba, primero fue el mapa, y con él se trazaron los caminos entre montañas, bordeando ríos: Sigo, amor, numa luta ferrenha/ para ser eu mesma. Encaixando os meus fragmentos/ nas partes do mundo que cabem… Sou eu buscando ar, espaço, acolhida, / tentando ser gente, precisando de amor…Sou toda dissonância/ Mas busco harmonia/ equilíbrio, / beleza, cor…
Es río Renata Bomfim, río que discurre hasta el mar. Un mar que puede no ser el fin sino el principio de lo nuevo que busca: As ondas me constituem… Bebi sonhos, /Me alimentei de ternura, / O Sol se curvou por um momento/ O tempo sorriu para mim… A minha alma anseia, / ao som do mar, e a luz do céu profundo, ver brotar de ti poesía…Estive olhando o mar/ no horizonte. / Uma linha perfeita/ como jamais serei. Camina, navega, explora y, en las bifurcaciones, quisiera abrir un atajo nuevo en medio de las sendas existentes: mas logo me interroga/a bifurcação…Voo inaugural para uma nova existência. Rehacerse, reinventarse sin dejar de ser ella, sumando a lo ya conseguido: Adquiri habilidades:/Me disfarço, / Me misturo, /Posso até desaparecer…
Es consciente de existir siendo mujer; más aún, siendo hembra: pieza esencial de la continuidad humana: Sou mulher, portanto,/ a minha alma cintila/, comunga e dialoga / com todas as estrelas ….Nem esposa nem amante,/Namorada!/ É o quero ser/ Sonho com o estado de graça/ da mulher que não tem dono,/ que tem asas/ que deliciosamente ameaça voar. Cumplidos en ella los designios de quien todo lo propicia, descansará: até que a noite a cubra /com seu manto de prata. Se une a las iguales por pura hermandad: E eu amo a todas elas!…Nos unem os ciclos da lua, / a terra do corpo que vibra… Mãe e amante de tudo que vive e respira…
El hombre, fecundador imprescindible, con frecuencia se erige en dueño y señor: Mas o homem não entendeu…Finjo ser…Aquela que precisa ser protegida… Pero ella le quiere amante, compañero, colaborador, amigo: Quero abraçar teu desamparo. /Ser tua gêmea, invertida… Arrancas de mim a máscara / sem que eu tenha medo…Companheiro, / Vamos conjugar verbos…Subverter o alfabeto…Gozar nas texturas plurais.
Canta a la sensualidad y su canto es apremiante. Cava o meu chão e/ planta a tua semente…Habitei o templo da luxúria…O tátil se apoderou de mim!… Te submeto aos meus desejos mais indecentes…Sou terra úmida/ à espera da tua semente, como se fosse a última…. lascivos e exaltados, / nos devoramos até não sobrar nada…Mulher, fêmea, / meu nome/ é prazer….
La soledad y la búsqueda en la artista integradora, se hacen cuestión vital. Busca fuera lo que tiene dentro; y lo busca para llenarse de lo que ya está llena: Sinto fome de infinito…O vazio me invade:/ Resto plena de tudo o que não sou eu…Ser poeta…É buscar o outro/ e encontrar a si mesmo… A solidão é um abismo/ e guarda uma paz preciosa!… Busco Ítaca! / Busco a minha alma/ na alma daquela que tece à espera… En ocasiones, alcanza consciencia de su propia diversidad y, aunque en broma, se siente completa:Confeccionei bibelôs em gesso,/ elaborei mosaicos dos infernos,/ tão belos que Gaudí invejaria./ Criei joias, contei histórias, pintei, / bordei, toquei violão, fiz mandingas,/ macumbas. Aprendi dança de salão, /dança do ventre, escrevi versos.
La autora del poemario Mina, ama al otro, al congénere, al amigo fraterno, al desconocido sospechado: onde o amor impera, o/ sacrifício é sacro, é santo, / ofício de doação per se./ Que surja uma nova era,/a era das rosas, era de ouro, /era de mim e do outro, era de nós…. Despertar os sentidos/ adormecidos/ ser um deles…ser um com ele/ um com ela…Somos um todo!… Quero abraçar teu desamparo, sim! / Acolher a dor que mora dentro, / curar as chagas, deixar ir. Sufre con el oprimido, con él se resiste; y pide a quien corresponda el cese del dolor inútil: Tememos! / Trememos!…Alivia-me dessa dor!/ Seca o sangue que escorre e corre…Alivia-me do grito que está preso nas entranhas! Liberta-o!… Prefiro a morte à sujeição.
Necesitada de sostén y agarradero, está dispuesta a creer. Ve un Dios inconcreto, plural, avalado por su obra y la moral del respeto generalizado: Respeitosamente espero a chuva cair…Tenho uma sede insaciável/ De Deus…/Por isso bebo a flor e o orvalho…Preces e rogos e oferendas / Para um deus pagão…Mulher peca nua,/ santamente./ Seu gozo resgata do purgatório…Visto roupas brancas e puras/ e ouço mantras transcendentais…Neste caminho que é a vida/ sou levado a buscar o nirvana,/ a estar com todos os chakras alinhados…Vou mandar rezar uma missa/ Para que me deixes descansar/ e para que também descanses…Dios está: onde se tangenciam natureza e poesía.
El paso del tiempo vacío, la temida rutina, llevan a Renata Bomfim a hacer, a transformar: Assim o cotidiano invade a carne, / um dia após o outro:mata as células, esmaga os sonhos. Mas dos dedos brotam letras/ que não se repetem jamais! Las manos, al servicio de la mente, sirven para dar vida a mosaicos y vitrales, diseñar joyas, unir pedazos de vida: Rompeu-se o que era de ouro e fino e delicado. / Brocado de oníricas texturas… Catedral envidraçada, / Templo óptico… ouro e mercúrio/ Amalgamado no espelho cruel de Narciso… ser fragmento/ no mosaico cósmico…
Su espacio es lugar de acogida para piedras, árboles, animales; y todos con sus derechos. Los gatos merecen poemas y dedicatorias: A Lili, Verinha, Elvira, Elvis, / Elvis Júnior e Dedo…Busco o natural/ nos escombros e resquicios/ do animal que sou… Acredito que você é um anjo/ uma gatinha-querubim. / Eu a quero pra sempre perto de mim…Amigo macio e misterioso, / o que anima a tua essência? / Qual motivação divina te fez assim:/ Astúcia, graça e beleza? Se considera Renata Bomfim parte de un todo universal, sufre en lo profundo el daño que la naturaleza recibe del hombre y sabe que herir una parte es herir el todo, el hombre incluido: É obsceno produzir lixo em profusão, / degradando a natureza. Letargia/ Consumo/ A terra agoniza, / o gemido é visceral…De tanto arranhar a Terra e violar os Rios/ ofendendo o grande Nada.
La poetisa nacida en la Ilha de Vitória, capital de Espírito Santo, consciente de la ingrata realidad social, se ríe con las cosas más serias; y con las menos. Juega con las palabras, sonidos y significados. Mote/ o trote/ o xote/ vou seguindo/ sou essa alma que grita/ Inspirada! / cobra pronta a dar o bote.
Humana hasta la médula y persona social, se mueve entre el temor y la esperanza, entre la aceptación de la realidad y el deseo de cambiarla: Dores e lágrimas, / medos inexplicáveis/ até mesmo da plenitude e/ da felicidade…. O homem se pega em desatino, / a sua vida será labor e sacrificio… Sigo vencendo o medo da morte…¡Oh, Dios! ¿Qué dolor es ese que/ parte de lugar que desconozco/ y viene a alojarse aquí dentro, / haciendo de mi pecho cuna, celda, cementerio?… Experimentei da dor, da violencia/ da solidão…da amizade e de incontáveis alegrias… E amei, amei…
Creativa inteligente, halla modo de contarnos que hasta en sus preferencias hay grados: Com Freud e Lacan, muito sexo. / Flerte com Foucault. /Com Bakhtin, pura amizade. / Mas com Jung, amor. / Com Deleuze, um chá a tarde, /Com Baudelaire, cigarro, rapé, campari. / Conselhos, tomo com o Jameson, /Mas sigo sempre as dicas do Paz./ Sedutores pirados, visionários, poetas, / Combinam bizarrices e genialidade, / Roubam meu tempo, minhas letras e /Partem falando de mim. Fica a saudade.
De cuando en cuando, nos deja unas pinceladas de su poética: Sonhei escrever um poema/ impossível, marcante e forte/ cujas letras estivessem prenhes de espírito/ a musicalidade fizesse vibrar a carne e, o metro,/ reproduzisse a perfeição do infinito…./ Mas como cantar a beleza bruta,/ que se revela apenas em lampejos?…..A natureza escreveu o meu poema:/ Traçou nas linhas da roseira/ metrificou o caminho da formiga/ e às rosas perfumadas/ foram embaladas pelo ritmo do vento…
Hay una ventana abierta en su vida que ella llama Letraefel; un diario que escribe para emocionar. En las páginas virtuales de ese blog, junto a las entregas de otros, deja retazos de sí: piel, carne y hueso arrancados de su ser más íntimo. En ellos y en sus libros de poemas se encuentra la poetisa de nervio, artista y creadora diversa.
Pieza del mosaico poético, es preciso situar a Renata Bomfim en el contexto cultural al que pertenece. La poesía en portugués, en opinión tan autorizada y experta como la del carioca universal Ivan Junqueira, es superior a la que se escribe en otras lenguas. No es sólo cuestión de lengua, aunque la lengua portuguesa, por su estructura y morfología, da facilidades a la lírica. También influye la oportunidad histórica y la trayectoria de los poetas anteriores. La pedagogía será otro elemento favorable; y el número de practicantes.
Abundan los poetas en Brasil. Mujeres y varones por igual; baste mirar la extensa nómina de poetas capixabas. El fenómeno internet y la consiguiente facilidad de publicación, permiten que el concepto de poesía se amplíe y quepan en él poemas que antes no tenían hueco. De la cantidad también proviene la calidad. Las revistas de poesía y los blog personales, están siendo promovidos por poetas que gozan de pasión poética y generosidad para con los afines. Todos los estilos, todas las tendencias y corrientes conviven. Puede apreciarse la lucha intemporal entre renovación y permanencia. La traducción a otras lenguas nunca ha sido tan dinámica. Es un fenómeno que está siendo positivo para la divulgación. Caso excepcional es la simbiosis entre la poesía en portugués y la poesía en español. Lenguas hermanas, permiten una convivencia y un trasvase inimaginable hace décadas.
Renata Bonfim es una poetisa agitada y mecida por su tiempo. Nada natural le es ajeno. Su mitología está formada por elementos del Zen, del Cristianismo y los enigmas del comportamiento humano en relación con lo intangible. Hay conocimientos, en su poesía; sentimientos, belleza y universalidad. Piedra, agua, viento, fuego: los cuatro elementos en permanente interacción. La necesidad de trascender su hit et nunc, es una constante en la obra de esta poetisa brasileña; y el fuerte deseo de alcanzar las estrellas desde las raíces de sus pies.
Su poesía bebe en El Cantar de los Cantares, en Virgilio, Horacio, Fray Luis de León, Baudelaire, Verlain y fuentes muy diversas. Sus pensamientos, sus intuiciones, ese deseo irrefrenable de ir hacia lo desconocido, se expresan mejor en lo simbólico: mosaicos circulares que tienden a la elipse sin ella saberlo, joyas que adornan mujeres de cualquier país. Siente admiración por el gran Rubén Darío: agudeza, brío, arrebato, osadía y rebelión. Admira a la valerosa, crecida y capaz Rosalía de Castro, y las coincidentes miradas sobre lo propio: tierra y gente. Ahí se encuentra con la inmediatez de Juan Ramón, la oscura acuarela de Bécquer y las soledades inconclusas de Góngora. Desea una charla imposible con Octavio Paz. Lorca le sirve de enlace con otras poesías. Los místicos la atraen: Teresa de Ávila y Juan de la Cruz. Fernando Pessoa y José Régio forman parte de sus poetas esenciales.
Referencia aparte merece la prolongada relación de Renata Bomfim con la obra de Florbela Espanca, la voz femenina más importancia de la lírica portuguesa del siglo XX, en su opinión. Orgullosa se siente la brasileña de las influencias recibidas. Seguramente es así, porque el profundo estudio y los trabajados publicados sobre la portuguesa, vida y obra, siendo causa también serán consecuencia. No obstante, es indudable que ambas mujeres coinciden en la manera de abrir camino a la feminidad, en el deseo de emancipación y en el enfrentamiento a las convenciones sociales. Y una curiosidad: fue la relación estrecha entre Florbela Espanca y Rubén Darío, lo que llevó a Renata Bomfim a la poesía del nicaragüense y a continuar la investigación sobre Florbela.
Lo ibérico, hispano y luso tan iguales y tan distintos, resulta esencial para la poetisa capixaba. Ella lo amalgama y lo funde con lo recibido, sentido y amado de los poetas brasileños: Castro Alves, Manuel Bandeira, Cecília Mireles, Drummond de Andrade, Dos Anjos, Raul Bopp, Guimarães, Coralina, Guilherme de Almeida y tantos otros. Aunque, es preciso destacar, que, bebiendo en fuentes de cualquier lugar y época, no sigue corrientes establecidas ni modas temporales. Los ríos poético y artístico de la volitiva Renata Bomfim, labran su propio cauce de manera espontánea: hace ella lo que desea hacer, y va adonde, en cada momento, quiere ir.
En 2015 Renata Bomfim da a luz Colóquio das árvores, publicado por Chado Editora com prefácio de Ana Luísa Vilela y posfácio de Pedro Sevylla de Juana
Renata Bomfim en el “Colóquio das árvores”, Pedro Sevylla de Juana
Estimado lector, a quien Renata Bomfim dedicó su Colóquio das árvores; si has llegado hasta aquí recorriste un camino cuajado de paisajes bellos y abruptos. Desfiladeros profundos y llanuras cubiertas de abundante vegetación. Agua renovando su ciclo y alguna aridez que parece puesta a propósito para resaltar el resto. El ser humano habita esos paisajes sometiéndose, tratando de dominarlos.
En Colóquio das árvores, el Eu de Renata Bomfim ha tomado las riendas.
Es un libro muy Eu, el más Eu de los suyos, pero de un Eu ya maduro, capaz de definir y concretar. Cuando pinté su “retrato activo” desconocía estos poemas, y me veo obligado a aumentar el ángulo de mi punto de vista.
Las razones de su poesía siguen siéndolo, pero la catarsis que aquí hace las transforma. Sus fantasmas vuelven una y otra vez, más ella los espanta con su ironía ácida, con su temple de genuina tupi capixaba. No se puede olvidar, porque ella no lo olvida, que Renata Bomfim es mujer; hembra en el sentido excelso de la palabra. Hace bandera de lo femenino y la enarbola subida a la solidaridad con el hombre, sirviéndose del fragor de su palabra escrita. Renata Bomfim es militante de la equivalencia, de la paridad de géneros, y lo es desde que adquirió conciencia de ser, lo que sucedió muy temprano.
En Colóquio das árbores, Renata resurge metafórica y simbólica, pagana; fuego purificador y cenizas fertilizantes: terriblemente humana. Abre sus heridas para que salga el dolor. El dolor sale a borbotones, pero sus heridas no se cierran, quedan limpias y abiertas, presentes, como recordando, a modo de aviso: nada está decidido.
En algunos poemas asoma la erudición, pero Renata la utiliza únicamente por la función ejemplarizante. Su tiempo y su espacio se acentúan, se expanden, se unifican, avanzan juntos. Está aquí y allá, arriba y abajo; abre la puerta a la queja y se hace fuerte contra la realidad de los afligidos.
Para Renata, la poesía no es el fin; la poesía es el medio de que se sirve para decir su interior abarrotado de ideas beligerantes, colaboradoras, factibles.
Pensadora, filosofa sobre todo lo que se mueve y lo que está quieto, sobre lo existente y lo posible. Trata de entender, de abarcar de aprehender todo lo imaginable. Dual hasta más no poder, toma partido por el bien y por el mal al mismo tiempo. Violencia verbal, crudeza, veneno en las palabras, hiel. Pero en ella el más feroz de los ataques es solamente una de sus aguerridas defensas.
¿Quién es esta mujer que así se expresa? ¿Quién es la terrible leona que ronronea como gatita? Estimado lector, esta poetisa bárbara e indígena, esta artista global que muerde y besa a un tiempo en sus poemas vivos, ardientes, sangrantes, conciliadores, balsámicos; esta mujer indefinible es Renata, Renata Bomfim.
Y este libro que acabas de leer, formado por cuatro poemarios que se hacen unidad porque la voluntad lo quiere, este libro que no deja espacio a la indiferencia, es el imposible y necesario “Colóquio das árvores.”
Pedro Sevylla de Juana
Traducción/ Tradução
Los poemas aquí congregados fueron traducidos por mí a medida que iban siendo escritos: un día o dos después. Son, por tanto, causa y consecuencia, fieles al momento originario. Tuve un premio poético que compensa mis desvelos. Escribió Renata el poema titulado O bruxo de Valdepero, meu tradutor. Aquí está, en castellano:
Mi traductor Poema de Renata Bomfim
Mi investigador, mi lector, mi traductor;
el filósofo, sicólogo, escritor y poeta
Pedro Sevylla de Juana, visitante virtual
de las tierras todas, de todas las aguas
de los vientos agitados y de los fluidos ígneos,
en el arriba y abajo de los lugares próximos
y de los espacios interestelares más apartados;
traductor infiel a fuer de creativo
asegura estar al tanto
de mi iluminado interior
íntimo y amplio.
Entiende que soy
la Luna en su cuarto creciente,
menguante a veces
llena en ocasiones repetidas;
de inestabilidad estable
y cíclica.
Previsiblemente imprevisible,
cree ver en mi corazón una niña
que se resiste a ser mayor,
y una mujer madura
que moraliza sin ton ni son.
Me habita una india, dice,
que teje telas floridas
y las lleva al mercado sin desear venderlas
para poder lucirlas
en los días de fiesta.
Me traslada un demonio guapo,
comenta,
acunada en sus brazos
hasta el monte más alto de la Tierra.
Allí,
arriba,
entre poder y riquezas
reúne exaltado
para mostrarme
los fastos del mundo
que promete entregarme
si le sirvo a su gusto.
En la cueva de la bruja vieja
aprendo a leer sortilegios cifrados
a cocer pócimas y ungüentos
y a entenderme con serpientes y gatos.
Supone que en las noches cálidas
soy una monja acorralada
por las tentaciones,
que flagela su desnudez desnuda
con espinosos tallos de rosas rojas
y aprieta el cilicio ceñido a la cintura.
Soy de todos siendo mía,
amo por igual a personas, animales
y plantas
cuido la obra entera del Creador
y perteneciéndome por entero
a los demás me doy.
Mi traductor traduce
a su amada lengua
precisa
y dulce
la letra honesta de mi canción,
explicando a los lectores
la suma de cuántas
Renatas soy.
RB, Madrid a 8 de octubre de 2013
Medusa roja
O Coração da Medusa: Renata Bomfim e o Brasil,
prefácio de Pedro Sevylla de Juana
Se pode pensar que Vitória, capital do Espírito Santo, é uma ilha rodeada de praias cingidas por prédios altos. De certo modo é assim. Acontece também que, nas férias, as praias abraçadas pelos arranha-céus estão superpovoadas: pessoas de lá e forasteiros. Não obstante, é possível encontrar uma praia deserta; e eu a encontrei. Não era Namorados, nem Curva de Jurema; Era a longa, longa Praia de Camburi.
Em Camburi, a vida agita-se à noite como uma garrafa de champanhe e espuma. Mas na primeira hora da manhã eu passeava sozinho. Só não; Ali, perto, uma criança brincava na areia na beira da água, onde as ondas morriam e morriam. Pensava eu na enormidade complexa do Brasil, tentando decifrar a paisagem e as pessoas, enigma de natureza múltipla. Cheguei ao lado do menino e vi que estava ocupado enchendo um pequeno buraco, feito na areia com uma concha maior do que as mãos juntas. Com a mesma concha ele tomava a água que banhava seus pés para agonizar em silêncio, e depositou-a no buraco. Que fazes menino?, que jogo jogas?: perguntei. Sem interromper sua tarefa nem um momento, ele respondeu com uma voz que não parecia de criança, se não de adulto muito sério: Estou mudando de lugar toda a água do mar. Não entendi bem, e usando certa ironia perguntei: E onde a queres deixar? Neste buraco: respondeu ele com toda a firmeza do mundo.
Naquele momento, percebi a semelhança do meu encontro com o de São Agostinho, quando ele debatia em seu interior sobre o homem e a Santíssima Trindade. Eu estava pensando e pensando, para encontrar uma definição justa que abraçasse o Brasil sem deixar nada fora. Entendi que meu esforço era tão inútil quanto o do menino, bem como o do eminente santo. “Isto que vejo, tão complexo, tão exuberante, tão diverso, tão pobre, tão rico, tão escuro, tão colorido, tão árido, tão fértil, tão débil, tão forte, tão violento, tão terno; isto e mais: um conjunto de energias que somam e restam, um enigma intrigante que devo interpretar por mim mesmo; todo isso e bem mais, que não vou compreender nunca, é BRASIL.” Tardei meses, dia após dia, hora após hora, em chegar a essa conclusão; possivelmente incompleto e inexata.
Não obstante, gostei do resultado; parecia tão ajustado à realidade que eu queria transformá-lo em unidade e escala; definição que trata de ser exaustiva. Obstinação absurda, como eu vejo no instante de medir com ela O Coração da Medusa. No entanto, é nessa tentativa quando percebo que O Coração da Medusa é um livro profundamente brasileiro. E o excelente livro de poemas é tão profundamente brasileiro quanto sua autora, Renata Bomfim.
Renata Bomfim é uma poeta que embala os mitos infantis e os cultiva em seu seio, alimenta-os, mostra-lhes o caminho e leva-os à maturidade. Os mitos e o Brasil são consubstanciais. Me refiro a lendas e mitos muito diversos, de transmissão essencialmente oral. Há uma palavra que explica isso: Miscigenação. Mas Renata Bomfim não se conforma com a amplitude do significado daquela palavra de Gilberto Freyre, e desenvolve-a adicionando os mitos greco-romanos, que na juventude fez próprios por pura admiração. Renata procede dos índios Tupiniquim do Estado de Espírito Santo, de europeus portugueses e italianos, de africanos iorubas. Uns povos chegados pela força abominável da escravidão, e outros pela convocação interna que chama a cada um de acordo com sua natureza e suas necessidades: posse ou entrega; e as duas juntas às vezes. Miscigenação. Mas ela deseja conhecer causas e consequências; e estuda todo o que desperta em sua mente algum interesse. Se chega algo estranho, que ela considera valioso, o analisa, engole, digere e incorpora em seu ser. Antropofagia, na vontade pictórica de Tarsila do Amaral. Por esta razão, e pela origem de um dos ramos da família, Renata chega ao romano e, pouco depois, ao grego, incorporando-os em seu sentir e pensar.
Atuam em Renata as capacidades generativas que no Brasil, como nela, somam e subtraem. Luas crescentes e minguantes coexistindo e se impulsando até o equilíbrio. Renata Bomfin é uma excelente poeta dramática. Seus poemas mostram muito sentimento, abrangem e contêm muita vida, considerando a vida como aquele mistério que vamos decifrando a cada momento até o miolo indecifrável: o conhecimento-desconhecimento do próprio ser. Renata Bomfim é uma grande poeta da incerteza, entendendo a incerteza como um profundo conhecimento do desconhecido, da ausência, do que ainda falta completar. Esse conceito do Tudo / Nada, Vazio / Cheio, é a gênese da sua dualidade pessoal.
O afã da consolidação pessoal passa pela busca da verdade. Sempre a verdade, toda a verdade: perto e longe, abaixo e acima. Verdade que faz sua dotando-a de uma marca de água indelével muito pessoal. Sua escrita foge da imitação, não segue correntes; abre estradas e as consolida a força de transitar por ambos sentidos de direções diferentes. O paradoxo é sua arma mais desagregadora, a desintegração é sua ferramenta analítica, a análise é seu método de trabalho –atalho talvez, talvez rodeio- caminho da verdade última; se a verdade suprema existir, pois Renata Bomfim cavalga sobre a dúvida. A dúvida e a chegada à verdade são as faces da personalidade da artista capixaba, brasileira, universal. Vai ela captando o estranho mais afim, misturando-o com o melhor arraigado, para criar novos poemas enriquecidos, aprimorados.
O benefício e o dano estão considerados essenciais em O Coração da Medusa. Não como conformidade com o que não pode ser evitado, mas sim como reconhecimento de que, existente e inexistente, formam a essência em condições de igualdade. Não de forma estável e estática, senão de forma dinâmica e mutável. É o que é e o que ainda não é, unidos; e é ambas coisas endireitando as curvas na estrada, avançando, indo e progredindo. Como toda pessoa de pensamento e expressão, pensamento e expressão são baseados em fundamentos pessoais. Renata Bomfim se emociona com o simples e se intriga com o complexo, tentando separar seus elementos. Positiva o negativo, o dramatiza em seus versos, liquefazendo-o, sublimando-o. O drama desdobrado no papel resulta menos doloroso, facilita a pesquisa e sua eficácia terapêutica cresce. A dor nela é amiga, ferramenta em ocasiões, meio de purificação, ponto de embarque para a nova partida. Sai, depois de cada chegada, a lugares diferentes, que são os mesmos vistos com outro olhar. Suas feridas não apresentam cicatriz no contato, mas borbulham dentro do íntimo. A importância do mundo onírico é considerável na sua criatividade. Alguns de seus melhores poemas foram sonhos, nasceram de sonhos, sonhos com frequência reiterados.
As ideias sobre a origem e o fim, as teorias tecidas nesse ambiente, as práticas religiosas nas que participou ou das que teve conhecimento, moveram a sua olhada para O Grande Tudo, ou seu contrario equivalente O Grande Nada. Ou seja, aquilo que esvazia o cheio, o que preenche o vazio. Por ser dual em seu modo de ver o Universo -pessoa isolada e pessoa integrada no conjunto- ela explica nos seus poemas as imensuráveis magnitudes e a simplicidade próxima da ausência. Segundo suas experiências e conhecimentos, cada um dos inúmeros corpos dos quatro elementos, foi dotado de alma individual que forma parte da alma comum, essa alma infinita que respira a energia do Universo -matéria e antimatéria- procurando, não a nulidade, senão a síntese. Percebe Renata Bomfim o humano perseguindo a impossível integração de sensações, sentimentos, vontade, desejos, necessidades e objetivos na utópica felicidade, extensão da não menos utópica liberdade. Tudo o que existe real e imaginário, é animado; existe per se e ao mesmo tempo como consequência da existência geral. Causa e resultado, de acordo com sua poesia, formam uma unidade inseparável e agem e interagem dessa maneira no concerto universal.
Este livro de Renata, segundo a poeta pertence à Medusa, a intérprete. A razão pode vir de um eu lírico, autor verdadeiro e único, diferenciado, separado da pessoa da qual forma parte. E Renata Bomfim se justifica na crença de que o eu lírico possui conhecimentos e experiências localizados e adquiridos fora do resto da pessoa. Teoria do poema filho, posta em prática com rigor, o que pode explicar sua originalidade. Uma originalidade que não consiste apenas em levar o seu veleiro contra a corrente, senão em remar quando o vento entra em calma. Remar, trabalhar, experimentar todo: é um recurso que ela usa em seu progresso, um progresso evidente, ato por ato, verso por verso; que neste livro alcança o zênite.
Nada importante foi feito no tempo-mundo sem paixão. A paixão é a ilusão excedida, desencadeada, urgente, ágil, rápida, intensa: flecha impulsionada pelo arco em direção ao objetivo. Renata sabe disso e coloca a ênfase nisso. Os arquétipos femininos que ela estuda tanto, que tanto admira, viveram essa paixão; em alguns momentos oposta à felicidade com F, como ela a escreve, como ela a persegue sem resultado visível. Todos os aspectos aqui considerados, e os muitos beirados por pouco conhecidos, configuram, na soma das partes, o interior rico, real, vivo e ativo de Renata Bomfim; artista e literata de nervo e caráter, pessoa infrequente. O Coração da Medusa é o resultado de todo o anterior: lido, visto, imaginado, escrito, pintado, desenvolvido, sonhado, apreendido pela poeta. O Coração da Medusa é tudo o que foi dito acima, assimilado, refeito e entregado a outros pela autora com a intenção de mostrar-se em toda a sua completa integridade.
Pedro Sevylla de Juana Villeneuve sur Lot, Aquitânia, França. Julho de 2015
Medusa azul
O Coração da Medusa: RENATA BOMFIM e o Brasil,
prólogo de Pedro Sevylla de Juana
Puede pensarse que Vitória, capital de Espírito Santo, es una isla rodeada de playas ceñidas por edificios altos. De algún modo es así. Sucede, también, que, en época de vacaciones, las playas abrazadas por los rascacielos están superpobladas: gente de allí y forasteros. No obstante, es posible encontrar una playa desierta; y la encontré. No era Namorados, ni Curva de Jurema; era la longa, longa Praia de Camburi.
En Camburi la vida se agita por la noche como botella de champagne, y espumea. Pero a primera hora de la mañana yo paseaba solo. Solo no; allí cerca un niño jugaba en la arena al borde del agua, donde las olas morían y morían. Pensaba yo en la compleja enormidad de Brasil, tratando de descifrar paisaje y personas, enigma de naturaleza múltiple. Llegué al lado del niño y vi que el niño se entretenía en llenar un hoyo pequeño, hecho en la arena con una concha más grande que sus manos juntas. Con la misma concha tomaba el agua que llegaba a sus pies para agonizar tranquila, y la depositaba en el hoyo. Que fazes menino?, que jogo jogas?: pregunté. Sin dejar ni un instante su tarea, respondió con voz que no parecía de niño si no de adulto muy serio: Estou mudando de lugar toda a água do mar. No lo entendí bien y pregunté: E onde a queres deixar?: empleando algo de ironía. Neste buraco: respondió con toda la seguridad del mundo.
En aquel punto caí en la cuenta de la similitud de mi encuentro con el de Santo Tomás, cuando debatía en su interior acerca del hombre y la Santísima Trinidad. Yo iba pensando y pensando, para hallar una definición justa que abrazara a Brasil sin dejar nada fuera. Entendí que mi empeño era tan inútil como el del niño, lo mismo que el del Santo eminente. “Isto que vejo, tão complexo, tão exuberante, tão diverso, tão pobre, tão rico, tão escuro, tão colorido, tão árido, tão fértil, tão débil, tão forte, tão violento, tão terno; isto e mais: um conjunto de energias que somam e restam, um enigma intrigante que devo interpretar por mim mesmo; todo isso e bem mais, que não vou compreender nunca, é BRASIL.” Tardé meses, día tras día, hora a hora, en llegar a esta conclusión; seguramente incompleta e inexacta.
No obstante, me gustó el resultado; me pareció tan ajustada a la realidad, que quise hacer de ella unidad y escala; definición que pretende ser exhaustiva. Terquedad absurda, según veo en el momento de medir con ella O Coração da Medusa. Sin embargo, es en ese intento donde me doy cuenta de que O Coração da Medusa es un libro profundamente brasileño. Y el excelente poemario de poemarios es tan profundamente brasileño como lo es su autora, Renata Bomfim.
Renata Bomfim es una poeta que acuna mitos niños y los crece en su seno, los alimenta, los muestra el camino y los lleva a la madurez. Los mitos y Brasil son consustanciales. Me refiero a leyendas y mitos muy diversos, de trasmisión esencialmente oral. Hay una palabra que lo explica: Miscigenação. Pero Renata Bomfim no se conforma con la amplitud del significado de esa palabra, y la desarrolla añadiendo los mitos grecoromanos, que ya en la juventud hizo suyos por pura admiración. Procede Renata de indios tupiniquim originarios de Espírito Santo, de europeos portugueses e italianos, de africanos yoruba. Unos pueblos llegados por la fuerza abominable de la esclavitud, otros por la convocatoria interior que a cada uno llama según su índole y sus necesidades: posesión o entrega; y las dos juntas a veces. Miscigenação. Pero ella es curiosa de causas y consecuencias; y estudiosa de todo lo que despierta en su mente algún interés. Si le llega algo extraño que considera válido, lo analiza, lo engulle, lo digiere y lo incorpora a su ser. Antropofagia, en la intención pictórica de Tarsila do Amaral. Por eso, y por el origen de una de las ramas familiares, llega Renata a lo romano y, poco después, a lo griego, incorporándolos a su sentir y pensar.
Actúan en Renata esas capacidades generativas que en Brasil, como en ella, suman y restan. Lunas crecientes y menguantes conviviendo e impulsándose hasta el equilibrio. Renata Bomfin es una excelente poeta dramática. Muestran mucho sentimiento sus poemas, abarcan y contienen mucha vida, considerando a la vida como ese misterio que vamos descifrando momento a momento hasta el meollo indescifrable: el conocimiento-desconocimiento de uno mismo. Renata Bomfim es una gran poeta de la incerteza, entendiendo incertidumbre como un conocimiento profundo de lo desconocido, de la ausencia, de lo que aún le falta para completarse. Ese concepto del Todo / Nada, Vacío / Lleno, es la génesis de su dualidad personal.
El afán de consolidación propia, pasa por la búsqueda de la verdad. Siempre la verdad, toda la verdad: cerca y lejos, abajo y arriba. Verdad que hace suya dotándola de una marca de agua indeleble, personalísima. Su escritura huye de la imitación, no sigue corrientes; abre caminos y los asienta a fuerza de transitar por ambos sentidos de direcciones diversas. La paradoja es su arma más disgregadora, la disgregación es su herramienta de análisis, el análisis es su método de trabajo -atajo quizá, quizá rodeo- hacia la verdad última; si es que la verdad última existe, pues Renata Bomfim cabalga a lomos de la duda. La duda y la llegada a la verdad son inherentes a la personalidad de la artista capixaba, brasileña, universal. Va ella captando lo extraño más afín, mezclándolo con lo propio mejor arraigado, para crear nuevos poemas enriquecidos, potenciados.
El beneficio y el daño están considerados en O Coraçåo da Medusa por igual esenciales. No como conformidad con lo que no se puede evitar, sino como reconocimiento de que, lo existente y lo inexistente, forman en igualdad de condiciones la esencia; y no de una forma estable y estática, sino de una forma dinámica y cambiante. Es lo que es y lo que aún no es juntos; y es ambas cosas cambiantes situadas en el camino, avanzando, yendo, progresando.
Como toda persona de pensamiento y expresión, el pensamiento y la expresión se sustentan en los cimientos personales. Renata Bomfim se emociona con lo simple y se intriga con lo complejo, tentándola a separar sus elementos. Positiva lo negativo, lo dramatiza en sus versos, licuándolo, sublimándolo. El drama desplegado sobre el papel resulta menos doloroso, facilita la investigación, y su eficacia terapéutica crece. El dolor en ella es amigo, herramienta a veces, medio de purificación, punto de embarque para la nueva partida. Sale tras cada arribo hacia diferentes lugares, que son los mismos vistos con otra mirada. Sus heridas no dejan cicatriz al tacto, pero bullen en el interior íntimo. La importancia del mundo onírico es considerable en su creatividad. Algunos de sus mejores trabajos fueron sueños, nacieron de sueños, sueños con frecuencia reiterados.
Las ideas sobre el origen y el fin, las teorías tejidas en ese entorno, las prácticas religiosas en las que tomó parte o de las que tuvo conocimiento, la movieron a buscar O Grande Todo, o su contrario equivalente O Grande Nada. Es decir, aquello que vacía lo lleno, lo que llena el vacío. Porque es dual en su forma de ver el Universo, ella persona y ella integrada en el conjunto; las inconmensurables magnitudes y la existencia mínima, de una simplicidad próxima a la ausencia. Según sus leales saber y entender, cada uno de los innúmeros elementos de la suma y la resta, del todo y la nada, fueron dotados de almas individuales que forman parte del alma común, esa alma infinita que insufla al Universo la energía: materia y antimateria buscando, no la nulidad sino la síntesis. Percibe lo humano persiguiendo la imposible integración de sensaciones, sentimientos, voluntad, deseos, necesidades, objetivos y, la utópica felicidad, prolongación de la no menos utópica libertad. Todo lo existente y, aun, lo imaginario, es animado, posee alma, existe por sí mismo y a la vez como consecuencia de la existencia general. Causa y consecuencia, según su convencimiento, forman unidad inseparable y actúan e interactúan de ese modo en el concierto universal.
Este libro suyo, pertenece a Medusa, la intérprete. La razón puede venir de un yo lírico, autor verdadero y único, diferenciado, desgajado de la persona de la que forma parte. Y Renata Bomfim se justifica en la creencia de que el yo lírico cuenta con conocimientos y experiencias situadas y adquiridas al margen del resto de la persona. Teoría del poema hijo, puesta en práctica con rigor, que puede explicar su originalidad. Una originalidad que no consiste sólo en llevar su velero contra corriente, si no en remar cuando el viento entra en calma. Remar, trabajar, intentarlo todo: ese es un recurso que utiliza en su progreso, un progreso evidente acto a acto, verso a verso; que en este libro alcanza el cénit.
Nada importante se ha hecho en este mundo sin pasión. La pasión es la ilusión excedida, desatada, ligera, ágil, veloz, intensa: flecha impulsada por el arco hacia el objetivo. Renata lo sabe y pone en el ello el énfasis. Los arquetipos femeninos que estudia tanto, que tanto admira, vivieron esa pasión; en algunos momentos opuesta a la felicidad con F, como ella la escribe, como ella la persigue sin resultado visible. Todos los aspectos aquí tenidos en cuenta, y los muchos orillados por resultar poco conocidos, configuran, en la proporción sumada de las partes, el mundo interior rico, real, vivo y activo de Renata Bomfim; artista y literata de nervio y carácter, persona infrecuente por la enorme distancia recorrida entre los puntos de partida y llegada. O Coração da Medusa es el resultado de todo lo anterior: leído, visto, imaginado, escrito, pintado, desarrollado, soñado, aprehendido. Es todo lo anterior, asimilado, rehecho y entregado a los demás con intención de mostrarse íntegra.
Pedro Sevylla de Juana
Villeneuve sur Lot, Aquitaine, France. Julio de 2015
Poemas de O coração da Medusa
Obra de Renata Bomfim
Tradução de Pedro Sevylla de Juana
_ Às Mulheres, Serpentes e Demais seres híbridos.
_ Aos macacos e vaga-lumes da RELUZ
_ Ao povo da Nicarágua: Admiração e carinho!
Sumário:
Préfacio de Pedro Sevylla de Juana: O coração da Medusa, Renata Bomfim e o Brasil
A) CANTO INICIÁTICO/ CANTO INICIÁTICO
1 Litania à serpente ou a nova gênese/ Letanía a la serpiente o la nueva génesis
1 O coração da Medusa / El corazón de Medusa
2 A neta de Mary Wollstonecraft/ La nieta de Mary Wollstonecraft
3 Sonhos estanques/ Sueños estancos
4 Os olhos da medusa/ Los ojos de Medusa
5 A noiva de Nicanor Parra/ La novia de Nicanor Parra
6 Viúva negra/ Viuda negra
7 O prazer de Salomé/ El placer de Salomé
8 A primeira traição/ La primera traición
B) QUEDA/ CAÍDA
9 Bífida/ Bífida
10 A beleza pode ser mortal/ La belleza puede ser mortal
11 O silêncio da Medusa/ El silencio de Medusa
12 Covil das palavras/ Madriguera de palabras
13 Vou falar da mulher/ Hablaré de la mujer
14 A víbora/ La víbora
15 O nascimento da guerra/ El nacimiento de la guerra
16 Melodia simples/ Melodía simple
17 Erosão/ Corrosión
18 A utopia do vazio/ La utopía del hueco
19 A ausencia é um deserto/ La ausencia es un desierto
C) ASCENÇÃO/ ASCENSIÓN
20 Cosmogonia/ Cosmogonía
21 Nudez incandescente/ Desnudez incandescente
22 Verás/ Verás
23 Face/ Rostro
24 Ritual Tupiniquim/ Ritual Tupiniquim
25 Mors/ Mors
26 Palavras/ Palabras
27 O filho/ El hijo
28 Teoria da incerteza/ Teoria de la duda
29 O meu poema/ Mi poema
D) OUTROS POEMAS
Nota da autora
30 Solares: poemas em dez atos/ Exaltación del Sol: poemas em diez actos
31 Atos (in)tencionais/ Actos (in)tencionales
32 Elogio da Sombra/ Elogio de la Sombra
33 Casulo/ Capullo
O Coração da Medusa
A) Canto iniciático
“rostro innumerable,
he olvidado tu nombre, Melusina,
Laura, Isabel, Perséfona, María,
Tienes todos los rostros y ninguno,
Eres todas las horas y ninguna,
Te pareces al árbol y la nube,
Eres todos los pájaros y un astro,
Te pareces al filo de la espada
Y la copa de sangre del verdugo”
(Octávio Paz/ Piedra del sol)
Letania à serpente ou a nova gênese Às mulheres desse novo mundo
O mundo,
Nave? Claustro? Túmulo?
Espaço vazio e nulo,
esteriliza pelo horror, o absurdo.
Vejo as minhas faces
refletidas no espelho de um lago:
Sedutores demônios, súcubos,
Criadores de sortilégios, ― Lilith ―
(desejo, sangue, húmus):
Encantamento do Todo,
Alfa, Ômega,
chegadas, despedidas:
Tudo! tudo! tudo!
Benditas trevas, benditas!
Matéria escura feminina
que preenche e une versos.
O meu corpo, amigo da lua,
forjou um novo gênese,
imaginou novas formas, cores, sons,
Entoou letanias,
pediu à serpente que protegesse Caim.
A queda tornou-se motivo de glória!
―Livra-nos, Senhora,
da luz que cega e separa
por cor, sexo, raça…
Da luz produtora
de putas, santas, freiras e fadas.
Mãe das artes serpentinas,
do prazer e da epifania, ― Kundaline―
Alberga no teu útero sedoso
as tecelãs, as sonhadoras,
as virgens invioladas:
Penélope, Medeia, Salomé,
Cleópatra, Florbela e Renata.
A nova Eva, desbocada e louca,
traz no céu da boca o mel, o fel,
o canto que revive,
o beijo que embriaga,
o feitiço que paralisa,
o veneno que mata…
Traz, no abissal,
(gruta quente e úmida)
o indizível, a pequena morte,
a vida transfigurada.
Estou aqui,
mulher e múltipla!
Exijo o que, pelo desejo,
me pertence:
(Esse e aquele)
O homem, a criança, a mulher,
o bicho, a planta, a mata,
a pedra, o ar, a água, o espírito,
desamparados e indigentes.
Preciso repovoar o mundo,
dar novos nomes a tudo e,
para Eros, missão precisa:
flechar a si mesmo!
Letanía a la serpiente o la nueva génesis A las mujeres de este nuevo mundo
El mundo,
Templo? Claustro? Sepulcro?
Espacio vacío e inservible,
esteriliza por el horror, el absurdo.
Veo mis mejillas
reflejadas en el espejo de un lago:
Seductores demonios, súcubos,
Inventores de sortilegios, ― Lilith―
(deseo, sangre, humus):
Encantamiento General,
Alfa, Omega,
llegadas, despedidas:
¡la integridad! ¡la esencia! ¡todo lo existente!
¡Benditas tinieblas, benditas!
Materia oscura femenina
que completa y une versos.
Mi cuerpo, amigo de la luna,
forjó un nuevo origen,
imaginó nuevas formas, colores, sonidos,
Entonó palabreos,
pidió a la serpiente que protegiera a Caín.
¡El tropiezo fue motivo de gloria!
―Líbranos, Señora,
de la luz que ciega y separa
por color, sexo, raza…
De la luz promotora
de prostitutas, santas, monjas y hadas.
Madre de las artes serpentinas,
del placer y de la epifanía, ― Kundaline―
Protege en tu útero suave
a tejedoras, soñadoras,
vírgenes intactas:
Penélope, Medea, Salomé,
Cleópatra, Florbela y Renata.
La nueva Eva, desbocada y loca,
trae en el cielo de la boca la miel, la hiel,
el canto que resucita,
el beso que embriaga,
el hechizo que paraliza,
el veneno que mata…
Trae, en lo insondable,
(cueva cálida y húmeda)
lo inefable, la pequeña muerte,
la vida transfigurada.
Estoy aquí,
mujer y múltiple!
Exijo lo que, por deseo,
me corresponde:
(Este y aquel)
El hombre, el niño, la mujer,
el animal, la planta, el bosque,
la piedra, el aire, el agua, el espíritu,
desprotegidos e indigentes.
Necesito repoblar el mundo,
nombrar todo de nuevo y,
para Eros, la misión indispensable
de seducirse a sí mismo.
O coração da Medusa
O coração da Medusa,
(forjado na lava,
cheio de fúria)
ama aquele que a busca.
A diva serpentina
oferece
ao macho que penetra
na senda úmida e obtusa,
(caverna iniciática):
sedução, prazer, e gozo.
Até o momento fatal
da mirada suave e íntima,
o tempo para. A virgem
quebra o silêncio sepulcral,
chocalha o guizo,
mas, ninguém testemunha
o milagre dos milagres:
A volúpia eternizada
numa estátua de carrara.
El corazón de Medusa
El corazón de Medusa,
(forjado en lava, henchido de furia)
ama a quien pretende descifrarla.
La diosa, serpientes sus cabellos, ofrece
al macho que penetra
en la senda húmeda y angosta,
(caverna iniciática):
seducción, placer, y éxtasis.
Hasta el momento fatal
de la mirada dulce y profunda,
el tiempo se detiene. La virgen
rompe el silencio sepulcral,
agita el cascabel,
pero, nadie certifica
el milagro de los milagros:
La voluptuosidad eternizada
vive en una estatua esculpida
en mármol de carrara.
A neta de Mary Wollstonecraft
Herdei de minha avó
O gosto por homens instáveis e
A fibra de quem não tem nada a perder.
Lembro-me ainda dos seus olhos
Profundos e suicidas,
De como ela gostava de se sentir asfixiada
Pelo trabalho e por coisas dolorosas…
Quanto prazer lhe dava mergulhar os dedos
No abismo do tinteiro, para depois
Macular as folhas sedosas e carentes de papel…
Mulher de corte e de cais…
A sua pena traçou a minha sina.
As bancas das esquinas, hoje, vendem exemplares
Do seu livro de miséria e solidão
(A preços populares).
Ah! se minha avó me visse agora,
Quanto orgulho teria da sua linhagem :
Mulheres mais rotas que alinhavadas
Condenadas a nunca se juntar,
Irremediavelmente cindidas e secas,
E orgulhosas, como bestas que pastam
Em terrenos baldios.
La nieta de Mary Wollstonecraft
Heredé de mi abuela
El gusto por los hombres inestables y
El nervio de quien no tiene nada que perder.
Me acuerdo aún de sus ojos
Profundos, de suicida;
De cómo le gustaba sentirse sofocada
Por el trabajo y los aspectos dolorosos…
Cuánto placer le daba sumergir los dedos
En el abismo del tintero, para después
Ensuciar las suaves hojas de papel en blanco…
Mujer de corte y embarcadero…
Su pena trazó mi destino.
Los puestos de las esquinas, hoy, venden ejemplares
De su libro de miseria y soledad
(A precios populares).
¡Ah! Si mi abuela me viera ahora,
Cuánto orgullo sentiría de su linaje:
Mujeres más rotas que hilvanadas
Condenadas a estar separadas,
Irremediablemente divididas y secas,
Y orgullosas, como bestias que pastan
En terrenos baldíos.
Sonhos estanques
Antes dos golpes,
A mão sedosa.
Antes do sangue,
A saliva quente e doce.
Antes do açoite,
A carícia da palavra.
Antes de mim
Outras mulheres.
Meu rosto ressecado,
Golpeado pela brisa
Marinha,
Meu rosto é
Uma folha rasurada.
Sueños estancos
Antes de los golpes,
La mano fue de seda.
Antes de la sangre,
La saliva era caliente y dulce.
Antes del flagelo,
Hubo caricias en la palabra.
Antes de mí
Otras mujeres.
Mi rostro reseco,
Herido por la brisa
Marina,
Mi rostro es
Un pétalo rayado.
Os olhos da Medusa
Os olhos da Medusa
não são maus, mas,
De desejo sobre a coisa
Admirada, querida.
Tentativa desesperada de
Deter a ação corrosiva do tempo,
Perpetuar a beleza.
As serpentes bailam desvairadas
sobre a cabeça. São as cordas
da lira desafinada dessa Musa
Desterrada, estranha e triste,
Que só quer uma coisa na vida:
Ser amada.
Lisboa, 31 de outubro de 2013
Los ojos de Medusa
Los ojos de Medusa
no son culpables, más allá,
De su deseo del objeto
Admirado, querido.
Intento desesperado de
Interrumpir la acción corrosiva del tiempo,
Y perpetuar la hermosura.
Las serpientes danzan exaltadas
sobre la cabeza. Son las cuerdas
de la lira desafinada de esa Musa
Desterrada, desconocida y triste,
Que únicamente pide una cosa a la vida:
Ser amada.
Lisboa, 31 de octubre de 2013
A noiva de Nicanor Parra Dedicado ao grande antipoeta chileno
Olha-me com ternura.
É tempo de estiagem,
De secura e de dor.
Já não posso sonhar,
Já não posso cantar,
As histórias perdem o sentido,
Meu coração está ressequido,
Olha-me com ternura.
Minhas mãos tocaram
(em sonho), as cordilheiras,
como se elas fossem um brinquedo divino,
Eu, uma menina de sorrisos e tranças…
− Nunca poderão reproduzir tamanha beleza!
− Jamais alcançarão os mistérios das pedras.
Escutei as rochas solitárias,
Conheço a linhagem dessas pedras milenares.
Escalei as paredes mais elevadas, em busca
de mim mesma.
As mãos revelam essa intimidade granítica.
Olha-me com ternura.
Escuta a voz que vem das grutas,
Ecos de nossa humanidade perdida.
Lamento pela morte dos deuses,
Clamor que faz tremer a terra.
Rega com amor a matriz do poema,
Recria a mitologia (ao avesso),
Reproduz uma canção inédita,
Somente tu, poeta, pode fazê-lo.
Olha-me com ternura.
Eu, a mais infértil das mulheres,
Em busca de redenção, de afeto,
Ansiando renascimento.
Desposa essa criatura capaz de gerar,
apenas, utopias e alvoradas.
La prometida de Nicanor Parra Dedicado al gran antipoeta chileno
Mírame tiernamente.
Es tiempo de retirada,
De sequía y sufrimiento.
Ya no puedo soñar,
Ya no puedo cantar,
Las historias pierden su significado,
Mi corazón está marchito,
Mírame con cariño.
Mis manos tocaron
(en sueños), las cordilleras,
como si las montañas fueran juguete de dioses,
Yo, una niña de sonrisas y trenzas…
–Nunca podrán reproducir tan Notable belleza!
–Jamás comprenderán los misterios de los minerales.
Presté oíos a las abandonadas rocas,
Conozco la genealogía de estas piedras milenarias
Remonté los muros más elevados, buscándome
a mí misma.
Las manos muestran esa aproximación granítica.
Obsérvame con dulzura.
Presta atención a la voz procedente de las cuevas,
Ecos de nuestra humanidad olvidada.
Lamentos por la caída de los dioses,
Clamor que estremece la tierra.
Estimula amoroso la fuente del poema,
Recrea (al revés) la mitología,
Reproduce una canción inédita,
Solamente tú, poeta, eres capaz de hacerlo.
Trátame con ternura.
A mí, la más infecunda de las hembras,
Perseguidora de salvación, estima, amor,
Deseando ardientemente renacer.
Desposa a esta criatura capaz de concebir,
algo más que, amaneceres y utopías.
Viúva Negra
Eu vou te rogar uma praga
te envenenar
matar a sua samambaia.
Vou te ferrar! Aferroar
como fazem os escorpiões aos sapos
quando querem atravessar
rios e lagos
sem pagar pedágio.
Quero ver o seu sangue correr e escorrer,
vermelho como os prados
e os desertos mais secos,
onde açoitam ventos amargos e
moram as feras que amo e desejo.
Assim será o nosso idílio:
fadado à dor, à melancolia
e ao dissabor de um amanhã
que morre todo dia
antes mesmo de nascer.
Assim será, também,
que festejaremos
a ironia do tempo vivido e
a ânsia sei lá do quê.
A morte será o beijo fresco
com o qual nos despediremos.
Viuda Negra
Suplicaré que caiga sobre ti una plaga
voy a envenenarte
y a secar tu samambaia.
¡Voy a herrarte! A clavarte el aguijón
como los escorpiones a los sapos
cuando tratan de atravesar
ríos y lagos
sin pagar peaje.
Quiero ver tu sangre correr y rebosar,
rojiza como los prados
y los desiertos resecos,
donde azotan vientos ásperos y
habitan las fieras que amo y deseo.
Así será nuestro idilio:
destinado al dolor, a la melancolía
y al sinsabor de un mañana
que muere cada día
antes de haber nacido.
De ese modo, también,
celebraremos
la ironía del tiempo vivido
y el ansia de quien sabe qué.
La muerte será el gélido beso
de nuestra despedida.
O prazer de Salomé
A pureza, que coisa mais obscena!
Depois de dançar
Ao som da lira negra,
A réptil inviolada
Fez amor pela primeira vez.
Seu corpo era todo um jardim
Recém – nascido da paleta de Moreau.
Dos seus seios fatais brotavam
Safiras, ágatas, pérolas e rubis.
Salomé trazia no sangue a fúria
De Herodíade,
E a morte nos olhos de prata.
Naquela noite
Feita de angústias estéreis
(e solitárias),
Dois homens perderam
A cabeça.
El placer de Salomé
La pureza, que virtud más obscena!
Tras bailar
Al son de la lira negra,
La inmaculada reptil
Hizo el amor por vez primera.
Todo su cuerpo era un jardín
Recién surgido de la paleta de Moreau.
De sus senos fatales brotaban
Zafiros, ágatas, perlas y rubíes.
Salomé llevaba en la sangre la furia
De Herodías,
Y la muerte dentro de los ojos plateados.
En aquella noche
Compuesta de angustias yermas
(y solitarias),
Dos hombres perdieron
La cabeza.
A primeira traição
E Deus criou a serpente,
linda,
sábia,
flexível:
polarizada como o amor.
No paraíso,
rastejava entre ágatas e citrinos,
sondava o coração das árvores,
questionando falsos juízos.
Amiga da mulher.
Enrolava-se no pescoço da fêmea,
ali dormia sossegada.
O ciúme foi a primeira traição.
La primera traición
Y Dios creó la serpiente,
hermosa,
sabia,
cimbreante:
polarizada como el amor.
En el paraíso,
rastreaba entre ágatas y cítricos,
sondeaba el corazón de los árboles,
poniendo en duda juicios engañosos.
Amiga de la mujer.
Se abrazaba al cuello de la hembra,
allí dormía sosegada.
Los celos fueron la perfidia inicial.
B) Queda
“Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza”.
(Hilda Hilst/ Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor)
“Te descubres vivo bajo nuevas reglas.
Te ordenas. Y yo evanescida: amor, amor,
Antes del muro, antes de la tierra, debo
Debo gritar mi palabra, una encantada
Ilharga
En la cálida textura de un roquedo. Debo gritar
Digo para mí misma. Pero a tu lado me extiendo
Inmensa. De púrpura. De plata. De delicadeza”.
(Hilda Hilst/ Prelúdios-intensos para los
olvidadizos del amor)
Bífida
A minha língua
Aponta direções opostas.
Sangra querendo
Explicar o mundo
Ser o dizer do mudo,
do bicho,
da planta,
A minha língua quer tudo!
Ânsia?
Ao reencontrar na poesia
O elo perdido
Quer religar com firmeza
Tudo o que se rompeu
Até mesmo eu sou tramada.
Quanta utopia,
Que loucura santa:
Desembaraçar os fios do passado
Lançando sobre o futuro uma rede
De esperança e,
Sobre o presente, luzes.
Eu sou toda língua e olhos.
Queria tanto ter olhos inaugurais,
Ser a mulher que canta e dança,
Esquecer que Orfeu desceu aos infernos;
Que Circe ficou só, sem o seu Ulisses;
Que Dante nunca tocará Beatriz;
Que vamos todos morrer!
Ah! se não houvesse injustiça…
Eu poderia ser feliz como o animal que
Extrai da vida o melhor.
Vamos escutar, no silêncio, a melodia essencial?
Cada espaço estaria prenhe de possibilidades.
Ah! se eu pudesse exorcizar a saudade
Legitimar a alegria…
Conquistar contentamento nas coisas simples
Mas não posso quase nada!
Apenas construir castelos com palavras,
fazer torres, bosques, dragões, estradas…
Fantasiar, brincar com os contos de fadas.
Se as palavras são a minha única posse,
Farei com elas o que ninguém mais pode:
Milagres.
Prometo: farei de tudo para que a morte
Não nos assombre!
Não busque a felicidade.
Sejamos alegres neste instante,
Antes que as luzes se apaguem,
Antes que o dia amanheça, e o som
Dos nossos sonhos se calem.
Sejamos felizes (por acidente) agora!
Ostras gerando pérolas espetaculares
Experimentando as delícias da dor,
Gozando, fóbicos, de medo.
Não seria isso
AMOR?
Bífida
Mi lengua
Señala direcciones opuestas.
Se desangra deseando
Explicar el mundo
Ser la voz de quien no la tiene,
del animal,
de la planta,
¡Mi lengua pretende todo!
¿Ansiedad?
Al reencontrar en la poesía
El eslabón perdido
Quiere reunir para siempre
Todo lo que se fragmentó
Incluso yo estoy entrelazada.
Qué riqueza de utopía,
Qué locura más santa:
Desenredar los hilos del pasado
Lanzando sobre el futuro una red
De esperanza y,
Sobre el presente, luz.
Toda yo soy lengua y ojos.
Deseaba tanto tener una mirada inaugural,
Ser la mujer que canta y baila,
Olvidar que Orfeo descendió a los infiernos;
Que Circe quedó desolada, sin su Ulises;
Que Dante nunca poseerá a Beatriz;
Que vamos a morir todos sin remedio!
Ah! si no hubiera injusticia…
Yo podría ser feliz como el animal que
Extrae de la vida lo mejor.
Vamos a escuchar, en el silencio, la melodía esencial?
Cada interrupción estaría cuajada de posibilidades.
Ah! si yo pudiera conjurar la añoranza
Legitimar la alegría…
Hallar satisfacción en las cosas simples
Pero todo mi poder no alcanza!
Únicamente levantar castillos con palabras,
materializar torres, bosques, dragones, carreteras…
Fantasear, pasarlo bien con los cuentos de hadas.
Si las palabras son mi única fortuna,
Haré con ellas lo que nadie puede hacer:
Milagros.
Lo prometo: me esforzaré lo imposible para
que la muerte
No nos sorprenda!
No busque la felicidad.
Alegrémonos ahora mismo,
Antes de que las luces se apaguen,
Antes de que el día amanezca, y los sonidos
De nuestros sueños callen.
Seamos felices (por casualidad) ahora!
Ostras originando perlas fastuosas
Experimentando las delicias del dolor,
Gozando, fóbicos, del miedo.
¿No podría llamarse a eso
AMOR?
A beleza pode ser mortal / Para José Augusto Carvalho
A beleza pode ser mortal!
Vê a Rosa:
Vermelha e incômoda.
Ela te olha assustada,
É como se a correnteza, louca,
Quisesse arrastá-la para o mar.
É uma Rosa, apenas uma Rosa.
Desatinada e com os dias contados.
Pétala por pétala vivendo o drama
De guardar o perfume mais desejável.
A beleza é um castigo!
Ninguém pode ser a Rosa,
Além dela mesma. É por isso que
A colocamos em um vaso sobre a mesa,
Nos deleitamos ao vê-la morrer,
E nem percebemos que
Morremos junto com ela.
La belleza puede ser mortal / Para José Augusto Carvalho
La belleza llega a ser mortal!
Observa la Rosa:
Roja y confusa.
Te mira temerosa,
Es como si la corriente, enloquecida,
Quisiera arrastrarla hacia el mar.
Es una Rosa, tan solo una Rosa.
Perturbada y con los días contados.
Pétalo a pétalo viviendo la tragedia
De preservar el perfume más deseable.
La belleza es una condena!
Nadie puede ser la Rosa,
Más allá de ella misma. Por esa razón
La colocamos en un búcaro sobre la mesa,
Nos deleitamos durante su agonía,
Sin darnos cuenta de que
Morimos con ella.
O silêncio da Medusa
A pedra retribui o carinho
do olhar.
Os lábios fixos ocultam
um jogo erótico.
Medusa sorri.
A dureza dissimulada
do homem de carrara,
denuncia o gozo contido,
de um coração que pulsa
apenas na intenção.
O organismo complexo e fértil
torna-se acessível:
heras brotam de suas narinas.
O jardim da caluniada Medusa
Guarda exemplares singulares:
seu tesouro! seu orgulho!
Machos exemplares,
rijos como o amor
que lhe dedicam.
Incompreendida, só,
mal vista e mal dita,
Medusa guarda silêncio,
já não necessita das palavras:
A pedra é consolo e guarita.
El silencio de Medusa
La piedra recompensa el cariño
de la mirada.
Los labios impávidos ocultan
un juego erótico.
Medusa sonríe.
La dureza encubierta
del hombre de carrara,
denuncia el deleite contenido,
de un corazón que late
solo con la intención.
El organismo diverso y fecundo
se torna accesible:
hiedras brotan de sus ventanas nasales.
El jardín de la difamada Medusa
custodia
ejemplares únicos:
¡su tesoro! ¡su orgullo!
Arquetipos de machos,
tenaces como el amor
que le consagran.
Incomprendida, solitaria,
Despreciada y maldecida,
Medusa guarda silencio,
ya no necesita las palabras:
La piedra es consuelo y refugio
Covil das palavras
Não se engane:
Eu sou uma serpente,
Vou morder o seu pé.
Não salvarão antídotos
Nem mesmo as botas protegerão.
Eu sou aquela que,
De repente, aparece,
Desenhando arabescos,
Pelo ar, pelo chão…
Embalando os seus dias
(De solidão),
Com o tilintar do meu guizo.
A volúpia, santa expressão
Do amor que sinto, rasteja…
Ela é uma parente próxima.
Ofegantes, nos amamos,
Mas não se engane:
sou uma cobra.
Não espere o Paraíso,
Veja e sinta a beleza da queda
Afinal, a beleza bruta sempre traz
Em si algum desgosto.
Madriguera de palabras
No se equivoque:
soy una serpiente,
le morderé un pie.
No le salvará el antídoto
ni le protegerán las botas.
Soy aquella que,
sin aviso, aparece,
dibujando arabescos,
en el aire, en el suelo…
meciendo sus días
(de soledad),
con el tintineo de mi cascabel.
La voluptuosidad, expresión santa
del amor que siento, rastrea…
es pariente cercana.
Nos poseemos, vehementes,
pero desengáñese:
soy una cobra.
No espere el Paraíso,
disfrute el dulzor de la caída
al fin y al cabo, la belleza irracional
esconde siempre
en su interior algún disgusto.
Vou falar da mulher
vou falar da mulher
que seus olhos não podem ver,
da mulher ao avesso
com órgãos encapados de lilases.
Mulher coração de sinfonia
magoado,
traído pela ilusões,
encerrado numa caixa de papelão.
O avesso é uma grande bazar
onde as partes, à venda,
são o barato do barato:
epifania da liquidação.
Vou falada da mulher que sou,
coisa estranha que não se entende
coisa, coisa, coisa que capta
o soluço de uma borboleta.
Por que me foi permitido enxergar o futuro?
Por que ouço as entranhas do planeta?
Por que as árvores estendem os galhos
para que eu as salve de mim mesma?
Essa humanidade que me assombra,
esse avesso do avesso, do avesso desbotado,
essa sou eu, leitor, a mulher, uma mulher,
mulher… células organizadas para a batalha
pela vida, canto errante, canto errado,
desafinada hasta la muerte.
Te amo! Sussurro…
Te amo!
mas o homem não tem ouvidos.
Tenho sede! imploro água nas casas, peço abrigo
nas cidades, estendo as mãos vazias e… nada:
Não há boca, nem rins, ou casas nas cidades fantasma.
Te amo! gritam meus rins,
Te amo! a epiderme se estende para que passem
todos os arrepios, os soluços…
vou fala da mulher
que não sou.
Hablaré de la mujer
hablaré de la mujer
que no aparece a la vista,
de la mujer del reverso
con órganos cubiertos de lilas.
Mujer de corazón armónico,
pesaroso,
traicionado por las ilusiones,
recluido en una caja de cartón.
El reverso es un gran bazar
donde las piezas en venta,
son las rebajas de lo rebajado:
solemnidad de la liquidación.
Voy a hablar de la mujer que soy,
ente extraño ininteligible,
cosa, objeto, chisme que capta
el suspiro de una mariposa.
¿Por qué me fue permitido entrever el futuro?
¿Por qué siento las entrañas del planeta?
¿Por qué los árboles extienden las ramas
para que yo las proteja de mí misma?
Esa humanidad que me asombra,
ese reverso del reverso, del reverso deslucido,
esa soy yo, lector, la mujer, una mujer,
hembra… células organizadas para la batalla
por la vida, cántico errante, cántico erróneo,
desafinada hasta la muerte.
¡Te amo! Susurro…
¡Te amo!
pero el hombre no tiene oídos.
¡Tengo sed! imploro agua en las casas, pido abrigo
en las ciudades, extiendo las manos vacías y… nada:
No hay boca, ni riñones, o casas en las ciudades fantasma.
¡Te amo! gritan mis riñones,
¡Te amo! la epidermis se extiende para que pasen
todos los escalofríos, los suspiros…
voy a referirme a la mujer
que no soy.
A víbora
A víbora que fez Eurídice dormir
ronda a minha cama,
Se acerca em arabescos
Aguardando o momento
do bote preciso, perfeito.
No instante apoteótico
Do sonho,
Ela crava os dentes
no meu seio.
Nem Cleópatra experimentou
tamanha delícia.
La víbora
La víbora que durmió a Eurídice
ronda mi lecho,
Se acerca formando filigranas
Acechando el momento
idóneo del ataque preciso, magistral.
En la apoteosis final
Del sueño,
la víbora clava los colmillos
en mi seno.
Ni Cleopatra saboreó
tanta voluptuosidad.
O nascimento da guerra Ao poeta Ricardo Llopesa
Era noite.
A mulher nutria
descompassadas aspirações:
o amor de um deus!
Enfeitou-se de nudez,
(a mais poderosa das armas)
pôs nos lábios um sorriso lisonjeiro,
deito-se na cama púrpura.
Os cabelos negros estendidos
completavam o rito bélico,
invocação fatal.
O deus surgiu entre raios, trovões,
labaredas azuis… Pássaro celeste
de brancura indizível.
Ofuscada, Leda entregou-se
aos matizes do desejo,
Foi fertilizada pela ave sagrada.
Gerou filhos e filhas.
Foi assim que a linhagem pacífica de Esparta,
inclinou-se para a conquista e a guerra.
El nacimiento de la guerra Al poeta Ricardo Llopesa
Era de noche.
La mujer nutría
su deseo desmedido:
el amor de un dios!
Se vistió de atractiva desnudez,
(el arma más poderosa)
frunció los labios en sonrisa zalamera,
se acostó sobre el tálamo púrpura.
Los cabellos negros desplegados
completaban el esplendor bélico,
invocación ineluctable.
El dios surgió entre rayos, truenos,
fogonazos de fuego azul… Pájaro celeste
de inefable albura.
Deslumbrada, Leda se entregó
a las múltiples tonalidades del deseo,
y el ave sacra la fertilizó.
Hijos e hijas le nacieron.
Y así fue cono el linaje pacífico de Esparta,
se inclinó a la conquista y a la guerra.
Erosão
Algo ruiu
Há um buraco no meu peito,
uma cratera.
Erosão em movimento,
parece que não tem jeito,
parece que não tem cura,
esse isso que me assombra,
essa poesia arrancada da pedra,
verbos e palavras em desalinho.
Fome de amor, de saber, fome
sei lá de que… Sou toda boca!
Ânsia de poupar a carne,
de evitar sofrimentos,
enquanto um cutelo corta
meus membros.
Chega de teorias,
Quero relembrar a unidade,
quero ser uma só coisa e
não o ser, ainda.
Ser e estar em trânsito, de passagem,
curtir o exílio e as despedidas.
Ser a criança que aprende a andar
e olha para o mundo ao redor espantada.
As inquietações que abalam as certezas
são pedras soltas pelo caminho,
são setas pontiagudas e certeiras,
e eu preciso de todas elas cravadas
no recôndito do meu esburacado peito.
Guardarei saudades dos terremotos
que fizeram os dias parecerem noites sem fim.
Amo tudo isso!
Preciso de tudo isso para não esquecer
o fez de mim quem sou,
para eu não morrer antes do tempo.
Frente aos escombros de mim mesma,
ao pouco que ficou inteiro,
contabilizando o que, de mim, sobrou,
decido reconstruir.
Decido juntar, reunir, agregar e, para tal,
acolho este vazio-peitoral, autoral,
existencial, tal e coisa, o sem fim, o nada…
Inflo com ar os pulmões e, surpresa,
Brotam heras nas áreas degradadas.
Corrosión
Algo se despeñó
Abriendo un agujero en mi pecho
un cráter.
Erosión en movimiento,
parece que no se identifica
ni tiene cura
ese principio que me asombra,
ese poema arrancado de la piedra
verbos y palabras en desorden.
Hambre de amor, de conocimiento, hambre
qué sé yo de qué… Soy una boca enorme!
Ansia de preservar la carne
de evitar sufrimientos
mientras un cuchillo cercena
mis miembros.
Censura de teorías,
Quiero recuperar la unidad
quiero ser una sola cosa y
no el ser, aún.
Ser y estar en tránsito, de paso
preparar el exilio y las despedidas.
Ser el infante que aprende a andar
y mira el mundo a su alrededor con espanto.
Las inquietudes que sacuden evidencias
son piedras desprendidas del camino,
son flechas puntiagudas y certeras,
y yo necesito a todas ellas enterradas
en lo más recóndito de mi agujereado pecho.
Acumularé nostalgia de los terremotos
que hicieron de los días noches sin fin.
Amo todo eso!
Necesito todo eso para no olvidar
lo que hizo de mí quién soy,
para no morir antes de tiempo.
Frente a los escombros de mí misma,
y de lo poco que quedó entero,
Contabilizando lo que, de mí, sobró,
decido reconstruir.
Resuelvo juntar, reunir, agregar y, para ese menester,
acepto este hueco-pectoral, autoral,
existencial, etcétera, lo inacabable, la nada…
Inflamo con aire los pulmones y, sorpresa,
brotan hiedras en los espacios envilecidos.
A utopia do vazio
A plenitude é o vazio,
condição de oco capaz
de gerar impensáveis.
O vazio é uma estrela
solitária e vibrante
sugada para o nada:
a plenitude do vazio.
A forma é a utopia
do vazio, oco desejado,
delírio da plenitude.
As metamorfoses acontecem
dentro do caroço de feijão,
dentro da semente mais miúda,
dentro do meu coração.
As metamorfoses não dependem
do desejo da mente.
Nada a aprender,
nada a ensinar,
apenas o vazio, a imensidão,
o sem fim.
Nada a temer, nada de segredos
e nem de mentiras,
apenas o oco imemorial.
Nada a esquecer ou a lembrar,
nada de desculpas e nem de saudades.
Todo o caminho se desfez,
a matéria se confortou de vez
no seio de uma matriz sem nome.
O tempo foi desinventado:
Tudo é o que é.
La utopía del hueco
La plenitud es el vacío,
cualidad del vano capaz
de generar inimaginables.
El vacío es una estrella
sola y vibrante
absorbida por la nada:
plenitud del vacío.
La forma es la Utopía
del hueco, vacío deseado,
delirio de plenitud.
Las metamorfosis se originan
en el interior más íntimo de la alubia,
de la semilla mínima,
dentro de mi corazón.
Las metamorfosis son independientes
de lo que la mente pretenda.
No hay nada que aprender,
nada que enseñar,
solo el vacío, la inmensidad,
el infinito.
Ningún temor, nada de secretos
ni de mentiras
solo el hueco inmemorial.
Nada que olvidar o recordar,
ni excusas ni añoranzas.
El camino entero se desanda,
la materia se reanimó definitivamente
en el seno de una matriz innominada.
El tiempo fue desimaginado:
Todo es lo que es.
A ausência é um deserto
Ronda a minha memória,
O seu vulto é miragem
Na casa deserta.
A ausência é um deserto
povoado por fantasmas!
La ausencia es un desierto
Patrulla mi memoria,
Su cuerpo es espejismo
En la casa vacía.
La ausencia es despoblado
habitado por espectros!
C) Ascensão
“Seres esencialmente cósmicos:
No podemos excluir a la tierra de la eternidade”.
(Ernesto Cardenal/ Canto Cósmico)
Cosmogonia
Envolvimento gerou Cuidado,
Cuidado gerou Beleza.
Beleza deu à luz ao Contentamento,
Fez felizes os homens,
Satisfez o Tempo.
À passos desacelerados,
Em plena luz do dia, Volúpia
Seduziu o Momento,
Nasceram, então, Instante e Epifania.
A Terra girou descompassada,
Acompanhando melodia inaudita,
A existência adquiriu novo sentido,
A alma do mundo descansou,
Sob os olhos azuis de Cuidado.
Uma flor chamada Vida desabrochou
No coração do mundo.
Cosmogonía
Compromiso engendró a Cuidado,
Cuidado engendró a Belleza.
Belleza dio a la luz a Satisfacción,
Que hizo felices a los hombres,
Y complació a Tiempo.
A pasos desacelerados,
A plena luz del día, Voluptuosidad
Sedujo a Momento,
Nacieron, entonces, Instante y Epifanía.
La Tierra giró sin cadencia,
Acompañando a melodía inusitada,
La existencia adquirió nuevo sentido,
El alma del mundo descansó,
Bajo los ojos azules de Desvelo.
Una flor llamada Vida desabotonó
En el corazón del Universo
Nudez incandescente
O corpo deseja a totalidade,
quer revelar o íntimo da intimidade,
compartilhar carne e essência,
Entregar-se para além dos poros e dos
abismos.
Beije cada átomo que me compõe,
partículas do que sou, resquícios
de tempos imemoriais.
Ame a diminuta flor, a gota d’água
que poderei ser um dia.
Minha nudez é incandescente:
Crosta rompida,
terra vibrante explodindo,
derramamento amoroso
que segue misterioso curso,
destruindo e recriando.
Desnudez incandescente
Mi cuerpo desea el todo,
quiere descubrir lo más profundo de la intimidad,
compartir carne y esencia,
Entregarse más allá de los poros y de las hondonadas.
Ama, besa, cada átomo que me da forma,
partículas de quien soy, vestigios
de tiempos inmemoriales.
Besa, ama la diminuta flor, la gota de agua
que llegaré a ser un día.
Mi cuerpo desnudo alcanza la incandescencia:
membrana desgarrada,
tierra en explosión vibrante,
derrame amoroso
que sigue misteriosos cauces,
devastando, volviendo a crear.
Melodia simples
Para aqueles que guardam o coração numa caixa de ouro forrada com veludo cor de vinho, trinca de madrepérola, pés de madeira e chave de poeira e para o Luiz.
Eis o teu poema
de sangue, de carne, de fendas.
Apanha do chão as letras cuspidas,
passa-as nos olhos,
enxerga!
O dia raiou diferente,
um novo tempo para gente
se remendar, misturar,
fugir das coisas ensimesmadas.
Sente o sol, sente
a vibração dessa força:
nós somos o sol!
Encarna a melodia simples,
sinta emoção com a nuvem que passa,
delira com o canto da passarada,
o asfalto queima, meu amor,
queima como a morte!
Atenta que, depois dessa canção ligeira,
da dança do sentir silencioso,
do beijo, do gozo,
quando nossos corpos
brincam e brindam,
a vida que se despede em alto estilo,
acenando com mais uma estrela,
gritando SIM e nos sugando…
Você não está dentro,
Está na superfície!
Está solto, solto, sem teto!
Acorda, querido, estamos viajando,
vulneráveis, temerários…
Esse montinho de tijolos não é
o seu lar!
Eu sou o seu lar:
VOEMOS JUNTOS!
Melodía simple
Para quienes guardan el corazón en una caja de oro forrada con terciopelo color de vino, cierre de madreperla, pie de madera y llave de polvo; y para Luiz.
He ahí tu poema
de sangre, de carne, de fisuras.
Recoge del suelo las letras escupidas,
ponlas en los ojos,
entérate!
El día brilló de otra manera,
Un tiempo nuevo para que las personas
puedan organizarse, mezclarse,
escapar del ensimismamiento.
Siente el sol, siente
la agitación de esa fuerza:
somos el sol!
¡Personifica la melodía simple,
emociónate con la nube que pasa,
enloquece con el gorjeo de la bandada,
el asfalto arde, mi amor,
quema como la muerte!
Atiende porque, tras la canción ligera,
de esa baila del sentimiento callado,
del beso, del gozo,
cuando nuestros cuerpos
se divierten y brindan,
la vida se despide por todo lo alto,
parpadeando como una estrella más,
gritando SÍ y sorbiéndonos…
No estás dentro,
¡Estás en la superficie!
¡Estás suelto, libre, sin techo!
Despierta, querido, estamos viajando,
vulnerables, temerarios…
Ese montón de ladrillos no es
tu hogar!
Yo soy tu hogar:
VOLEMOS JUNTOS!
Verás
Verás que sou
Perfeita na imperfeição.
Bato à tua porta,
Sondo as tuas profundezas
ressalvando, ressonando, re, re…
Verás que o oco que nos assombra,
Esse sem fundo infinito,
Ansiedade sem nome,
É o germe da nossa potência,
O ouro da nossa coroa,
Estro que nos une,
Passaporte da nossa condição:
Dignidade plena.
Verás
Verás que he llegado a ser
Perfecta en la imperfección.
Llamo a tu puerta,
Exploro tus profundidades
revalidando, resonando, re, re…
Comprenderás que esta sima asombrosa,
Esta profundidad infinita,
Ansiedad innombrable,
Es el germen de nuestra fortaleza,
El oro de nuestro esplendor,
La inspiración vehemente que nos unifica,
El salvoconducto de nuestro carácter:
Grandeza plena.
Face
busquei a minha face no espelho,
não encontrei a velha amiga
das entradas, bandeiras,
indignações e rompantes,
não vi nenhum homem refletido,
nem flores eu vi.
ali estava, revelada, a imagem
novíssima,
que sempre esteve diante de mim
Rostro
busqué mi rostro en el espejo,
no hallé a la vieja amiga
de las entradas, banderas,
arrebatos y desplantes,
no había ningún hombre reflejado,
ni flores vi.
allí estaba, manifiesta, la flamante
imagen
que estuvo ante mí siempre
Ritual tupiniquim
A praia recebe do mar
Homens errantes e exaustos.
Recolhidos pelas guerreiras,
Os corações são postos ao sol para secar.
Enquanto elas cantam e dançam,
eles cintilam, pulsam, ardem,
sentem desejo. As carnes quentes
encontram peitos receptivos,
se abrigam e brotam…
a coisa germinada vira gente.
Ritual Tupiniquim
Los valientes arriban exhaustos a la playa
empujados por las insistentes olas.
Los recogen las guerreras
y los tienden
al sol para secarlos.
Cuando las guerreras cantan y danzan,
los valientes resplandecen, palpitan
se inflaman de deseo. Los ardorosos
músculos encuentran pechos anhelantes,
se aparean y conciben…
la especie originada se transforma en gente
Mors
Penso nele.
O tempo está cinzento
Sinto o frio do teu corpo.
Os olhos estão cansados
De contemplar a beleza.
Penso que o azul é um milagre,
Que o mundo é todo ele paleta,
Que Van Gogh é Deus.
O tempo se retrai,
Quando me dissolvo no nada,
Nado no todo,
Abstraio de tudo.
O desejo de esquecimento surge
Como um presente.
Beijo a boca negra do infinito,
Que Saliva eternidade,
Prometendo que renascerei
à luz de um misterioso instante
Chamado outro.
Mors
Pienso en él.
El tiempo se ha desvanecido
Siento el frío de tu cuerpo.
Los ojos están cansados
De contemplar la Belleza.
Concibo el azul como un milagro,
el mundo, todo él, es paleta,
y Van Gogh llega a ser Dios.
Retrocede el tiempo,
Cuando me disuelvo en la nada,
Floto en el todo,
Aislado del todo.
El deseo de olvido aparece
Como un regalo.
Beso la negra boca del infinito,
Que Escupe eternidad,
Prometiendo renacer
a la luz de un misterioso instante
Llamado el Otro.
Palavras
Vida, nostalgia, alegria,
lágrimas, sorriso, dor,
saudade, sorvete, amor,
música, bocas, fantasia.
Afetos, mil, desafetos,
sapato, cômoda, cama,
privada, chuveiro, teto,
sofá, rádio, lâmpada.
Morte, luto,
lutamos sempre,
vamos, voltamos, nos perdemos,
encontramos tempo:
correr, praia, literatura, sexo,
olhos nos olhos, ternura.
Estas palavras, e outras,
enriquecidas pelos acentos,
impulsionadas pelo desejo,
amais serão apagadas,
nunca serão esquecidas,
estão gravadas na carne,
no infinito das entranhas,
para além de quem
imaginamos que somos e,
dos sentimentos que são
por elas evocadas.
Palabras
Vida, melancolía, gozo,
llanto, sonrisa, dolor,
suspiro, limonada, pasión,
orquesta, labios, fantasía.
Emociones, abundancia, desalientos,
zueco, cómoda, tálamo,
sentina, aguacero, tejado,
diván, receptor, lámpara.
Muerte, duelo,
peleamos sin descanso,
vamos, volvemos, nos extraviamos,
encontramos tiempo:
correr, playa, literatura, sexo,
mirada en la mirada, ternura.
Estas palabras, y otras,
enriquecidas por la pronunciación,
impulsadas por el deseo,
jamás serán borradas,
nunca se olvidarán,
quedan grabadas en la carne,
en lo absoluto de las entrañas,
más allá de quienes
imaginamos ser y,
de los sentimientos que
ellas evocan.
O filho
amo-te, ente louco e problemático,
nascido de um parto ao avesso.
saltaste do mundo para dentro do meu útero,
bebeste do meu leite sem sugar meus seios,
recebi de ti mensagens estranhas
(à la código morse ou monster, não sei).
tua presença embalava o meu dia
te formaste na minha escuridão,
és o fruto da minha meia-noite.
buscaste alimento no líquido denso
(charco da minha materialidade),
devoraste os meus óvulos (teus irmãos),
deste um nó nas minhas trompas,
sugaste o nutriente bruto, obscuro e pegajoso
do meu dentro, rompendo as paredes
da minha feminilidade.
vê, amigo, sou eu a mãe dessa espécie estranha,
ser que deseja mudar o mundo,
logo assim que se fartar das minhas entranhas.
filho (produto de mim e de um isso obtuso),
se eu pudesse amparar-te,
se eu pudesse afastar a dor, o medo,
e ser para ti um ninho, eu o faria!
mas não posso ser tudo!
então, nasce! faz como todo mundo!
vem para fora!
se não posso materializar todos os teus sonhos
(utópicos, mundanos e sublimes),
posso te deixar livre!
posso te parir como manda o figurino
(com dores e fadiga).
vai! vê que existe vida para além de mim,
libera esse espaço pequeno e plástico,
capaz de conter o vazio e o mundo.
El hijo
te amo tanto, ente demente y ambiguo,
nacido de un parto a la inversa.
te lanzaste desde el cosmos hacia el interior de mi útero,
mamaste mi leche sin chupar los pechos,
recibí tus mensajes cifrados
(en código morse o monster, no sé).
tu presencia acunaba mis días
aunque te hayas formado en mi opacidad,
eres el fruto de mi sueño.
buscaste alimento en el líquido denso, (charca de mi condición material)
devoraste mis óvulos (tus hermanos)
anudaste mis trompas
sorbiste el nutriente bruto, obscuro y viscoso
de la matriz, rompiendo los límites
de mi feminidad.
mira, amigo, soy la madre de esa especie insólita,
ser que desea transformar el mundo,
en cuanto se harte de mis entrañas.
hijo, (obra mía y de esa cosa roma)
si yo pudiese ampararte
si fuera capaz de relegar el dolor el miedo y
ser para ti un nido, lo haría!
pero, no puedo ser todo!
entonces, nace! haz como todo el mundo!
llega hacia fuera!
Si no puedo concretar todos tus sueños
(utópicos, mundanos, sublimes) puedo dejarte libre!
Puedo parirte como indica el figurín
(con sufrimiento y fatiga)
Vete! has de saber que hay vida fuera de mí
libera ese espacio pequeño y moldeable
capaz de contener el vacío y el Universo.
Teoria da incerteza
Enquanto o mundo busca respostas,
Zombo dos teoremas simplórios.
A simplicidade é a regra
Mais difícil: mil ângulos em convergência,
todos eles tortuosos, em desalinho,
sob a égide da incongruência.
A simplicidade subsiste, sobrevive.
Busco agarrar a pedra solitária
no centro do oceano, ─ ilha improvável ─,
construída pelo desejo,
quase uma miragem…
A simplicidade é regra de três: eu,
você e o desejo de um outro.
A velha cegueira humana,
As respostas, feitas de ar e de água,
gritam aos olhos.
Teoría de la duda
Mientras el mundo busca y busca respuestas,
Formulo teorías, suposiciones.
Suplico a los cielos miles y miles de preguntas,
lo mismo que los sedientos de la tierra piden
incesantes lluvias. Ah! si lloviera y lloviera…
las preguntas formarían un caudaloso río.
Me burlo de los teoremas ingenuos.
La inocencia y el candor hacen la regla
Más difícil: miles de ángulos en convergencia,
todos ellos sinuosos, torcidos, desalineados,
bajo la égida de lo inarmónico.
La ingenuidad persiste, sobrevive.
Trato de alcanzar la piedra solitaria
en el eje del océano, ─ isla inverosímil ─,
etérea obra del deseo,
con la levedad de un espejismo.
La sencillez es una regla de tres: yo,
tú y el deseo de otro cualquiera.
La ceguera humana originaria,
Las respuestas, en aire y agua
formuladas,
golpean a los ojos con su grito.
O meu poema
Pontos no céu,
Estrelas que talvez
Não estejam mais lá,
apenas vestígios do seu brilho.
Mas não me importa,
mesmo as estrelas mortas
Empoeiram o meu coração.
Esperança?
Não me importa, também,
Esse tempo cinza-chumbo, incrédulo,
Como se todos os pecados do mundo
Tivessem evaporado, devorado o azul,
Banido os pássaros…
Importa, sim, o instante, a vida,
O coração que pulsa,
O corpo que vibra, a despeito
Da dor, da dor, dor… e do medo!
Meus poemas são, todos eles,
Poemas de amor:
__Poemas sulcos,
__Poemas ventre,
__Poemas fome,
__Poemas braços de mulher
esperando o seu homem,
__Poemas maternos
protegendo os filhos.
Mi poema
Luces en el cielo,
estrellas que tal vez
no existan ahora allí,
y solo son vestigios de su brillo.
Pero no me importa,
incluso las estrellas muertas
polvorean mi corazón.
Esperanza?
Tampoco me importa,
ese tiempo ceniciento y plúmbeo, descreído,
como si todos los pecados del mundo
hubieran desvanecido, borrado el azul,
desterrado a los pájaros…
Importa, sí, el momento, la vida,
el corazón que palpita,
el cuerpo que vibra, a pesar
del dolor, del dolor dolorido… y del miedo!
Mis poemas son, todos mis poemas,
poemas de amor:
__poemas surco,
__poemas vientre,
__poemas hambre,
__poemas brazos de mujer
esperando a su hombre,
__poemas maternos
defendiendo a los hijos.
D) Outros poemas
Nota da autora Os poemas que se seguem vieram à luz um tempo depois de finalizado O Coração da Medusa. A decisão de inclui-los no poemário deve ao fato de eu sentir, ainda, ressoar a voz serpentina da Górgona nesses versos.
Esse canto foi entretecido nas sombras de mim mesma, fio a fio… cada ponto uma busca, cada busca uma surpresa, um vazio, uma saudade, uma esperança: Medusa é a sombra de Penélope. Renata Bomfim
Nota de la autora Los poemas siguientes salieron a la luz tiempo después de finalizado El Corazón de Medusa. La decisión de incluirlos en el poemario se debe al hecho de sentir yo, aún, resonar la voz serpentina de la Górgona en estos versos.
El canto fue entretejido en mis propias sombras, hilo a hilo… cada punto una búsqueda, cada búsqueda una sorpresa, un vacío, una nostalgia, una esperanza: Medusa es la sombra de Penélope. Renata Bomfim
Solares: poema em dez atos
I
Fui atriz.
Lembro ainda:
Noites de estreia,
Luzes, cenários.
Podiam ver que eu era
Quem fingia ser.
Atuei nos palcos da ilha mundo
Sendo eu e sendo outras de mim.
Quando as luzes se apagavam
Bebia o sol que trazia escondido
Em um frasco dentro da bolsa.
Bebia a luz densa e flexível sentindo raiar o dia.
Pensava: – hoje o inédito está vulnerável.
Naquele mundo
Mãos ávidas agarravam o resto de brilho
Que se esvaia do sol que se tornara dia.
Sedutor, o astro balançava na minha direção
A ruiva cabeleira.
−Te quero aqui! Te quero!
As palavras brotavam límpidas de minha boca
Como se um veio d’água nascesse em pleno deserto.
Te quero!
Entre os dedos gotejava, viscoso, o desejo.
Eu era noiva então e seguia
Vestida de luz.
As núpcias.
Nossos corpos serpentearam enroscados
como raios.
II
Sentamos à mesa.
O garçom serviu, quente, a carne de um anjo.
Você, que me prometera o paraíso, me obrigava a comer carne de anjo.
Eu sentia o horror de ter entre os dentes aquele pequeno mimo,
Delicia, transgressão macia e…
Minha língua analisava a textura do santo,
O meu sangue tornou-se vinho.
Salivei mel e excretei delícias sem nome:
Ainda éramos inocentes!
O anjo fora preparado com ingredientes frescos
Colhidos no que se tornaria a eternidade.
III
Elevo os olhos para além
Do conhecido.
O céu fictício, com o sol que carrego penitente,
Existe inexistido.
A fabulação é ofício (árduo e fatídico)
Fabulo para não morrer e canto
Cantiga antiga, de amiga, de amor.
Quero apalpar o amanhã,
O dia é o prolongamento do sonho.
Canto o amor que trouxe desde a célula duplicada
Amor que continua dentro e que grita a minha boca aberta,
Quentura, ansiedade e desejo por outra boca quente.
O meu ser convulsiona dentro do sistema,
Não me encaixo!
Caixa, coxa, convulsiono!
Estou nua das certezas,
O amor me habita,
Convulsiono!
IV
A vida anda curta.
Os dias não cabem no teu momento de contentamento.
Eu canto como quem grita no escuro e não escuta a própria vida.
O sonho que prolonga a vida e o viver não acorda.
Cegueira.
Levo a mão ao seio, sinto a carne quente que vibra
Sinto o céu como se voasse no vazio.
O céu é um buraco, não há nada além de nuvens.
Desenho no céu com as nuvens!
Imagino e não vejo possibilidade de voltar a cantar.
V
Estava cansada de levar comigo
O sol.
Guardava o astro entre as mãos como se
dele dependesse a vida.
As trevas eram pesadas como pétalas de rosas.
O sol pesava e queimada a palma ressentida de minha mão.
Precisava plantar o astro antes que ele explodisse:
O sol é uma bomba!
Caminho cantarolando a música do pássaro e da aranha.
O sol está rubro como um tudo,
Plantar o sol é a minha maior responsabilidades.
Útero sol.
Razão do amanhã.
Razão do meu ventre parindo alvoradas,
Razões do meu corpo retalhado pelos sonhos.
Cai a noite.
O sol não se arrepende da luz que perdeu.
Sombra amiga, qual a medida do meu ser dia?
Qual o tempo da colheita das rosas?
A estrela gira suas pontas,
Há desespero nos dedos dos meus pés.
VI
Cortei a cebola.
Os olhos percorriam a cozinha.
Cada objeto guarda um segredo.
Há momentos em que o tilintar das colheres
Evoca espíritos.
Cortei a cebola e coloquei na panela quente
Óleo e alho.
O fogo aquecido evocava o frio de uma ausência.
Lembrei da hortelã e da pimenta.
O verde e o vermelho enviaram um tempo
De cores e aromas felizes para a mesa.
A felicidade estava de volta
Como um morto revivido enviado pela memória.
VII
Já fui princesa no devaneio de uma saudade.
Já fui princesa.
Toquei a poesia
Vislumbrei o invejável de uma presença.
As sombras não deixam esquecer a minha filiação.
Caiu a máscara.
Sob o verniz outra máscara e outra e outra.
A solidão desafia, sob o não-rosto, o teu rosto frio.
A luz fraca se projeta no chão que se abre
Sinto o mundo dentro de mim,
Vejo as entranhas da terra.
Fui mulher quando as mulheres não sabiam
Que era preciso carregar o sol.
Fui mulher quando não existiam mulheres e nem homem,
Apenas seres.
A noite possui uma razão desprovida de verdade,
As sombras brincam de volúpia e potência.
Fui mulher ensaiando a delícia de ser esse não ser.
Não sabia que as sombras eram filhas do dia adormecido.
Lembro ainda, fui princesa nos meus sonhos!
Caminhei por lugares distantes repetindo o teu nome,
Desejando pertencer a tua família.
Queria o teu nome junto ao meu.
Assim, garantiria que nossos corpos estariam unidos pela eternidade.
Sonhei, sonhei, sonhei.
A realidade revelou que o dia dura um tempo colossal.
VIII
A casa continua vazia.
O sol está sobre a mesa, ilumina o ambiente,
Um anjo se revira no meu dentro.
Falta algo.
Falta o sol no auge do esplendor,
O sol perdeu a potência.
As ruas estão vazias.
As pessoas desapareceram no labirinto de suas
Solidões particulares.
As paredes das casas guardam as últimas palavra pronunciadas.
Os homens entraram na espiral do esquecimento.
−Te amo!
Ouço uma ruína gemer como se fosse de carne e sangue.
−Te amo!
Vivi o vazio da casa eterna-eternamente vazia,
Necessito do teu estar aqui,
Necessito que o teu corpo etéreo se torne realidade.
IX
O sol é uma saudade dentro de um tempo.
Lutei para ser alguém,
Enchi a cabeça de teorias,
As paredes plenas diplomas mostram
Que fracassei
Sou alguém quando teu corpo raspa as camadas do meu dentro,
Penetrando o meu uno,
Fertilizando o meu simples,
Pluralizando esse isso que hoje brilha dentro de mim.
X
Saiu da minha boca uma palavra
E voou para o inefável como uma pomba em busca
de outra palavra.
Meus joelhos se dobraram
Rezei sem fé palavras encantadas,
Crente no poder do dizer:
Femeamente celebrei e dancei ao redor
Das palavras: inomináveis!
Exaltación del Sol: poema en diez actos
I
Fui actriz.
Lo recuerdo aún:
Noches de estreno,
Luces, escenarios, aplausos, vítores.
Se podía creer que yo era
Exactamente
Quién fingía ser.
Actué en los proscenios de la Isla Mundo
Siendo yo y siendo
Ligeras
variaciones de mí misma.
Cuando las luces borraban su esplendor
Bebía el Sol que traía oculto
En un frasco al fondo de la bolsa.
Bebía la luz densa y flexible sintiendo despuntar el día.
Pensaba: hoy
ni lo inédito es invulnerable.
En aquel mundo
Manos ávidas se apoderaban del brillo restante
desprendido del Sol al transformarse en día.
Seductor, el astro inclinaba en mi dirección
La pelirroja cabellera.
−¡Te quiero aquí! ¡Te quiero en mí! Te quiero!
Las palabras brotaban límpidas de mi boca
Como si un líquido filón de agua fresca
brotara en pleno desierto:
¡Te amo!, ¡te quiero!
Por entre los dedos goteaba, viscoso,
El fruto preliminar del deseo.
Yo era la prometida inexorable y permanecía
Vestida de luz.
Las nupcias celestes, paradisíacas.
Nuestros cuerpos serpentearon enroscados
como rayos fulgentes.
II
Sentados a la mesa
Presidencial del banquete.
El garzón, impecablemente uniformado
Guantes blancos impolutos
Sirvió, caliente, sazonada, la carne glútea de un ángel.
Usted, mi enamorado, que me prometía
En propiedad el Edén,
me obligaba a comer bistec de ángel.
Soportaba el horror de sentir entre los dientes
El delicado agasajo,
Delicia, transgresora transgresión, pecado
Suave, esponjado, blando y sabroso.
Mi lengua analizaba la textura del cuerpo sagrado,
Mi sangre se convirtió en vino,
Salivé miel y excreté delicatessen sin nombre:
Aún éramos inocentes.
El ángel había sido preparado con ingredientes frescos
Recogidos en lo que sería la eternidad
III
Elevo los ojos mucho más allá
De lo conocido.
Y ese cielo ficticio, con el Sol que arrastro penitente,
Existe inexistido.
La fabulación es oficio (arduo y fatídico)
Fabulo para no morir y canto
Cantiga antigua, canción de amiga, amorosa
trova enamorada.
Quiero palpar el mañana,
El día es la prolongación del sueño.
Canto el amor que traigo desde el origen
de la célula duplicada,
Amor que continúa dentro y que grita
a mi boca abierta,
Calentura, ansiedad y deseo irrefrenable
de otra boca ardiente.
Mi ser se estremece en fuertes sacudidas
dentro del sistema universal,
¡No encajo en mí, no me ajusto!
Pechos, cintura, muslos; ¡convulsiono!
Estoy desnuda de certezas,
El amor me habita
¡Siento la llegada inminente del seísmo
Maremoto, tsunami!
IV
La vida resulta corta, insuficiente.
Los días no caben en los escasos momentos de satisfacción.
Canto como quién grita en la oscuridad
Sin escuchar el aleteo
Entusiasta de la propia vida.
El sueño, que ensancha y prolonga la vida
coloreando el acto mismo de vivir, no despierta.
Ceguera.
Llevo la mano al seno, noto vibrar la carne aún caliente,
Siento el cielo como si volara en el vacío.
El espacio es un agujero, no hay nada más allá de las nubes.
Recuerda mi dibujo escolar titulado: Cielo con nubes!
Imagino y no encuentro
la posibilidad inmediata de volver a cantar
ese himno excelso
sinfonía recién concluida.
V
Sentía el cansancio de portar conmigo
El imprescindible, vivificante Sol.
Acunaba el astro entre los brazos
-maternal cuidado- como si
de él dependiera la vida toda,
como si el fuera toda la vida.
Las tinieblas pesaban como pétreos pétalos de rosa.
El sol pesaba quemando las palmas doloridas
de mis manos.
Era preciso plantar el astro antes de que explotara:
En ese instante sentía el Sol
Como potentísima bomba estelar!
Camino tarareando la música del pájaro y de la araña.
El Sol se muestra rubicundo como un todo ardiente,
Plantar el Sol es mi mayor responsabilidad.
Útero Sol.
Causa del mañana acercándose,
Justificación de mi vientre pariendo alboradas,
Razones de mi cuerpo desmenuzado por los sueños.
Cae la noche.
El Sol no echa de menos la luz que perdió.
Sombra amiga, ¿cuánto abarca mi ser día?
¿Cuándo es tiempo de cosechar rosas?
La estrella da vuelta a sus puntas,
Hay desesperación en los dedos de mis pies.
VI
Corté la cebolla.
Los ojos exploraban la cocina.
Cada objeto guarda un secreto.
Hay momentos en que el tintineo de las cucharas
descubre la presencia de espíritus.
Corté la cebolla y coloqué en la cazuela
Caliente Aceite y ajo.
El fuego encendido, vivo, evocaba un frío de ausencias.
Recordé la hierbabuena y la pimenta.
El verde y el rojo dispusieron un tiempo
De colores y aromas radiantes en la mesa.
La felicidad regresaba
Como un muerto resucitado por la memoria.
VII
Ya fui princesa en el delirio de la nostalgia.
Ya fui princesa.
Palpé la poesía
Vislumbré lo envidiable de una presencia.
Las sombras no permiten olvidar mis datos existenciales.
Cayó la máscara.
Bajo el barniz otra máscara y otra y otra.
La soledad desafía, bajo el no-rostro, tu rostro frío.
La luz débil se proyecta en el suelo que se abre
Siento el mundo dentro de mí,
Veo las entrañas de la tierra.
Fui mujer cuando las mujeres no sabían
Que necesitaban acarrear el Sol.
Fui mujer cuando no existían mujeres ni hombres,
Sólo seres.
La noche posee una razón desprovista de verdad,
Las sombras se agitan de voluptuosidad y energía.
Fui mujer probando la delicia de ser ese no ser.
Ignoraba que las sombras eran hijas del día adormecido.
Aún lo recuerdo: en mis sueños fui princesa.
Avancé por lugares distantes llamándote y llamándote,
Deseando pertenecer a tu familia.
Quería situar tu nombre junto al mío,
Esa cercanía me iba a garantizar que nuestros cuerpos
permanecerían unidos durante toda la eternidad.
Soñé, soñé, soñé
La realidad reveló que el día tarda mucho tiempo en acabar
VIII
Nadie en la casa, nada aún en ella.
El sol extendido sobre la mesa, ilumina el ambiente,
Un ángel se retuerce en mi interior.
Falta algo.
El Sol está ausente del esplendor esplendente,
El Astro Rey perdió su poder.
Las calles desiertas.
Las personas se perderán en el laberinto de sus
Propias soledades.
Las paredes de las casas atesoran las últimas
palabras pronunciadas.
El hombre caerá en la espiral del olvido.
-Te amo!
Oigo a los escombros gemir como si fuesen carne y sangre.
-Te amo!
Viví el hueco de la casa eterna, eternamente vacía.
Aquí y ahora necesito tu presencia,
Exijo que tu cuerpo etéreo se materialice.
IX
El Sol es una añoranza llenando el tiempo.
Luché para tener un Nombre,
Colmé la cabeza de teorías
Las paredes cubiertas de diplomas
Muestran mi fracaso, demuestran que erré.
Soy alguien cuando tu cuerpo rasga mis estratos internos,
Penetrando mi integridad,
Fertilizando mi esencia,
Diversificando ese ente que hoy brilla dentro de mí.
X
Salió de mi boca la palabra silente
Y voló hacia lo inefable como una paloma en busca
De otra palabra callada.
Caí de rodillas
Recé incrédula salmos encantados
Convencida del poder mágico de la voz dicha
En el momento adecuado:
Hembra final, solemnicé el momento, danzando alrededor
De las palabras innombrables
Que el Sol iba evaporando.
Atos (in)tencionais
I
Ainda não viste a minha cor,
Nem sentiste o meu cheiro,
Nunca me conhecerás por inteiro.
Esta sou.
Sempre outra, outra, outra,
Desde que o mundo é.
Fui e continuarei sendo.
Ainda não viste a curva espinhal
Nem sentiste o abalo dos ventos
O furo seco do punhal: a lâmina.
São de ferro as minhas vértebras.
II
Não sou para ti,
Não sou adorno para a tua casa,
Tempero da tua cama, não!
A mula incansável e obediente
É fantasia tua.
Não sou.
Não estou aqui para ti.
Talvez por isso vejas apenas o desejo
E não a mim e nem as coisas do mundo.
Talvez por isso não enxergues
A vida íntima da minha vida.
Não compreendes:
Sou o vazio grávido.
III
Fértil e pronta.
Nasci formada de ventre,
Vísceras, carne, sangue, cuspindo símbolos.
Estou aqui.
Enxergas-me agora?
Sinuosa e cantando lisuras, sigo.
Gestada pelo vazio no interstício,
No entre,
(Lugar que desconheces)
Fui, sou a dona dos espaços ambíguos.
Habitas o centro e não sabes
Do oco e do nem vazio.
IV
Não pretendo revelar-te esses segredos femininos,
Ignoras as sombras vivas que nos acompanham.
Ignoras as sombras,
Pobre de ti!
Não vês que o canto em ondas curtas e longas faz o tempo ruim.
Pobre de ti!
Mira, o tempo abre fissuras na existência,
Desconheces o canto e suas ondas?
Pobre de ti!
Aprende o caminho de volta.
V
Um motivo para viver.
Vivo porque o ar se impõe aos meus pulmões.
Porque o meu corpo possui vontade própria.
Embora o sol aqueça a minha existência e torne tudo luz
Eu prefiro a lua, as sombras, o escuro.
Uma sombra me acompanha.
Ela é espessa e não respeita obstáculos.
A sombra não precisa de motivos.
Eu preciso levantar após a noite mal dormida.
Gostaria de ter alguma certeza aos abrir os olhos.
Nenhuma certeza!
VI
Vozes conflituosas.
Alguém me toca
Despertam os demônios da memória.
Necessito esquecer.
Necessito te esquecer.
Quero ser derrotada na luta dos inocentes.
Fui mulher de muitos homens
Mantenho a pureza
Como o lírio que se abriu sob
O manto da aurora.
VII
O homem que amei se ria dos meus bocejos.
O homem que amei se ria, ia, ia, ia, ia…
Hoje faz um dia que perdi as chaves.
VIII
Você enxerga a vida que se oculta
Dentro de mim?
Reconhece a vida de minha vida?
Normal que não me enxergues,
Normal.
Só enxergas o que teus olhos imaginam,
O teu desejo te cega.
Tive uma paciente chamada Norma,
A vida íntima de Norma era linda, ela era livre.
Mas, quantos remédios,
Faziam de tudo para ela se adequar.
Norma passava a sua vida ordinária drogada.
A vida secreta de minha vida possui legislação própria.
Vivo drogada de poesia.
Ontem cheirei Walt Whitman,
Depois injetei uns românticos e, por fim,
Camões, cantos encapsulados.
Talvez as vozes que nos orientam
Na passagem da vida íntima para a vida revelada
Permaneçam se comunicando através da mente.
IX
Em segredo plantei um jardim.
Nada de simetria.
Cultivo as flores da desordem.
Em segredo, a vida de minha vida se expressa
Nas entrelinhas de mim, ou dessa que imagino ser.
Tudo normal, mas, não sou a Norma.
X
Me achas rude,
Grosseira,
Má.
Sou essa.
Grotescamente rude e desordeira,
Leio as palavras que balbucias
A contrapelo.
Sou barroca, encarniçada
Saturnina, desvairada,
Sou isso.
Hierática, elétrica,
Orgástica, dramática.
Nada Rococó,
Não amenize os fatos,
Gosto dos efeitos,
Vamos debulhar afetos:
Sou barroca,
barroca.
Actos (in)tencionales
I
En todo este tiempo no conociste mi color verdadero,
Ni sentiste ese olor mío tan especial
Nunca me sabrás del todo.
Esta soy en verdad:
Siempre otra, otra, otra, y otra distinta,
Desde que el mundo es mundo
Fui y continuaré evolucionando.
En todo este tiempo no acariciaste mi curva espinal
No sentiste la sacudida de mi soplo
El pinchazo seco del puñal: la cuchilla.
Son de hierro mis vértebras.
II
No estoy destinada a ti
Ni a tu placer siquiera.
No soy un florero de tu casa
estímulo en la cama, ¡no!
Esa mula incansable y obediente
Es solo una ilusión tuya.
No existo.
No vine para ti.
Quizá por eso solo sientas el deseo
Y no te interese yo ni las cosas del mundo.
Acaso por eso no percibas
La esencia viva de mi vida.
No lo comprendes:
Soy el vacío grávido.
III
Fértil y activa.
Nací dotada de vientre,
Entrañas, carne, sangre, escupiendo símbolos.
Estoy ante ti.
¿Me descubres ahora?
Sinuosa y cantando sinceridad, sigo
Fecundada por el vacío en la grieta,
En el interior,
(lugar que desconoces)
Fui, soy la dueña de los espacios ambiguos.
Ocupas el centro o lo ignoras todo
Del hueco y de lo que le llena.
IV
No deseo desvelarte esos secretos femeninos
Ignoras las sombras vivas que nos
Acompañan.
Desconoces la oscuridad que nos envuelve,
¡Pobre criatura!
No comprendes que el canto con sus ondas cortas y largas
causa los malos tiempos.
Pobre de ti!
Observa: el tiempo abre fisuras en la existencia.
¿Desconoces el canto y sus ondas?
¡Pobre de ti!
Descubre el camino de regreso.
V
Una razón para vivir
Vivo porque el aire manda en mis pulmones.
Porque mi cuerpo sigue los dictados de su propia voluntad.
Aunque el sol encienda mi existencia y torne todo luz
Yo prefiero la luna, las sombras y lo oscuro.
Una sombra va conmigo.
Es espesa y desprecia los obstáculos.
La sombra no necesita razones para avanzar.
Yo preciso volar tras una noche de insomnio
Quisiera tener alguna certeza al abrir los ojos.
¡Nada de certezas!
VI
Voces conflictivas.
Alguien me toca
Despiertan los demonios del recuerdo
Necesito olvidar.
Necesito olvidarte una vez más.
Quiero ser derrotada en la lucha de los inocentes.
Fui mujer de muchos hombres
Conservo la pureza
Como el lirio abierto bajo
El manto de la Aurora.
VII
El hombre que amé se burlaba de mis bostezos
El hombre que amé se burlaba sin parar.
Hoy hace un día que perdí las llaves
esas llaves que te abrían.
VIII
Usted sospecha la existencia de la vida
¿Que crece dentro de mí?
¿Reconoce la vida de mi vida?
Con razón no me vislumbras,
Con razón.
Solo ves aquello que tus ojos imaginan ver,
Tu deseo te ciega.
Tuve una paciente llamada Norma,
La vida íntima de Norma parecía bonita, ella era libre.
Pero, ¡cuántas medicinas,
Se esforzaban ara que viviera así!
Norma vivía una vida artificial inconsistente.
La vida secreta de mi vida cuenta con legislación propia.
Vivo enviciada de poesía.
Ayer esnifé a Walt Whitman,
Después me inyecté unos románticos y, por fin,
Camões, cantos encapsulados.
Acaso las voces que nos orientan
En el paso de la vida íntima a la vida mostrada
Permanezcan comunicándose a través de la mente
Trasvasando conocimientos.
IX
A ocultas planté un jardín.
Nada de simetría.
Cultivo las flores del desorden.
En secreto, la vida de mi vida se expresa
En mis entrelíneas, mías o de esa que imagino ser.
Todo normal, pero no soy aquella Norma.
X
Me encuentras, áspera
Grosera,
Mala.
Soy esa.
Ridículamente ruda y asocial,
Leo las palabras que balbuceas
A contrapelo.
Soy un despeñadero, soy cizañadora,
Hija de Saturno soy, desvariada,
Sí, eso soy.
Exageradamente solemne, eléctrica,
Orgásmica, dramática.
Nada Rococó,
No suavice los hechos,
Me gustan las consecuencias:
Soy una depresión y un montículo,
Abismo y cima,
Vamos a deshojar los afectos
Soy un barranco
Soy otra, otra, y otra distinta.
Esa soy yo.
Elogio da sombra
I
É demais!
O que?
Essa dor parece rasgar as entranhas.
Toma um remédio e vai dormir.
Dormiria, sim, se pudesse.
Fecharia os olhos e voltaria a abri-los, apenas,
Quando fosse outro o mundo.
Você só fala bobagens! A gente é o que é, acabou!
Sombras.
Passo pela cidade observando as sombras.
O sol desenhou no pinheiro uma bastante engraçada, parecia uma peruca de palhaço.
Caminhei pelo centro observando os casarios, vi memórias
Projetadas na rua, nos prédios vizinhos que se erguiam felizes e fumês.
As sombras.
Elas passam despercebidas aos demais, por que se impõem aos meus olhos?
Senti um calafrio. Pensei que poderia ser alguém que não está mais aqui.
Mas como isso pode ser possível?
Claro que é possível.
Mas…
Mas nada, mas tudo. Dissolvemo-nos, entretanto, permanecemos aqui, é uma desgraça, porém, uma condenação merecida. Precisamos aceitar a sombra antes que ela nos renegue.
Mexo nos cabelos. As madeixas e as sombras, nesse momento, se tornaram o centro da minha vida. As sombras não podem ser pintadas, mas os cabelos sim, por isso eu os coloro sempre, como se esse gesto simples e estúpido pudesse mudar a cor da mente (densa e cinzenta como as sombras).
II
É preciso coragem para enxergar a sombra. Ela sabe, aproxima-se sorrateira como um crocodilo grande.
Para com essa história de sombra, cansei de escutar.
Tudo bem, mas que as sombras estão vivas, ah! Estão sim.
Ok, já entendi, vou perguntar para a minha sombra se ela deseja ir a Camburi, certamente recusará.
Olho para esse ente que enxerga apenas a densidade e sussurro: você é uma sombra!
III
O sol rasgou o céu essa manhã, lindo!
Já não acredito em prelúdios e vivo, agora, no ritmo do acaso: samba do caos.
Penso em plantar feijões que brotem e se elevem para além das nuvens, onde existe um castelo cheio de riquezas, e um gigante bobo. Logo vem à mente a imagem da sombra projetada do gigante. Imagino que ela cobriria parte da terra (sinto uma excitação), talvez essa sombra toda cubra a Ilha. Direi ao gigante onde vivo e ele se inclinará da nuvem para ver Vitória: o povo capixaba não vai entender o fenômeno.
O céu matutino já foi alinhavado, agora é tarde, hora de eu me desdobrar como um origami, de deixar as leituras fantásticas, me despedir de Goya: Saturno venceu! Viu, estimado pintor, não adiantou pintar sombras sobre o muro, a fantasia sempre vence, a tela aprisiona as imagens selvagens alimentando-as com branco e ocre. Vou cuidar do muro da minha casa, na verdade esse muro é feito com grades, a sombra pode passar, mas, nunca se projetará inteira. Vou cozinhar feijão.
IV
Preciso de ti,
De tua mão sobre a minha,
Preciso de ti.
As cantigas de criança rondam o meu coração,
Os ouvidos estão encharcados de melodias saudosas.
Um torrão de açúcar derrete na boca,
A garganta só conhece o amargor.
Preciso de ti sem precisar de ti.
Escolhi te desejar por medo do vazio.
Olho as mãos movidas pelo tempo,
Os dedos ensaiam atos concretos de vazio.
Tuas mãos projetam lindas sombras
Imagino o espetáculo de imagens que se formariam se elas soubessem bailar, se não fossem tão duras. Sim, não são apenas os pés que dançam, as mãos são dançarinas natas. As tuas estão endurecidas porque estás surdo para as cantigas de criança.
O quanto lamento. Perdeste as carnes e o sangue, te tornaste Carrara.
Lamento, mas, ainda assim, te admiro.
V
Abri a última gaveta do guarda-roupa e achei um lenço rock end roll comprado numa feirinha no Chiado. Lisboa é considerada uma cidade de luz. As pedras são tão brancas que parecem templos. Parece que os lisboetas vivem num eterno exercício de adoração ao sol e exorcismo das sombras.
Sempre fui mulher das sombras, enamorada da luz. Os cantinhos dos cristais, velas, incensos, orações dobradinhas, cartas queimadas em oferenda aos senhores do Karma, o espelhinho na parede violeta. Tudo isso de um lado, do outro, o tercinho, a bíblia, os cânticos: um mimo!
O meu lenço de caveirinhas é lindo: imita seda, é de um rosa meio século XIX, tem algo de aristocrático e decaído. O lenço é lindo e é meu! Lembro que passeei com ele na Espanha e no Marrocos, ninguém viu, acredito, mas passeei com os cabelos pintados, o lencinho rock end roll meio século XIX e a mente cinzenta e fértil. Gaveta fechada.
VI
A sombra dos poderosos é o desassossego do grande vazio. Não o vazio prenhe de possibilidades, mas o oco, o buraco, boca que nunca se sacia. Sim, o poder é a fome insaciável de tudo. Entre quatro paredes, para os poderosos, a mulher é um banquete, fruição dos sentidos, presa. Fora da intimidade eles rechaçam a mesma mulher: a fome é a mesma. Pulsão, pulsão, pulsão… tudo explicado, menos o buraco insondável que arrasta os poderosos que nos arrastam para o buraco.
VII
Vai buscar o raio de luz,
Vai buscar o pêssego maduro.
Anda e canta pelo caminho,
Os pássaros te acompanharão.
VIII
Sou uma mulher barroca, pictórica e trágica.
Por isso comprei uma matriosca. Sempre quis ter uma dessas bonecas russas. A minha matriosca é um tanto difícil de abrir, ¾ rio enviesado¾, talvez por isso ela se pareça tanto comigo. Pego delicadamente a bonequinha (eternamente grávida de si mesma) e a torço com um jeitinho. Eis que ela reaparece, menor, mas igual (filhotinho de si mesma): oca, oca, oca… Novamente, torção delicada e, opa, que lindinha, outra, depois outra, depois outra, até que chego a uma versão miudinha e maciça, que não se abre mais (o sorriso agora é miúdo e maciço como a boneca). Sinto como se chegasse ao fundo de mim mesma. A razão está imobilizada, percebo algo profundamente estranho, indefinível (compaixão, talvez), não sei, é como se essa matriosca fosse eu, ou como se eu fosse essa matriosca, talvez ainda, uma camada oca gestando outras camadas num sem fim.
IX
Tem um casario antigo no centro da cidade. Sempre que passo por ele aceno para a moça na janela. Nunca a conheci pessoalmente, ela deve ter cerca de dezesseis anos. Há mais de vinte anos passo na frente dessa casa, a moça continua com dezesseis anos. As vezes ela usa um colar de pérolas. Imagino que a vida deva ser tranquila para essa amiga misteriosa, mas temo que ela se vá quando o casario for demolido pelo tempo. A imagem dessa desconhecida me persegue, é como se ela quisesse me dizer algo, mas o que? Será que apenas eu a vejo? É uma sombra serena, transparece inocência e solidão.
Deve estar cansada de bordar e tocar piano. A sombra por traz da janela tem algo a dizer, agora estou certa. O casario é antigo como nós.
X
Jorge Luis Borges deu uma matriosca para a namorada bem mais nova que ele, mas,
deu-a escondido de sua mãe: para evitar ciúmes desnecessários entre as mulheres.
A jovem (“inocentemente”) esqueceu a bonequinha em cima da cômoda: incômodo!
A senhora adorou o mimo, sempre admirou o filho.
O «tempo da felicidade» é um mistério!
A felicidade é o raio de luz que atravessa a sombra viva e pensante, é o momento delicado da torção, da abertura e da exposição. Sorrio atravessado porque apenas o coração é capaz de dar sorrisos largos. Quando resta apenas o homem e sua alma, o coração sorri e todas as coisas do mundo fazem sentido.
Borges nunca conheceu a escuridão. A matriosca, misteriosamente, milagrosamente, se duplicava sempre que o escritor a desenroscava com um sorriso enviesado no rosto e outro largo no coração. Foi assim que as mulheres de Borges ficaram felizes e criaram uma irmandade capaz de construir e desconstruir labirintos. Borges nunca desvendou o segredo da boneca russa, mas, sentiu deleite naquilo que deveria aterrorizá-lo.
É preciso coragem para enxergar a sombra. Ela sabe, se aproxima sorrateira como um crocodilo grande. Eu não temo os animais de sangue frio, embora corra lava pelas minhas veias. Não temo o dia e nem a noite. Estou no centro do mundo, oca e maciça como a matriosca, compartilhando amor e palavras.
Alabanza de la sombra
I
¡Es excesivo!
¿A qué te refieres?
Este dolor parece rasgar las entrañas.
Toma la medicina y duerme.
Dormiría, sí; si pudiera
cerraría los ojos y volvería a abrirlos, solo,
cuando el mundo fuera distinto.
¡No digas tonterías! ¡La gente es lo que es,
y se acabó!
Sombras.
Voy por la ciudad observando las sombras.
El sol diseñó para el abeto una bastante conseguida,
parece una peluca de payaso.
Caminé por el centro observando los caseríos, vi memorias
proyectando en la calle los edificios vecinos
Que se yerguen felices y ahumados
Si las sombras
Pasan desapercibidas para los demás ¿por qué se apoderan de mis ojos?
Siento escalofríos. Pienso que puede ser alguien
que se marchó del todo
¿Pero cómo puede suceder?
Te aseguro que es posible.
Pero…
Pero nada, pero todo. Nos disolvemos y, disueltos, permanecemos aquí; es una desgracia manifiesta, sin embargo, es la condena merecida. Necesitamos aceptar la sombra antes que ella reniegue de nosotros.
Agito los cabellos. Los enredos y las sombras, en este momento, son el centro de mi vida. Las sombras no pueden pintarse, pero los cabellos sí, por eso yo los coloreo siempre, como si ese gesto simple y estúpido pudiera cambiar el color de la mente (espesa y cenicienta como las sombras).
II
Se necesita audacia para distinguir la sombra. Ella lo sabe, y se aproxima encubierta como un cocodrilo grande.
Deja esa historia de la sombra, me cansé de escuchar.
¡Todo marcha bien, pero las sombras están vivas! Están ahí, sí que están.
Ok, entiendo, voy a preguntar a mi sombra si desea ir a Camburi, seguramente lo rechazará.
Miro a ese ente que distingue sólo la densidad y susurro: ¡usted es una sombra!
III
El sol rasgó el cielo esta mañana, ¡precioso!
Ya no confío en oberturas y me muevo, ahora, con el ritmo del acaso: samba del caos.
Pienso plantar leguminosas que broten y se eleven más allá de las nubes, donde existe un castillo lleno de riquezas, y un gigante bobo. Luego viene a mi mente la imagen de la sombra proyectada del gigante. Imagino que ella cubriría parte de la tierra (siento una animosa excitación), tal vez esa sombra completa cubra la Isla. Diré al gigante donde vivo y él se inclinará desde la nube para ver la Isla de Vitória: el pueblo capixaba no va a entender el fenómeno.
El cielo matutino ya fue hilvanado, ahora es tarde, la hora de desplegarme como una pajarita de papel, de dejar las lecturas fantásticas y despedirme de Goya: ¡Saturno venció! Lo ve usted, estimado pintor, no adelantó nada al pintar sombras sobre el muro, la fantasía siempre vence, la pantalla aprisiona las imágenes salvajes alimentándolas con blancos y ocres. Voy a cuidar el muro de mi casa, en verdad ese muro está hecho de rejas, la sombra puede pasar, pero, nunca se proyectará entera. Voy a cocinar fríjoles.
IV
Te necesito,
Quiero tener tu mano sobre la mía,
Te necesito a ti.
Las letrillas infantiles rondan mi corazón,
Los oídos están encharcados de melodías nostálgicas.
Un terrón de azúcar se derrite en mi boca,
La garganta sólo conoce la amargura.
Te necesito a ti sin necesitarte.
Escogí desearte por miedo a la soledad.
Miro las manos agitadas por el tiempo,
Los dedos ensayan actos sólidos de vacío.
Tus manos proyectan bellas sombras
Imagino el espectáculo de imágenes que se formaría
si ellas supieran bailar, si no fueran tan inflexibles. Sí, no son sólo los pies los que bailan, las manos son danzarinas natas. Las tuyas están endurecidas
porque estás sordo para las tonadas de niño.
Cuánto lo siento. Perdiste las carnes y la sangre, te hiciste de mármol Carrara.
Me lamento, pero, aun así, te admiro.
V
Abrí el último cajón del armario y hallé un pañuelo rocanrol comprado en un mercadillo del Chiado. Lisboa es considerada una ciudad luminosa. Las piedras son tan blancas que semejan templos. Parece que los lisboetas viven en un eterno ejercicio de adoración al sol y de exorcismo de las sombras.
Siempre fui mujer de las sombras, enamorada de la luz. Los bordes de los cristales, velas, inciensos, oraciones repetitivas, cartas quemadas como ofrenda a los señores del Karma, el espejito de la pared violeta. Eso por una parte, por la otra, el tercio de rosario, la biblia, los cánticos: ¡una caricia!
Mi pañuelo de calaveritas es lindo: imita la seda, es de un rosa de mediados del siglo XIX, tiene algo de aristocrático y decadente. ¡El pañuelo es lindo y es mío! Recuerdo que paseé con él por España y Marruecos, nadie lo vio, creo, pero paseé llevando los cabellos pintados, el pañuelito rocanrol de mitad del siglo XIX y la mente cenicienta y fecunda. Cajón cerrado.
VI
La sombra de los poderosos es la tribulación del gran vacío. No el vacío preñado de posibilidades, sino el hueco definitivamente vacío, el agujero vacío, boca que nunca se sacia. Sí, el poder es el hambre insaciable de todo. Entre cuatro paredes, para los poderosos, la mujer forma parte del banquete, postre, fruición de los sentidos, botín. Fuera de la intimidad ellos rechazan a la mujer: el hambre es la misma. Pulsión, impulso, pulsión… todo explicado, menos el agujero insondable que arrastra a los poderosos que nos arrastran hacia el agujero.
VII
Busca el rayo de luz,
busca el melocotón maduro.
Anda y canta por el camino,
los pájaros te acompañarán.
VIII
Soy una mujer barroca, pictórica y trágica. Por eso compré una matriosca. Siempre quise tener una de esas muñecas rusas. Mi matriosca es un tanto difícil de abrir, “río al bies”, quizá por eso ella se parece tanto a mí. Agarro delicadamente la muñequita (eternamente grávida de sí misma) y la doblego con un movimiento mínimo. He ahí que ella reaparece, menor, pero igual (hijita de hijita): hueca, hecha habitáculo y refugio… Nueva torsión delicada y, diantre, qué maravilla, otra, después otra, después otra, hasta que llego a una versión menudita y maciza, que no se abre más (la sonrisa ahora es muda y compacta como la muñeca). Siento como si llegara al fondo de mí misma. La razón está inmovilizada, percibo algo profundamente extraño, indefinible (compasión, tal vez), no sé, es como si esa matriosca fuera yo, o como si yo fuera esa muñeca rusa; más aún: una capa hueca gestando otras capas en un sinfín continuo.
IX
Hay un caserío antiguo en el centro de la ciudad. Siempre que paso por allí saludo a la moza de la ventana. Nunca la conocí personalmente, pero debe andar por los dieciséis años. Llevo más de veinte años pasando por delante de la casa, y la muchacha continúa en los dieciséis. A veces luce un collar de perlas. Imagino que la vida resulta tranquila para esa amiga misteriosa, pero temo que se vaya cuando el tiempo derrumbe el caserío. La imagen de esa desconocida me persigue, es como si ella quisiera decirme algo, pero ¿qué? ¿Será que sólo la veo yo? Es una sombra serena; trasluce inocencia y soledad.
Debe de estar cansada de bordar y tocar el piano. La sombra que se proyecta por detrás de la ventana tiene algo que decir, ahora estoy convencida. El caserío es tan antiguo como nosotros.
X
Jorge Luis Borges regaló una matriosca a una novia mucho más joven que él; y se la dio a escondidas de su madre: para evitar envidias innecesarias entre las mujeres.
La joven (“de manera inocente”) olvidó la muñeca sobre la cómoda de la suegra: ¡hecho incómodo!
La señora adoró la gentileza, siempre admiró al hijo.
¡La «llegada de la felicidad» es un misterio!
La felicidad es el rayo de luz que atraviesa la sombra viva y pensadora, es el momento delicado de la torsión, de la apertura y de la exposición. Sonrío levemente porque solo el corazón es capaz de producir sonrisas prolongadas. Cuando quedan solos el hombre y su alma, el corazón sonríe y todas las discordancias del mundo cobran sentido.
Borges nunca conoció la oscuridad. La matriosca, misteriosamente, milagrosamente, se duplicaba siempre que el escritor la desenroscaba con un esbozo de sonrisa en el rostro y una sonrisa amplia en el corazón. Así fue como las mujeres de Borges llegaron a ser felices y formaron una hermandad idónea para levantar laberintos y echarlos por tierra. Borges nunca desveló el secreto de la muñeca rusa, pero, recibió deleite de aquello que debiera aterrarlo.
Se necesita coraje para vislumbrar la sombra. Ella sabe, se aproxima soterrada como un cocodrilo grande. Yo no temo a los animales de sangre fría, aunque corra lava por mis venas. No temo el día ni la noche. Estoy en el centro del mundo, hueca y maciza como la muñeca rusa, compartiendo amor y palabras.
Casulo
«A vida é esse cacho de lilás… Mais nada. O resto é perfume…» (Florbela Espanca)
Não escrevo para
o hoje.
As palavras são casulos,
introitos.
Mistérios do dentro:
cores indecifráveis,
indecifráveis sentidos,
borboletas virtuais que
podem ser,
podem não ser,
carecem de…,
Tudo sabem.
Não satisfazer:
DESESTABILIZAR,
eis o projeto poético-
-patético-
frágil, frágil…
Não responder!
eis…
Receba o silêncio,
aceite o silêncio:
CASULO.
Acúmulo de subjetividades
sem espaço para expressão.
CASULO-SILÊNCIO.
Não escrevo para o hoje
planto, silenciosa, árvores.
Cada poema escrito no susto,
estranhamento, solidão, loucura,
utopias que se estendem e derramam.
Revolta!
POEMA-CASULO-SILÊNCIO.
A Mata Atlântica é o projeto
final:
poema-tatu
poema-palmito Juçara,
poema-flor da Acácia
Poema-macaco
poema-trinca-ferro,
poema-xaxim,
Não escrevo para o hoje.
O afeto- memória
salvará vestígios desses versos.
Os casulos romperão
longe dos meus olhos.
Outras gerações conhecerão
o poema que escrevi
mas que nunca cheguei a conhecer.
CAPULLO
«La vida es un racimo de lilas… Nada más. El resto es perfume…» (Florbela Espanca)
No escribo para
el presente.
Las palabras capullos
Introitos.
Misterios del interior:
colores indescifrables,
inescrutables sentidos,
mariposas virtuales que
pueden ser,
pueden no ser,
carecen de…,
Conocen Todo.
No satisfacer:
DESASTABILIZAR,
he aquí el objetivo del proyecto poético-
-patético-
frágil, sutil…
¡No responder!
helo aquí…Eso es…
Reciba el silencio,
acepte el silencio:
CAPULLO
Acúmulo de subjetividades
sin espacio para la expresión
CAPULLO-SILENCIO.
No escribo para el ahora
planto, silenciosa, árboles.
Cada poema fue escrito en el sobresalto,
extrañeza, soledad, locura,
utopías que se extienden y derraman.
¡Revolución!
POEMA-CAPULLO-SILENCIO.
La Mata Atlántica es el proyecto
final:
poema-armadillo
poema-palmito Palmera
poema-flor de la Acacia
poema macaco
poema-trinca-hierro
Poena-helecho,
No escribo para el presente.
La amistad, amor-memoria
salvará los vestigios de estos versos.
Los capullos se abrirán
lejos de mis ojos.
Otras generaciones conocerán
el poema que escribí
ese que nunca llegué a conocer.
Fim do livro
El gobierno del Estado de Espírito Santo publicó el EDITAL 018/2019 – SELEÇÃO DE PROJETOS DE INCENTIVO À PRODUÇÃO E DIFUSÃO DE OBRAS LITERÁRIAS NO ESPÍRITO SANTO.
Renata Bomfim quiso presentar O coração da Medusa en los dos idiomas y para ello necesitó que yo firmara esta declaración:
Sucedió que llegado el momento del fallo, O Coração da Medusa, alcanzó el premio mayor para autores con obra ya publicada, obteniendo la mayor puntuación
RENATA BOMFIM
Nasceu na Ilha de Vitória (21/11/1972), capital do Espírito Santo, Brasil. Poeta, artista plástica e educadora socioambiental, a escritora é doutora em literatura comparada e realiza pesquisas no âmbito da poesia iberoamericana, com ênfase nas obras de Florbela Espanca e Rubén Darío. Leciona literatura brasileira e literatura produzida no Espírito Santo na Universidade Federal do Espírito Santo. Membro da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (cadeira nº 16) e Presidente de 2018 a 2020; membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia Mateense de Letras e Artes. Autora das obras “Mina”, “Arcano dezenove”, “Colóquio das árvores” e “O Coração da Medusa. Possui ensaios e artigos publicados no Brasil e no exterior. Atualmente, além de dedicar-se à docência, a escritora realiza trabalhos de reflorestamento e educação socioambientais na RPPN Reluz, situada em Marechal Floriano, ES/ Brasil.
Autora da Revista Literária Letra e Fel www.letraefel.blogspot.com
PEDRO SEVYLLA DE JUANA
Académico Correspondiente de la Academia de Letras del Estado de Espírito Santo en Brasil, y Premio Internacional Vargas Llosa de Novela / Romance, Pedro Sevylla de Juana nació en plena agricultura de secano, allá donde se juntan la Tierra de Campos y El Cerrato; en Valdepero, provincia de Palencia y España. La economía de los recursos a la espera de tiempos peores, ajustó su comportamiento. Con la intención de entender los misterios de la existencia, aprendió a leer a los tres años. A los nueve inició sus estudios en el internado del colegio La Salle de Palencia. En Madrid cursó los superiores. Para explicar sus razones, a los doce se inició en la escritura. Ha cumplido ya los setenta y cuatro, y transita la etapa de mayor libertad y osadía; le obligan muy pocas responsabilidades y sujeta temores y esperanzas. Ha vivido en Palencia, Valladolid, Barcelona y Madrid; pasando temporadas en Cornwall, Ginebra, Estoril, Tánger, París, Ámsterdam, La Habana, Villeneuve sur Lot y Vitória ES, Brasil. Publicitario, conferenciante, traductor, articulista, poeta, ensayista, editor, investigador, crítico y narrador; ha publicado veintiocho libros, y colabora con diversas revistas de Europa y América, tanto en lengua española como portuguesa. Trabajos suyos integran siete antologías internacionales. Reside en El Escorial, dedicado por entero a sus pasiones más arraigadas: vivir, leer y escribir.
https://pedrosevylla.com
Exaltación del SOL (PSdeJ)
“Exaltación del Sol, poema en diez actos”
Lectura crítica de Pedro Sevylla de Juana
El poema último de Renata Bomfim, destaca en primer lugar por la extensión. Consta de diez actos y varias partes bien diferenciadas que sirven a un mismo fin. Y en segundo lugar destaca por la intensidad expresiva. Intensidad luminosa irradiando luz sobre todo el poema. Una luz nacida y crecida del Sol, protagonista del Canto, un Sol que es Luz por encima de todo: brillo crujiente. “Exaltación del Sol” es, pues, un poema extenso e intenso; rio largo y profundo.
Más allá de la sensualidad evidente, en el poema, más allá del deseo, Renata Bomfim ha puesto pasión. “Nada grande se hizo, nunca, en el mundo sin pasión”: asegura Friedrich Hegel. Pasión que la poeta lleva más allá del área amorosa: Nuestros cuerpos serpentearon enroscados, inundando el territorio entero con su pasión por la vida: el origen de la célula duplicada, escindida. Pasión que lleva como componentes esenciales, la energía y la ilusión.
Participan los versos de lo Universal, Siento el mundo dentro de mí; llegando con suavidad a lo doméstico: corté la cebolla. Lógica y emoción persiguiéndose: La noche posee una razón desprovista de verdad, sirven, amalgamadas, a la desbordante imaginación de la autora, para trazar su pintura mural. Eso es también “Exaltación al Sol”, un mural colorido donde acuarela y oleo se unen al fresco cristalizado en la propia pared. El cuerpo, desajustado por las sensaciones gozadas, desmenuzado por los sueños, se pone al servicio de la mente lúcida para alcanzar lo inasible, asiéndolo. El presente viene del pasado buscando el huidizo futuro que la voluntad alcanza con esfuerzo. La mujer, hembra en toda su extensión, es la portadora del Sol, la encargada de llevarlo adelante, generación tras generación.
Obediencia y trasgresión: Usted, mi enamorado, que me prometía / En propiedad el Edén, / me obligaba a comer bistec de ángel. Soledad y compañía, llevan la conducta a lo humano, imagen de lo divino: plantar el Sol es mi mayor responsabilidad. El yo resurge con fuerza dentro del maremagno constante que le envuelve: Las sombras no permiten olvidar mi filiación. Luché por tener un nombre. El mito del amado, del macho amoroso, que protege y engendra el futuro en el interior de la hembra procreadora, ese mito antiguo goza de presencia constante: avancé por lugares distantes llamándote y llamándote.
Lo inanimado comportándose como animado: Oigo a los escombros gemir como si fuesen carne y sangre. Lo efímero y lo eterno, la dureza y la sensibilidad, el día y la noche, la realidad y el sueño, lo existente inexistente, ese ser no ser, junto a la mesa dispuesta para el banquete, se hacen metáforas abundantes, henchidas de belleza, en los versos de Renata Bomfim, poeta de los conceptos y las ideas visuales, de la dramatización de los principios que mueven al ser humano. Ha roto la poeta los diques que la frenaban y la valentía ha vencido al temor inundando los valles, irrigando vegas feraces con su amor a la Naturaleza, para que lo nuevo sustituya a lo antiguo. Estamos ante un poema rico y diverso, ante una selva de posibilidades creativas hechas realidad. Busco enlaces y similitudes entre este poema y lo que conozco de la poesía brasileña y los encuentro en la Hilda Hilst que traduje con gozo, más que en ningún otro poeta.
PSdeJ, El Escorial, madrugada del 14 de junio 2016
Poema manuscrito de Renata, que la autora me envió como presente.
Los poemas que viene a continuación son algunos de los muchos escritos por Renata Bomfim y traducidos por mí. Buena parte de ellos fueron declamados por Renata Bomfim en los festivales internacionales de poesía de Nicaragua, a los que asistió invitada representando a Brasil. https://www.festivalpoesianicaragua.com/2015/09/04/renata-bomfim-brasil-1972/
Brasil
Dedico aos índios brasileiros, que conrtinuam sendo massacrados, humilhados. e tendo a sua cidadania negada, e aos fantasmas da esperança que morreram defendendo a nossa humanidade.
Brasil
minha Terra,
meu Amor.
Onde vou estás comigo,
no balanço do quadril da mulher que
ginga ao som de tua aquarela,
no ondulado cabelo,
filetes de água doce
deslizando entre manguezais.
Meus olhos são os da arara
que atravessam as matas
como dardos inflamados por Eros.
São também os olhos do tigre,
dmacaco prego, da jaguatirica,
do lobo guará, do peixe boi,
da capivara, da cascavel,
das formigas, do tamanduá
(teu porta-bandeira).
Teus montes, morros e falésias
são a minha carne, o meu corpo
de mulher: Sangramos!
É nossa a mesma ferida
provocada pela exploração,
pela corrupção,
pela falta de cuidados e de amor.
Minha terra, quanta dor, quantos ais!
Os navios negreiros ainda vagam,
são espectros no vasto oceano,
os seus fantasmas são quase palpáveis.
Parte de mim está acorrentada no porão
fétido, segue viagem sentindo saudades
da África e ansiando liberdade.
Ouço os gritos de horror,
os pedidos de socorro
dos irmãos Guarani Kaiowa.
Os gananciosos querem queimar tudo!
Querem consumir a mata,
dizimar mais de duzentas etnias com
suas línguas, costumes, e tradições.
Querem transformar em fumaça, hoje,
o nosso manhã. Resistimos!
Choramos, cantamos hinos de guerra e
lutamos com arcos e flechas,
(luta desigual e perversa).
Nossos pés, machucados pela lida,
merecem descanso!
Nossas mãos, que tecem humanidades,
merecem respeito!
Nesse momento uma criança faminta
suga o meu seio:
Uma menina chamada Esperança.
Eu canto baixinho, quase sussurro,
sou xamã:
conheço preces e rogos,
preparo unguentos,
confecciono patuás,
lanço sortilégios aos sete ventos,
a minha palavra cura e exsuda venenos.
O meu coração é braseiro que
arde de amor: fogo santo!
O céu estrelado da minha terra
está dentro da minha boca!
__Vou manter a memória viva!
__de teus povos.
Quando eu toco a tua face
(como um cego)
buscando conhecer a tua fisionomia,
minha terra, é a mim que busco:
Preciso conhecer a raiz da planta que sou,
compreender os por quês das minhas folhas,
frutos, e flor…
Como cantar esta brasilidade?
Deixo que os pássaros o façam por mim,
o vento vai assobiar o teu hino.
Essa bem-aventurança ardente,
orgulho mátrio que colore o meu peito,
está para além
das alegrias e dos sofrimentos,
__é paixão,
__pedra da lua:
possui muitas cores e reluz.
Onde estou estás comigo, Brasil,
minha terra,
meu amor.
RB Lisboa, 7 de setembro de 2013
Manifesto dessa poeta:
Hoje, 7 de setembro, comemoramos a «Independência do Brasil», mas, o nosso Brasil ainda não é livre, infelizmente, ainda serão enforcados muitos Tiradentes, infelizmente, ainda vai correr por este chão sagrado o sangue de muitos ambientalistas como o de Chico Mendes, da irmã Dorothy, do capixaba Paulo Cesar Vinha. Para que se estabeleça uma nova ordem, uma nova forma de se conceber o «progresso», para que sejamos realmente livres, precisamos escutar o grito que vem das florestas, dos becos escuros, dos hospitais, das escolas, precisamos limpar os ouvidos, tirar a cera dos ouvidos, e o mais importante, precisamos agir. O verdadeiro progresso tem nome e sobrenome: Compaixão e Sustentabilidade.
Brasil
Dedicado a los indios brasileños, que, sin derechos de ciudadanía, continúan siendo humillados cuando no exterminados; y al espíritu de la esperanza muerto en defensa de nuestra humanidad.
Brasil,
mi Tierra,
mi Amor.
Allá donde voy, vienes conmigo
en el cimbreo de mis caderas que
bambolea al son
de tu acuarela,
en las ondas del cabello que
semejan estambres de agua dulce
deslizándose por los manglares.
Mis ojos son los del guacamayo
que irrumpen en los bosques
como las flechas inflamadas de Eros.
Son, además, los ojos del tigre,
del mono capuchino, del gato montés,
del lobo guará, del pez buey,
del carpincho, de la serpiente cascabel,
de las hormigas, del oso hormiguero
(tu portaestandarte).
Tus montes, cerros y acantilados
son mi carne, mi cuerpo
de mujer: ¡Nos desangramos!
Es nuestra esa herida
provocada por la especulación,
por el soborno,
por la carencia de cuidados y de amor.
¡Mi tierra, qué dolor, cuánto quejido!
Los navíos negreros aún surcan las aguas turbias,
son espectros en el espacioso océano,
sus apariciones son casi tangibles.
Una parte de mí está encadenada en la bodega
hedionda, sigue la progresión del rapto
sintiendo el desgarro
de África, fantaseando con la libertad.
Escucho los gritos de espanto,
las súplicas de socorro
de mis hermanos Guarani Kaiowa.
¡Los ávidos de lucro quieren abrasarlo todo!
Quieren devorar la selva,
diezmar centenares de etnias,
con sus lenguas múltiples,
y la diversidad de sus costumbres y tradiciones.
Quieren transformar en humazo, hoy,
nuestro mañana. ¡Nos oponemos!
Lloramos, entonamos himnos de guerra y
luchamos con arcos y flechas.
(combate desigual e inicuo).
Nuestros pies, magullados en el atropello
merecen descanso!
Nuestras manos, tejedoras de humanidades,
merecen respeto!
En este preciso momento una criatura
mama de mi seno:
una niña llamada Esperanza.
Yo canto en voz baja, tarareo apenas
soy chamán:
conozco plegarias y rogativas,
preparo ungüentos,
elaboro aljabas,
lanzo maleficios a los siete vientos,
mi lengua cura y segrega venenos.
Mi corazón es un brasero que,
arde de amor: ¡fuego sacro!
El cielo estrellado de mi tierra
tintinea dentro de mi boca!
__Voy a defender la memoria viva
__de tus pueblos!
Cuando palpo tu faz
(como un invidente)
tratando de conocer tu fisonomía,
mi tierra, me busco en ti:
necesito conocer la raíz de la planta que soy,
comprender los fundamentos de mis hojas,
frutos, y flor…
¿Cómo cantar esta brasilidad?
Dejo que los pájaros lo hagan por mí,
el viento silbará tu himno.
Esa bienaventuranza abrasadora
orgullo matrio que ilumina mi pecho
va más allá
de satisfacciones y sufrimientos,
___ es pasión,
___ piedra luna:
refleja muchos colores y resplandece.
Donde estoy estás conmigo, Brasil,
mi tierra,
mi amor.
RB, Lisboa, 7 de septiembre de 2013.
Manifiesto de esta poeta:
Hoy, 7 de septiembre, conmemoramos la «Independencia de Brasil», pero, nuestro Brasil aún no es libre, desgraciadamente. Aún serán asesinados muchos Tiradentes, por desgracia; aún va a correr sobre este suelo sagrado la sangre de muchos ecologistas, como la de Chico Mendes, de la hermana Dorothy, del capixaba Paulo Cesar Vinha. Para que se establezca un nuevo orden, una nueva forma de concebir el «progreso», para que seamos realmente libres, necesitamos escuchar el grito que viene de las florestas, de los callejones oscuros, de los hospitales, de las escuelas; necesitamos abrir los oídos, quitar la cera del interior de los oídos, y lo más importante, necesitamos actuar. El verdadero progreso tiene nombre y apellido: Piedad y Sustentabilidad.
A Tupiniquim que me habita
Em memória dos índios que habitaram a ilha de Vitória antes da colonização portuguesa, e para aqueles que, ainda hoje, resistem à opressão e lutam pela cidadania.
Há dentro de mim uma noite arcaica,
cujas trevas quase podem ser apalpadas.
Há também uma floresta densa,
onde as árvores fazem colóquios.
Dessa escuridão ouço ecos de vozes, sussurros.
O meu corpo estremece com a batida de um tambor,
não posso ignorar essa cadência que faz de mim quem sou.
O sangue espiritual de um povo carrega
o registro da história de sua resistência.
Vi se chocarem dois mundos.
vi colidirem crenças e tradições.
Vi a terra banhada em sangue.
Vi cortejo de ladrões levarem para longe,
além do ouro e da madeira, a fé, a esperança e a alegria…
Todos esses registros estão dentro de mim.
Habita o meu abissal uma índia Tupiniquim
com cabelos serpentinos e olhar de âmbar.
Suas mãos sabem fazer unguentos,
curam mágoas seculares, ressentimentos,
à noite, devolvem a coragem ao guerreiro.
Quando eu cuido de um pássaro que caiu do ninho,
ou defendo um animal como se meu filho fosse,
não sou eu, é ela, a índia de canto doce…
Todo capixaba traz um índio dentro de si,
que o impele a resistir à opressão.
Esse ente faz com que sejamos singulares…
Precisamos aceitar essa marca de Caim
(passaporte dos livres…).
O capixaba é herdeiro desse povo combatente,
é presença, presente, porvir…
RB
La Tupiniquim que me habita
En recuerdo de los indios que poblaron la isla de Vitória (ES) antes de la colonización portuguesa y durante ella: y para aquellos que, aún hoy, resisten la opresión y luchan por la ciudadanía.
En mi interior duerme una noche arcaica
cuyas tinieblas casi pueden palparse.
Crece también una espesura densa,
donde los árboles organizan coloquios.
De esa oscuridad oigo ecos de voces, susurros.
Mi cuerpo se estremece con el batir de un tambor,
no puedo ignorar ese ritmo que hace de mí quién soy.
La sangre espiritual de un pueblo porta
el registro de la historia de su resistencia.
Vi chocar dos mundos. Sentí el embate de creencias y tradiciones.
Vi mi tierra bañada en sangre.
Descubrí el cortejo de ladrones llevándose muy lejos,
con el oro y la madera, la fe, la esperanza y la alegría…
Todos esos registros permanecen dentro de mí.
Habita mi profundidad marina una india Tupiniquim
de cabellos ondulados y ambarina mirada.
Posee habilidades para preparar ungüentos,
cura pesadumbres seculares, resentimientos,
en la noche, devuelve el arrojo al guerrero.
Cuando curo un pájaro que cayó del nido,
o protejo a un animal como si fuera mi hijo,
no soy yo, es ella, la india de cántico dulce…
Cualquier capixaba refugia un indio en su interior,
que le impulsa a oponerse a la esclavitud.
Ese ente posibilita que seamos singulares, especiales…
Necesitamos aceptar esa marca de Caín
(salvoconducto de los libres…)
Ser capixaba es ser heredero de ese pueblo luchador
es ser presencia, es ser presente, es ser lo venidero…
Ser poeta
Ser poeta é cantar alto
mesmo com a voz embargada
enquanto o dia refracta toda a luz
É esperar com as mãos estendidas
para doar a vida
É cantar de um quarto escuro
de onde, mais claramente,
se pode sentir as cores e os cheiros
É buscar o outro
e encontrar a si mesmo
Passado, presente e
futuro fragmentado
quando coisas esquecidas
afloram de repente
Narciso sabia de tudo
e fez um mergulho preciso
nas águas turvas do rio do potencial
Estige
Foi em busca do seu sol
e do sentido que o fará um dia
emergir deus
A solidão é um abismo
e guarda uma paz preciosa!
Sou poeta e canto
Arrisco a Vida
Se a voz embargada irrita
Canto, canto e canto mais ainda,
e não ligo.
RB
Ser poeta
Ser poeta es cantar fuerte
incluso con la voz contenida
mientras el día refracta toda su luz
Es tender las manos esperanzadas
para entregar la vida
Es cantar en una habitación oscura
desde donde, con mayor claridad,
se pueden percibir colores y olores
Es buscar al prójimo
y encontrarse uno mismo
Pasado, presente y
pedazos de futuro
cuando lo desdeñado
emerge impetuoso
Narciso conocía todo
y efectuó una inmersión exacta
en las aguas lóbregas del prodigioso río
Estige
Buscándose en su propia entidad
y en el sentido que le permitirá un día
emerger dios
La soledad es un abismo
y atesora una paz preciosa!
Soy poeta y canto
arriesgo la Vida
Si la voz reprimida enfada
Canto, canto y canto más todavía,
y no enlazo
Festival Internacional de Poesía de Granada (Nicaragua) En el estrado, declamando, Renata Bomfim
Nicarágua Dedico aos amigos poetas nicaraguenses
Na Nicarágua as noites estreladas
são uma tela de Van Gogh.
Que feitiço prendeu meu coração
ao do Momotombo?
Que saudades portuguesas cantei
nas ilhas do Cosibolca?
A força da poesia colore o sangue
desse povo alegre e sofrido
que não se cala frente à opressão e trabalha
declamando o “Lo fatal” de Darío.
Na praça de Granada as moças vendem
maçãs de ouro e goiabas de prata.
A fé guiou meus passos à catedral de León
chorei, sorri e Celebrei como se leoa fosse ou
Quetzalcoatl, a serpente emplumada.
RB
Nicaragua Dedicado a los amigos poetas nicaragüenses
En Nicaragua, las noches estrelladas
son una pintura de Van Gogh.
¿Qué sortilegio ligó mi corazón
al de Momotombo?
¿Qué nostalgias portuguesas canté
en las islas de Cosibolca?
La energía poética colorea la sangre
de ese pueblo alegre y sufrido
que no calla ante la opresión y trabaja
declamando “Lo fatal”, de Darío.
En la plaza de Granada las muchachas ofrecen
manzanas de oro y guayabas de plata.
La fe condujo mis pasos a la catedral de León
lloré, sonreí y Celebré como si fuese leona o
Quetzalcoatl, la serpiente emplumada.
Relíquias
Ah! minha rudeza,
Sou casca grossa de árvore milenar,
Para além da beleza sei, como ninguém,
arranhar, ferir, fazer sangrar…
Fui banida das aldeias tecnológicas,
Caim nem um pouco arrependido,
Poeta expulso da pólis por
Criar quizumba e recitar palavras
perigosas como amor e liberdade…
Errante, sigo pelos caminhos recolhendo
Os espólios da guerra,
Objetos quebrados entre escombros:
Relíquias da minha solidão.
RB
Residuos
Ah! mi tosquedad,
soy corteza gruesa del árbol milenario,
más allá de la belleza sé, como nadie,
arañar, herir, desangrar…
Fui proscrita de las aldeas tecnológicas,
Caín sin el menor arrepentimiento,
poeta expulsado de la polis por
originar tumulto y declamar palabras
subversivas como amor y libertad…
Errante, voy por los caminos recogiendo
los despojos de la guerra,
objetos despedazados entre escombros:
residuos de mi soledad.
Questões poéticas
Oh! Deus, que dor é essa que
parte de lugar que desconheço
e vem se instalar aqui dentro,
fazendo do meu peito berço,
cela, cemitério?
Quem me legou esse fadário
que insiste em ser presente
antes mesmo de eu ter sido feito:
antes do feto, do eu e do desejo?
Meu defeito:
não ser outro e
tantos e tantas.
Minha sorte:
vagar, ser estrangeiro,
um estranho até para mim mesmo.
Por que me assombra
o fantasma da esperança?
Espírito que anima as Águas,
que faz os bosques serem verdes,
erro pelo deserto
o meu único abrigo são as grutas frias.
O que faço com essa angústia intraduzível?
a alma canta em meio à dor,
a lira não a acompanha.
O olhar do animal me enternece,
assim como a invisibilidade do marginal,
a fome do outro,
a fome que se agita dentro do corpo.
Há fome virando a esquina.
recordo a árvore que não deixaram viver,
e sinto…
O cimento cobre toda a cidade,
machuca os meus pés.
Os pássaros perdem a cor pelos espaços.
Ouço um bonsai gritando:
—Me deixem crescer!
Ele não suporta mais
spodado, amarrado…
E os néscios argumentam,
dizem que as mutilações
são (de)corações.
Coração de que? De quem?
─ Tudo em nome da beleza!
O bonsai jamais será uma árvore frondejante,
nunca será o que deveria ter sido.
Pobre planta!
Assim como muitos outros seres
cumpre um destino traçado por mãos habilidosas.
Haverá compaixão nisso?
Há pessoas que acreditam em pecado,
no céu, no inferno, em Papai Noel.
Há pessoas que rezam lamentando o dia chuvoso
e clamam:
—Senhor, Senhor…
Por essas pessoas eu choro
lágrimas ácidas,
mesmo achando que não merecem,
mesmo sem querer!
Sou poeta e tudo isso me atravessa,
incontáveis e desconhecidos sentidos.
Muita coisa escapa à minha compreensão.
RB
Asuntos poéticos
¡Oh, Dios! ¿Qué dolor es ése, que
partiendo de un lugar que desconozco,
viene a alojarse aquí dentro,
haciendo de mi pecho cuna,
celda, camposanto?
¿Quién me legó ese sino
que insiste en presentarse
antes aún de haberme hecho:
antes del embrión, del yo y del deseo?
Mi inconveniente:
No ser otro y
tantos y tantas.
Mi suerte:
estar ocioso, ser extranjero,
un extraño incluso para mí mismo.
¿Por qué me maravilla
el espectro de la esperanza?
Espíritu que aviva las Aguas,
y crece verdes los bosques,
me extravío en el desierto,
mi único refugio son las grutas frías,
¿Qué hago con esta congoja inexplicable?
El alma canta en el momento al dolor,
la lira no la acompaña.
La mirada del animal me enternece,
así como la invisibilidad de lo marginal,
el hambre del otro,
el hambre que se agita dentro del cuerpo.
Hay hambre al doblar la esquina.
Recuerdo el árbol que no dejaron vivir,
y siento…
El cemento cubre toda la ciudad,
desuella mis pies.
Los pájaros pierden el colorido en las distancias.
Oigo el grito de un bonsái:
—Déjenme crecer!
Ya no aguanta
ser podado, sujetado…
Y los ignorantes aducen,
aseguran que las mutilaciones
son (de) corazones.
¿Amor de qué? ¿De quién?
─ Todo en nombre de la estética!
El bonsái nunca será un árbol frondoso,
nunca será lo que debiera haber sido.
¡Pobre planta!
Igual que otros muchos seres
se somete a un destino trazado por manos habilidosas.
¿Existirá compasión en eso?
Hay personas que creen en el pecado,
en el cielo, en el infierno, en Papá Noel.
Hay personas que rezan para librarse de un día lluvioso
Y claman:
—Señor, Señor…
Por esas personas lloro
lágrimas ácidas,
aún creyendo que no lo merecen,
aún sin querer!
Soy poeta y todo eso me agujerea,
incontables y desconocidas sensibilidades.
Muchas cosas escapan a mi entendimiento.
O canto da harpia
Cansei de ser sereia.
Cortei os cabelos,
As unhas cresceram.
No lugar das escamas,
indecentes e fortes plumas,
em tons de branco e cinza.
No alto da cabeça,
a crista erotizada,
eriça ao menor ruído.
Abro imensas asas,
Solto um grito.
Os olhos, de repente,
enxergam além.
Cansei de afogar marinheiros,
de cantar para a morte
dos despenhadeiros
e das rochas frias.
Assim como um bebê
saído do ventre,
saúdo a vida.
Mergulho fundo
no azul salpicado de lilases
do fim do dia e,
renasço de manhãzinha,
embriagada pelo amarelo
Ouro
desse universo
selvagemente novo.
RB
El canto de la harpía
Me cansé de ser sirena.
Corté mis cabellos,
crecieron las uñas.
En lugar de las escamas,
indecentes y fuertes plumas
en tonos blanco y ceniza.
En lo alto de la cabeza
la cresta erotizada,
se eriza al menor ruido.
Abro inmensas alas,
exhalo un grito.
Los ojos, de pronto,
divisan más allá.
Me cansé de ahogar marineros,
de cantar la muerte
de los despeñaderos y de las rocas frías.
Igual que un niño,
emergido del vientre,
glorifico a la vida!
Me sumerjo en lo profundo del azul
salpicado de lilos
del fin del día y
renazco de mañanita,
embriagada por el amarillo
oro
de ese universo
salvajemente nuevo.
Todo poema
Todo poema nasce livre e híbrido,
bicho de cauda, asa e bico.
Todo poema é menino e idoso:
é Deus criando no Caos,
é o Diabo nos queimando a sorte.
Poema é dor,
sorriso e contradição.
È variável e constante.
Imagens que brotam de um delírio,
o poema é colonizador do corpo do poeta,
especialmente das mãos.
É, também, arma que combate
a tudo o que não é devir.
É nascedouro de vozes e de rostos,
cemitério onde jazem os heróis
mortos pela vergonha.
RB
Todo poema
Todo poema nace libre y mestizo,
animal de rabo, ala y pico.
Todo poema es niño y anciano:
es Dios ordenando el Caos,
es el Diablo abrasando nuestro destino.
Poema es dolor,
sonrisa y contrasentido.
Es voluble y constante.
Imágenes procedentes del delirio,
el poema se adueña del cuerpo del poeta,
en especial de las manos.
Asimismo, es arma que ataca
todo lo que no es renovación.
Es introito de voces y rostros,
cementerio donde yacen los héroes
apagados por la ignominia.
Memórias do corpo
Todo corpo tem memória
guarda lembranças das dores,
prazeres, fracassos, glórias.
Todo corpo tem, também,
Deus e o Diabo dentro.
Viva o corpo
Corpo vivo
Viva sim, que a Morte vem!
Cada parte do corpo
inventa para si um viver:
algumas mãos escolhem cavar
em busca de ouro;
outras, em busca de ossos.
Pés decidem tornar-se um com a estrada;
já outros criam raízes,
chegando a conhecer águas profundas.
Há bocas que sorriem
como meninas que usam tranças;
outras tornam-se fechaduras,
lacres, selos, labirinto.
Os ventres pulsam e abrigam vida,
mas alguns, menos compromissados,
gostam de fazer ventania.
O corpo se reinventa sempre,
até mesmo no seu último estágio,
quando se desintegra
passando a compor algo
maior que ele mesmo.
Então ele realiza o seu destino
o mais nobre de todos:
ser Terra!
RB
Memorias del cuerpo
Cualquier cuerpo tiene memoria,
puede evocar dolencias,
placeres, errores, glorias.
Un cuerpo cualquiera lleva consigo, además,
a Dios y al Diablo, en su interior.
Viva el cuerpo
Cuerpo vivo
Viva, sí, que la muerte llega!
Cada parte del cuerpo
se inventa una manera de vivir:
hay manos que prefieren cavar
en busca de oro
otras lo hacen en busca de huesos.
Algunos pies deciden integrarse en la carretera
inmediatamente otros, crían raíces,
llegando a descubrir aguas profundas.
Hay bocas sonrientes
como niñas que lucen trenzas,
otras se vuelven cerraduras,
lacres, cuños, laberinto.
Los vientres palpitan y albergan vida
pero algunos, menos comprometidos,
prefieren producir ventoleras.
El cuerpo se reinventa siempre
incluso en su último aprendizaje
cuando se desintegra
pasando a formar parte de algo
más grande que él mismo.
Entonces consuma su destino
el más noble de todos:
¡Ser Tierra!
Vinho amargo
Hoje recebi um NÃO,
Que me deixou
Forte como um touro,
Aguerrida como um leão.
Bebi cada letra da palavrinha obscena
Com finura, elegância,
Sem perder a pose:
Vinho amargo em taça baccarat.
Lembrei dos meus irmãos escritores que,
Antes de mim, sentiram as mesmas dores:
Proust, Joyce, Stephen King, o amigo
Gatófilo Edgar Allan Poe…
Pobre daquele que desconhece
O doce sabor do incentivar,
do se interessar pelo outro,
Não sentiu no céu da boca
A textura macia da cortesia e
Ignora o poder da parceria…
Eu continuo linda e quase loira!
Deixo a todos o meu abraço
E continuarei tentando
Encontrar uma editora.
RB
Vino amargo
Hoy recíbí un NO rotundo,
que me dejó
recia como un toro ibérico,
aguerrida como un león rampante.
Saboreé cada letra de la pecaminosa palabreja
con delicadeza, elegancia,
sin ceder un ápice de las buenas maneras:
vino amargo en copa de perfección baccarat.
Me acordé de mis hermanos escritores que,
antes de mí, soportaron el mismo agravio:
Proust, Joyce, Stephen King, el amigo
atraído por los gatos, Edgar Allan Poe…
Desdichado de aquel que desdeña
el dulce sabor de estimular,
no sintió en el cielo de la boca
la textura tierna de la cortesía,
ignora el poder de la colaboración social…
continúo tan lozana y mis cabellos son casi de oro!
Entrego a todos mi cariño
y prometo seguir intentando
encontrar una editora.
Mundo ilha, ilha mundo
Dedico este poema aos jovens insurretos da Terra!
Não firam os meus filhos,
Abutres dos campos sangrentos,
Vermes de defuntos seculares,
Covardes!
Não firam os meus filhos que,
Cansados de errar sedentos e famintos,
exigem o direito a água da Justiça e
Ao pão da Verdade.
Meus olhos já viram quase tudo
Nesse mundo Ilha, nessa Ilha mundo,
Ainda se surpreendem, estarrecem,
E sangram com o absurdo:
A imagem tétrica da Justiça cega
Fornicando com o obtuso e gerando
Quimeras, Demônios e Súcubos.
RB
Mundo Isla, Isla mundo
¡Dedico este poema a los jóvenes sublevados de la Tierra!
No mutilen a mis hijos,
buitres de los campos teñidos de sangre,
gusanos nutridos de cadáveres durante siglos,
¡cobardes!
No mutilen a mis hijos que,
cansados de errar sedientos y hambrientos,
exigen el agua de la Justicia y
el alimento de la Verdad.
Mis ojos que han visto casi todo
en este mundo Isla, en esta Isla mundo,
aún se asombran, aterrorizados,
desangrados por la sinrazón:
La imagen pavorosa de la Justicia ciega
fornicando con monstruos para engendrar
Quimeras, Demonios y Súcubos.
Ensaio sobre a despedida
_A Luiz Alberto na minha saudade
Quando eu não mais estiver aqui,
amado, cuide das minhas roseiras,
alimente os gatos, os macacos,
conte histórias para os pinheiros
e para as laranjeiras.
serão teus os meus poemas,
os livros, e as lembranças…
o resto não importa:
doa, joga fora…
o resto não importa.
a vida é esse sopro,
quando nos damos conta
é outono…o inverno chega
sorrateiro e leva tudo aquilo
que não realizamos.
enquanto estou aqui,
querido, me ame sem medida,
me faça rir, deixe marcas
pelo meu corpo, me sirva
um petit gateau.
Em retribuição lhe oferto
essa coisa abstrata e confusa
que pulsa dentro do meu peito:
amor.
RB Lisboa e outubro
Ensayo sobre la despedida
___A Luiz Alberto, en mi añoranza
Cuando yo no esté, definitivamente, aquí,
Amado mío, cuida de mis rosales,
alimenta a los gatos, a los monos,
sonríe a la mañana,
cuenta historias a los abetos
y a los naranjos.
Sonríe a la tarde y a la noche.
Serán tuyos mis poemas,
los libros,
los mosaicos y los inmarcesibles
recuerdos…
el resto no importa:
regala, abandónalo…
El resto no importa.
La vida es apenas un soplo,
cuando nos demos cuenta
ya será otoño…el invierno llegará
soterrado
llevándose todo aquello
que no supimos concretar.
Mientras esté aquí,
Querido mío, ámame sin medida,
hazme reír, deja huellas
de tus manos,
de tus brazos en mi cuerpo, sírveme
un petit gateau.
Haz que rían todos
los poros de mi piel.
Ahora y siempre te ofrezco
esa llama inconcreta e indefinible
que se agita dentro de mi pecho;
ese sentimiento candente y dominante
llamado,
pura y simplemente:
AMOR.
RB, Lisboa y Octubre
Terra de Santa Cruz
Voo nas asas da Arara,
Guiada por espírito ancestral.
Busco dentro de mim,
O animal que sou.
Busco do anil, na terra pisada,
As sementes da árvore sagrada:
Seiva, sangue e brasa.
Pau-brasil!
Árvore cujas folhas adornavam as matas.
Vou libertar das entranhas a jaguatirica
E lutar, lutar e se preciso, morrer
por este chão, por este céu, por este ar,
pela glória de Tupã.
A Terra de Santa Cruz
voltará para os seus filhos,
Netos e amantes.
Serão expulsos do seu seio
Os piratas, os garimpeiros,
Os hipócritas e os falsos profetas.
Haverá silêncio no alto do jacarandá,
No fundo e nas margens dos rios.
Não haverá nem um pio, nem passos,
Nem ódio, nem dor:
O Uirapuru voltará a cantar.
RB
Tierra de Santa Cruz
Vuelo en alas de la Arara
Conducida por el espíritu de los ancestros.
En mi interior busco
el animal que soy.
Busco del índigo, en la tierra transitada,
las semillas del árbol sagrado:
savia, sangre y brasa.
¡Pau-brasil!
árbol cuyas hojas adornan los bosques.
Libertaré de las entrañas al gato salvaje
y lucharé, lucharé y moriré si es preciso,
por este suelo, por este cielo, por este aire,
por la gloria de Tupã.
La Tierra de Santa Cruz
volverá a sus hijos,
a sus nietos y a los que la aman.
Serán expulsados de su seno
los piratas, los buscadores de oro
los hipócritas y los falsos profetas.
Reinará el silencio en la copa del jacarandá,
En el fondo y en las riberas de los ríos.
No se oirá piar, ni se oirán pasos,
Acabarán el odio y el dolor:
el Uirapuru volverá a cantar.
Campos desconhecidos
Dentro de mim há paisagens.
Voam livres e barulhentos
os corvos de Van Gogh
sobre os campos de trigo.
Me persegue uma nostalgia do não vivido:
Os rios, sempre inéditos aos olhos de Heráclito,
aos meus são um tédio.
Há ainda, nos meus confins, canyons, mangues,
matas e cerrados, por onde caminham
os lobos e suas crias e outros animais.
Este espaço é ambíguo, às vezes me amedronta.
Há também muitos penhascos,
Há céu azulado,
há prazer, dor, fome, mágoa,
histórias sórdidas e livros que não ouso ler.
A Morte, mocinha refinada,
mora bem perto de todos os meus descampados.
É possível ouvir o som, rouco, do seu riso.
Até onde alcança a vista
eu quero chegar, e ir mais longe ainda.
Quero explorar esse território estranho.
Sou nômade!
Desse mundo pouco sei,
Dizem que é meu, mas duvido.
Me pertence apenas a poeira no sapato
Que trouxe das terras por onde andei.
Conto com a benevolência da memória
que não me deixa esquecer
as alegrias, nem as desgraças vividas.
Talvez seja por ela, ou por isso,
que eu ainda esteja aqui, assim, sonhando
com a falácia da unidade.
RB
Fragmento central de Los Cuervos de Vincen Van Gogh
Campos desconocidos
Poseo paisajes internos.
Vuelan libres y ruidosos
los cuervos de Van Gogh
sobre los campos de trigo.
Me acosa cierta añoranza de lo no vivido.
Los ríos, siempre nuevos a los ojos de Heráclito,
a mí me producen aburrimiento.
Existen, hasta ahora, en mis confines, canyons, mangles,
bosques y cercados, por donde caminan
los lobos, sus crías, y otros animales.
Este espacio es equívoco, a veces me da miedo.
también abundan los peñascos,
el cielo es azulado,
se siente placer, dolor, hambre, amargura,
hay historias indecentes y libros que no oso leer.
La Muerte, tierna, distinguida,
mora bien cerca de todos mis baldíos
es posible oír el sonido bronco de su risa.
Hasta donde la vista alcanza
quiero llegar, incluso ir aún más lejos.
Quiero explorar ese territorio desconocido.
¡Soy nómada!
De ese mundo sé poco,
aseguran que es mío, pero lo dudo,
solamente me pertenece el polvo de los zapatos,
traído de las tierras recorridas.
Cuento con la buena disposición de la memoria
que no me deja olvidar
las alegrías ni las desgracias vividas.
Acaso sea ella la causa, o ese el motivo,
de que aún esté yo aquí, así, soñando
con el engaño de la unidad.
A vida e a morte A Maria Lúcia del Farra
«Triste, a florir, numa ansiedade vã!
Sempre da vida – o mesmo estranho mal,
E o coração – a mesma chaga aberta!
(Florbela Espanca)
Gostaria de lhe oferecer rosas,
Mas despetalei todas
Com prazer e devoção.
Veja as minhas mãos feridas,
Assim como o meu coração,
Prenhe de dor e possibilidades.
Terra, dá-me pousada!
Fiz amor com a noite,
Gozei alvoradas,
Minha carne tremula, ansiosa,
À espera do banquete…
Adornada com raízes,
Coberta com citrinos e ágatas,
Serei toda desfazer.
Receberei da Lua a prata e
Conhecerei a melodia
“Portentosa e simples”
Que a vida e a morte,
Misteriosamente, guardam.
RB
La vida y la muerte A Maria Lúcia del Farra
Triste, flor brotando, en una angustia inútil!
Siempre de la vida – el mismo incomprensible mal,
Y el corazón – la misma llaga abierta!
(Florbela Espanca)
Quisiera ofrecerle rosas,
pero uno a uno retiré los pétalos
fervorosamente gozando.
Observe mis manos heridas,
igual que mi corazón,
henchido de dolor y oportunidades.
Tierra, dame cobijo!
seduje a la noche,
saboreé alboradas,
mi carne palpitante, ávida,
esperando el banquete…
Embellecida con raíces,
revestida de citrinos y ágatas,
seré toda desorden,
aceptaré de la luna su plata y,
comprenderé la melodía
(portentosa y simple)
que la vida y la muerte,
entre misterios, guardan.
O meu poema na boca
O meu poema
é desejo, ânsia…
Vontade louca
de unir a minha boca
à boca do mundo
num beijo.
RB
Mi poema en la boca
Mi poema
es deseo y es ansia…
Es la voluntad fervorosa
de unir mi abierta boca
a la boca del mundo
en un beso.
Exílio
No Mar da indiferença,
Ao exílio condenada,
Sou Capitã de esperanças.
A minha pena navega,
A minha alma vaga.
No Oceano povoado,
Por letras, acentos e velas,
Busco a folha em branco.
Terra firme onde a palavra,
Insurrecta e livre, prospera.
RB
Exilio
En el Mar de la indiferencia
Condenada al exilio,
Soy Capitán de esperanzas
Mi pena navega,
Vagabundea mi alma.
En el Océano habitado
Por letras, acentos y velas,
Descubro la hoja en blanco.
Tierra firme donde la palabra,
Insurgente y libre, progresa.
Anticanto, antitudo
Vai!
sai daí!
pula fora!
Arranca a tiara de flores
da cabeça e da cara
o sorriso de Monalisa.
morde o sapo
muda a história
muda os contos fadados
e seus finais felizes hipócritas.
Sê feliz hoje!
acorda!
Vai! Sai daí! Vai! Logo!
O príncipe não vem te beijar,
respira fundo, busca ar,
inventa uma coroa de glória e,
orgulhosa, veste-a
para o deleite dos teus súditos:
serpentes e bestas.
RB
Contra el himno, contra todo
¡Anda,
sal de ahí,
vete fuera!
Arranca la mitra florida
de las sienes y del rostro
el mohín de Monalisa.
muerde al sapo
rectifica la historia
enmienda los cuentos de hadas
y sus finales felices hipócritas.
¡Sé feliz hoy!
despierta!
Vete! Corre! Lárgate! Inmediatamente!
El príncipe no vendrá a besarte,
respira hondo, llena los pulmones,
fantasea con una aureola de gloria y,
vanidosa, corónate
para deleite de tus súbditos:
serpientes y bestias.
O grito da Rosa
Talvez não escutes a minha voz!
Todos os dias vês corpos mutilados,
crianças famintas,
mulheres violadas,
e pensas que é tudo ficção.
Na TV o sangue é de catshup,
as feridas não doem,
as lágrimas não são salgadas,
e a raiva, o ódio e a intolerância
são performances, são vazias.
Eu te incomodo, sim!
Te arrasto da zona de conforto,
é por amor! por amor…
Para que abras os olhos e enxergues
a realidade nua, crua, indecente
como nenhuma outra poderia ser inventada.
Vê, o sangue é de verdade,
a dor é lancinante,
O medo se torna uma sombra e,
as lágrimas ardem e queimam,
enquanto correm como ácido pelo corpo.
Na minha pequenez grito o teu nome,
para que despertes da letargia.
E vejas Édipo atravessando a rua,
Jocasta descascando batatas e
compreendas que nós e os outros,
neste mundo que fica cada dia menor,
se não tivermos o mínimo de esperança,
delinearemos conceitos novos
e inusitados para o trágico.
RB
El grito de La Rosa
Puede que no escuches mi voz!
A diario ves cuerpos mutilados,
niños hambrientos,
mujeres violadas,
y crees que todo es ficción.
En la imitación la sangre es salsa de tomate,
las heridas no duelen,
las lágrimas son gotas de agua dulce,
y la rabia, el odio y la intolerancia
pertenecen al teatro, están vacías.
Mis versos te incomodan, sí!
Te sacan del área protegida,
eS por amor! Lo hacen por amor…
Para que abras los ojos y percibas
la realidad desnuda, cruda, indecente,
más allá de cualquier fingimiento.
Mira, la sangre es de verdad,
el dolor es lacerante,
el miedo se hace oscuridad y
las lágrimas arden y queman,
mientras resbalan como ácido por el cuerpo.
En mi insignificancia grito tu nombre,
para que despiertes del letargo.
Y veas a Edipo cruzando la calle,
a Yocasta pelando patatas y
comprendas que nosotros y los otros,
en este mundo que se torna cada día más pequeño,
si no tuviéramos un mínimo de esperanza,
delinearíamos conceptos nuevos,
e insólitos para lo trágico.
Dionísio À memória de Rubén Darío
Na selva sagrada
os instintos afloram.
Cada planta, cada bicho, o ar,
tudo é vivo, tudo fala.
Do verde brotam
movimentos sinuosos,
sussurros, risos…
É a ninfa que do deus imponente
bebe o vinho.
Ela se torna a própria taça
transbordante de desejos.
Dionísio, em desalinho, a enreda
arrastando-a, furtivo, por entre a relva,
para que desabroche, caprichosa e perfumada.
Ela cede aos seus apelos e se deixa possuir.
Seu corpo agora é fluidez entre mãos ásperas.
É gazela. Impiedosa,
a sua lança a transpassa.
Fustigada, ela quer mais…
Agora os dentes do deus na carne se adentram
marcam-na signos criados
por seus chifres reluzentes.
A ninfa ascende entre agonias,
a selva orquestra gemidos de prazer.
Em êxtase, comungam contentes.
Ela reverencia o deus pagão
senhor dos seres desse reino.
Depois, descansa, recordando o idílio,
até que a noite a cubra
com seu manto de prata.
RB
Dionisio A Rubén Darío, In Memoriam
En la sagrada selva
los instintos despuntan.
Cada planta, cada animal, el aire,
Todo vive, todo habla
Del verde surgen
serpenteantes sacudidas,
murmullos,
risas…
Es la ninfa que del dios majestuoso
sorbe el vino.
Se transforma ella en la propia copa
rebosante de deseos.
Dionisio, perturbado, la desorienta
arrastrándola, oculto, por el pasto,
para que se abra, atrevida y perfumada.
Ella cede a su solicitud y se entrega.
Su cuerpo, ahora, se funde entre las ásperas manos.
Es gacela. Inhumana,
su lanza la penetra.
Activada, ella quiere más…
Ahora los dientes del dios laceran la carne
marcando huellas dibujadas
por los cuernos refulgentes.
La ninfa se eleva entre estertores,
la selva compone una sinfonía de gemidos gozosos.
Extasiados, comulgan satisfechos.
Ella adora al dios pagano
señor de los seres de ese reino.
Luego, descansa recordando el idilio,
hasta que la noche la arropa
con su manto de plata.
Dionysos Pour Rubén Darío, In Memoriam
Dans la sacrée forêt
les instincts bourgeonnent.
Chaque plante, chaque animal, l’air,
tout vit, tout parle.
Du vert ils surgissent
serpentantes secousses,
murmures,
rires…
C’est la nymphe que du dieu majestueux
boit le vin.
Elle se transforme dans la propre coupe
débordant de désirs.
Dionisio, perturbé, la désoriente
en la traînant, occulte, par le pâturage,
pour qu’elle s’ouvre, osée et parfumée.
Elle cède à sa sollicitude se soumettant.
Son corps maintenant se fond entre les âpres mains.
C’est une gazelle. Inhumaine,
sa lance la pénètre.
Déclenchée, elle veut plus…
Maintenant les dents du dieu lacèrent la chair
en marquant empreintes dessinées
par les cornes resplendissantes.
La nymphe s’élève entre râles,
la forêt compose une symphonie
de gémissements heureux.
Extasiés, communient satisfaits.
Elle adore au dieu païen
seigneur des êtres de ce royaume.
Après, il repose en rappelant l’idylle,
jusqu’à ce que la nuit la couvre
avec son manteau d’argent.
(Traducido al francés por Pedro Sevylla)
O que é o amor?
O que é o amor, Tatá?
Vinho tinto em taça quase vazia,
Sorvemos desesperados…
Pensei que a vida fosse só rosas,
Que haveria sempre uma cama estendida
(Com lençóis de cetim)
Que os ponteiros do relógio seriam
As testemunhas do nosso idílio…
Tatá, o que é o amor?
O mito da eterna felicidade,
Júbilos e gotas douradas, ou
Um homenzinho voador e inconveniente,
Nos atormentando com flechas inflamadas,
Como uma mosca-varejeira rondando a carniça?
Vou te dizer o que penso do amor:
É toda a ironia do mundo reunida,
(Ouço as gargalhadas cósmicas)
Um complô da natureza,
Um fado triste e bonito que brota
Da boca de uma viola portuguesa.
O amor, Tatá, são todos os livros
Que reuni na minha biblioteca particular.
e que desejo ora esconder, ora compartir.
Quando eu não estiver mais aqui,
Quem irá lê-los, meu amor? Não me importa!
Eles permanecerão para que ninguém,
Absolutamente ninguém, se esqueça de mim!
Estarei distribuída em cada página, em cada letra.
Amar, amar, amar… : No princípio era o verbo…
RB
Qué es el amor?
Qué es el amor, Papá?
Un poco de vino en la copa,
Que sorbemos desesperados…
Pensé que la vida estaba hecha de rosas,
Que habría siempre una cama abierta
(Con sábanas de raso)
Que las manecillas del reloj serían
testigos de nuestro amor soñado…
Papá, pero qué es el amor?
El mito de la eterna felicidad,
Júbilo y oro derretido, o Un
Hombrecillo volátil e inoportuno,
Atormentándonos con flechas llameantes,
Como un tábano rondando la carroña?
Voy a decirte lo que pienso del amor:
ES todo el sarcasmo del mundo reunido,
(Oigo las carcajadas cósmicas)
Una conspiración de la naturaleza,
Un fado triste y bello que brota
De la boca de una viola portuguesa.
El amor, Papá, es todos los libros
Que reuní en mi propia biblioteca.
Libros que deseo ora esconder, ora compartir.
Cuando yo me haya ido del todo,
Quien los leerá, mi amor? No me importa!
Mis libros permanecerán para que nadie,
Absolutamente nadie, se olvide de mí!
Estaré viva en cada página, en cada letra.
Amar, amar y amar… : En el principio era el verbo…
Os guardas do Paraíso
No centro da minha cidade
existe uma Árvore.
Guardado por homens
armados. Não são anjos,
são os guardas do paraíso.
Um dia atrevi-me.
Tomei conselho com as sombras,
planejei sob o manto escuro da noite
um jeito, uma forma de provar do fruto.
Há palmeiras rebuscadas
e sabiás nesse paraíso seguro.
Há também macacos prego
espreitando bananeiras
do lado de fora dos muros.
O abacateiro do paraíso, protegido
Por homens de dentes de ferro, de pesado
arriou os galhos.
Embora haja muitas frutas é proibido
sucumbir ao pecado da gula.
Por isso regulam a distribuição
de alimentos: «um cuidado adicional»,
é o que dizem os guardas do paraíso.
Mas, da Árvore que fica no centro
da cidade, não se pode nunca provar o fruto.
Desejo sentir o sabor desconhecido,
Sussurro palavras de amor baixinho e,
Ao longe, observo o vento balançar
os longos galhos Verde-amarelados.
Algo em mim tremula.
Os frutos da Árvore não são vermelhos
e nem arredondados.
Parecem espirais resplandecentes e criam
Um halo de luz no centro da minha cidade.
O povo vive sob o fascínio da luz, embora
quase sempre faminto.
Tudo parece lindo!
Os homens serram a Árvore, afinal,
é a guarda especializada do paraíso.
Resisto e tramo, na noite, apoiada
Pelo demônio da revolta.
Busco um jeito, uma forma
De alimentar essa fome específica.
Serei eu a primeira a única rebelar?
Lá estão eles, os malditos
homens com dentes de ferro. Agora,
seguram punhais e escopetas
no centro da minha cidade.
RB, Vitória, dia 21/09/2018 (dia da árvore)
Los guardianes del Paraíso
En el centro de mi ciudad
vive un Árbol.
Protegido por hombres
armados. No son ángeles,
son los guardianes del paraíso.
Un día lo intenté.
Me dejé aconsejar en las sombras,
proyecté bajo el manto oscuro de la noche
una manera, una forma de probar el fruto.
Hay palmeras escudriñadas
y sabiás en ese paraíso resguardado.
También hay macacos prego
espiando plataneras
desde fuera de los muros.
El aguacate del paraíso, protegido
por hombres con dientes de hierro, de cargado
ha inclinado las ramas.
Aunque abunden las frutas está prohibido
rendirse al pecado de la gula.
Por eso regulan la distribución
de alimentos: «una labor más»,
es lo que dicen los guardianes del paraíso.
Pero, del Árbol del centro
de la ciudad, nunca se puede catar el fruto
Deseo conocer el sabor imaginado,
susurro bajito palabras de amor y,
a lo lejos, observo al viento mecer
las largas ramas verdeamarillentas.
Algo en mí tiembla.
Los frutos del Árbol no son rojos
ni redondeados.
Parecen espiras resplandecientes y forman
un halo luminoso en el centro de mi ciudad.
El pueblo vive bajo la fascinación de la luz, aunque,
amenudo, hambriento.
¡Todo parece hermoso!
Los hombres talan el Árbol, después de todo,
pertenecen a la guardia especializada del paraíso.
Resisto y planeo, en la noche, alentada
por el demonio de la insurrección.
Busco una manera, una forma
de nutrir esa abstinencia específica.
¿Seré la primera o la única en rebelarme?
Ahí están ellos, los malditos
hombres con dientes de hierro. Ahora,
agarran dagas y escopetas
en el centro de mi ciudad.
Fantasmas de la Esperanza En memoria de Paulo César Vinha.
Dejemos a Dios quieto
y vendimiemos las viñas de nuestra ira.
Suenen las trompetas
despierten las liras
pues, no existe un cielo además de éste que
conocemos y contaminamos.
Hombres, ¿hasta cuándo
la tierra será inundada
con la sangre de vuestros hermanos?
¿Hasta cuándo morirán indios,
negros, mujeres, niños,
bastardos y desempleados,
y la contratación de otros seres degradados?
¿por qué no somos capaces de percibir
que el rostro desfigurado
del hombre y de la mujer
sin nombre, sin casa y famélicos
es mi rostro y vuestro rostro, es nuestro rostro?
Por qué no aceptamos que
ese hombre y esa mujer son, también,
la flor que arrancamos,
el animal que asesinamos,
los árboles que dejamos abatir…
¿Hasta cuándo el cuchillo y el disparo
silenciarán las voces más esclarecidas?
Y que en el espacio de los árboles
se planten las sombras
de esas existencias olvidadas.
Murieron Paulo César Vinha,
Chico Mendes, Maria do Espírito Santo,
Dorothy, hermana querida,
murió José Cláudio Ribeiro da Silva,
defendiendo los castaños
y nuestra humanidad.
Muchos otros partieron también
traicionados por los suyos.
Ejército de vencidos
que se levantará un día
aún más fuerte, pues
existen cosas que no se pueden matar:
¡La Fe, la Esperanza, la Rebelión, la Justicia!
Es hora de inspirarnos
en los espectros de la esperanza, para que
las generaciones futuras puedan descansar, tener
aire, agua, espacio de existencia.
Nosotros nos perdemos en el laberinto
de la modernidad ourobólica,
construida con armas tecnológicas.
No tenemos, pero, seguimos buscando
alguien o algo que nos salve
de nosotros mismos.
el fill
Poema de Renata Bomfim
traduzido ao catalão por Pedro Sevylla de Juana
t’estimo molt, ens dement i ambigu,
nascut d’un part al revés.
et vas llançar des del cosmos cap a l’interior del meu úter,
vas mamar la meva llet sense xuclar els pits,
vaig rebre els teus missatges xifrats
(en codi morse o monster, no sé).
la teva presència bressolava els meus dies
encara que t’hagis format en la meva opacitat,
ets el fruit del meu somni.
Vas buscar aliment en el líquid dens, (tolla de la meva condició material)
vas devorar els meus òvuls (els teus germans)
vas nuar les meves trompes
vas xarrupar el nutrient brut, obscur i viscós
de la matriu, trencant els límits
de la meva feminitat.
mira, amic, sóc la mare d’aquesta espècie insòlita,
ésser que desitja transformar el món,
quan s’afarti de les meves entranyes.
fill,(obra meva i d’aquesta cosa obtusa)
si jo pogués emparar-te
si fos capaç de relegar el dolor la por i
ser per tu un niu, ho faria!
però, no puc ser tot!
llavors, neix! fes com tothom!
arriba cap a fora!
Si no puc concretar tots els teus somnis
(utòpics, mundans, sublims) puc deixar-te lliure!
Puc parir-te com indica el figurí
(amb sofriment i fatiga)
Vés-te! has de saber que hi ha vida fora de mi
allibera aquest espai petit i emmotllable
capaç de contenir el buit i l’univers.
RB
Poema (in)completo
Dedicado ao poeta venezuelano Adhely Rivero
I- O anjo
Sol do meio-dia,
Quente como o inferno.
Vejo anjos descansando,
Sob a copa do abacateiro.
Suados,
Faces pessegadas,
Saudosos do céu.
Mas, lindo,
Lindo mesmo é o anjo
Negro. Num átimo,
Os movimentos ligeiros.
Produzem frescor.
A visão extasia:
Invergadura, brilho,
Maciez das translucidas asas,
Fazem com que eu reze desejosa
Para que ele seja
O meu anjo da guarda.
II- Fome
Quero a tua carne
Tenra.
Sorver o teu dentro,
Conhecer o doce e o azedo.
Digerir certezas
Desfazendo-as uma a uma.
Até que não saibas nada.
Ah! o choque de sentir
A matéria sutil e bruta
Pelo avesso.
Ouvir a canção decantada
Captar o esplendor
De tua humanidade,
Vê-la emanando das sombras.
Desejo, desejo,
desejo não desejar nada
Além do absoluto.
III – O eterno é contraditório
Uma mesa com objetos.
Há máquinas fotográficas (a)guardando
Imagens magnificas.
– Só interessam a mim.
Ninguém quer saber
De mim
Das imagens
Carregadas de afetos.
Há canetas celibatárias.
Anos sem sentir o prazer da folha.
Eu sou o demônio das canetas.
Prefiro rasgar o branco do papel
Com o grafite.
Risco temerário fadado
Ao desaparecimento.
Quando chega o verdugo
(O tempo)
O traçado cede, foge, desaparece.
Essa mesa esteve em outra casa.
Paredes eram amarelas,
Quartos cuidadosamente decorados.
Dos objetos não recordo.
Eu naquele tempo?
Vácuo!
Fomos assassinados pela memória.
IV- Beijaste a minha boca
Ontem lembrei que um dia
Beijaste a minha boca
Sob o sol
Escaldante
Eu brilhava, você brilhava.
O calor penetrava as nossas carnes
E a brisa do mar temperava as línguas
Com o sal da alegria.
Ontem lembrei
Beijaste a minha boca.
Eu era todas as mulheres,
Era como se empreendesse
Uma viagem por dentro
Dos órgãos.
Senti conhecidos os tecidos
De minha casa interior.
Por fora eu era apenas
Casca dura de mim mesma.
Beijaste a minha boca
Sob o sol escarlate e lilás:
A tarde eu era tua.
Deitei sobre o leito de rosas
E fizemos amor.
A noite brilhava o difuso
a noite reluziam e latejavam,
Espinhos de ouro
Cravados nas minhas costas.
V- Somente a ti devo palavras
Aos desafetos
O silêncio do inferno.
Salivei palavras doces quando
O fígado amargava o ódio
Do abandono.
Salivei palavras doces quando
Perdeste o meu nome
Pelas vielas do imemorável.
A semente do abacateiro rachou,
Partiu-se em duas e, do centro,
Uma haste:
O broto desafiou a gravidade.
É grave amar,
É grave desamar,
É grave.
Nasceste dentro de mim
E cresceste para além de mim:
Abacate.
Salivei palavras,
O ódio desapareceu entre as folhas,
Os primeiros frutos trouxeram esperança.
A ti dedico todas as palavras
Macias, delicadas,
Polpudas, excitantes,
Verde-amareladas.
Aos desafetos,
O silêncio do inferno.
VI- Por que nascemos para amar?
Se essa caixa
Feita de blocos e cimento
Pudesse conter sonhos,
Decifrar desejos,
Se essa caixa pudesse dar
Ao que não tem forma
Um grão de materialidade,
Eu saberia ter uma casa.
Olho para cima,
O infinito indecente se abre
Sobre a minha cabeça,
Mistérios indecifráveis
Pesam e
Sou apenas esse isso:
Empurrada para baixo,
Prensada entre a terra
E o imensurável.
VII- A traça
Meu Deus, que fantasma era aquele
Que subia comigo as escadas da biblioteca,
Deslizando para as estantes de literatura
Devorando livros de poetas?
VIII- Redução
Meus gestos ensaiam
A expressão perfeita.
Olhos e ouvidos buscam
O poema perfeito
Ritmo, forma…
Mas, os versos se rebelam
Querem o deformado, o feio.
Os versos estão revoltados
Impregnam a folha do papel
Sem o menor respeito,
Fazem com que eu me sinta
Puta barata.
Barata
Rata.
IX- Redução II
Tua carne
Veludosa,
Gracejo
Forma
Mutante
Moldada
Pelo meu desejo.
Corpo âmbar
Quente
Sôfrego
Exalando
Sabores
Aromas
No céu
Da boca.
Tua
Sem ser tua
Minha
Sem me pertencer
Deixo de ser.
Ah! Não peças
Que eu enfeite a mesa
Com flores.
Não queira que
Meus lábios cantem
Canções populares.
Não!
Alegre-se,
Desapareceremos, meu amor!
RB, Vitória, ES, out, 2016.
Poema (in)acabado
__Dedicado al poeta venezolano Adhely River
I- El ángel
Sol de mediodía,
fogoso como el infierno.
Veo ángeles reposando,
bajo la copa del aguacatero.
Sudorosos,
caritas melosas,
añorando el cielo.
Pero, es hermoso,
tan hermoso como el ángel
negro. En un instante,
los movimientos ligeros.
producen frescura.
La visión extasía:
su envergadura, su brillo,
la suavidad de las alas transparentes,
me impulsan a rezar deseando
que ese ángel sea
mi ángel de la guarda.
II- Hambre
Quiero tu carne
tierna.
Quiero absorber tu interior,
saborear lo dulce y lo agrio.
Digerir tus convicciones
deshaciéndolas una por una.
Hasta que ignores todo.
Ah! el encontronazo de sentir
la materia sutil y bruta
por el lado del revés.
Escuchar la canción filtrada
captar el esplendor
de tu humanidad,
verla surgir de las sombras.
Pretendo, pretendo,
pretendo no pretender nada
que no sea lo absoluto.
III – Lo eterno es discordante
Una mesa soporte de objetos.
Hay cámaras fotográficas (a)guardando
magníficas imágenes.
– Solo a mí me interesan.
A nadie le importa
___nada de mí
de las imágenes
cargadas de afectos.
Hay plumas vírgenes.
Pasaron años sin sentir
el placer de deslizarse por la hoja.
Soy el demonio de los útiles de escritura.
Prefiero surcar la blancura del papel
con mis pintadas.
___Riesgo temerario destinado
___a la desaparición.
Cuando llega el verdugo
(El tiempo)
el trazo cede, huye, desaparece.
Esa mesa vino de otra casa.
Las paredes eran amarillas,
las habitaciones estaban cuidadosamente decoradas.
No me acuerdo de las cosas.
¿Qué era yo en aquellos días?
¡Sufro un vacío!
Fuimos eliminados por la memoria.
IV- Besaste mi boca
Ayer recordé que un día
besaste mi boca
bajo el sol
ardiente.
Yo resplandecía, tú resplandecías.
El calor invadía nuestras carnes
y la brisa del mar templaba las lenguas
con la sal de la alegría.
Ayer lo recordé
me besaste en la boca.
Yo era todas las mujeres,
fue como si emprendiera
un viaje por el interior
de los órganos.
Reconocí los tejidos
de mi casa interior.
Por fuera yo era solo
mi propia cáscara dura.
Me besaste en la boca
bajo el sol escarlata y lila:
la tarde era toda tuya.
Yací sobre el lecho de rosas
e hicimos el amor.
La noche hacía brillar lo indefinido,
en la noche resplandecían y palpitaban
espinas de oro
incrustadas en mi espalda.
V- Solo a ti debo mis palabras
A los desafectos
el silencio del infierno.
Ensalivé palabras dulces cuando
el hígado amargaba el odio
del abandono.
Ensalivé palabras dulces cuando
olvidaste mi nombre
en los callejas de lo que falta en mi memoria.
La semilla del aguacate se ha agrietado,
se partió en dos y, en el centro,
brota un retoño:
el vástago desafió la gravedad.
___Es arriesgado amar,
___es arriesgado dejar de amar,
___es arriesgado.
Naciste en mi interior
y creciste fuera de mí:
aguacate.
Vocalicé palabras:
el odio desapareció por entre las hojas,
los primeros frutos llegaron con esperanza.
Te dedico todas las palabras
moldeables, finas,
carnosas, excitantes,
verde amarillentas.
Para los rivales,
el mutismo del infierno.
VI- ¿Por qué nacemos para amar?
Si esa caja
formada por cubos y cemento
pudiera guardar sueños,
interpretar deseos;
si esa caja pudiera dar,
a quien carece de figura,
un grano de materialidad,
yo sabría cómo conservar una casa.
Miro hacia arriba,
el infinito indecente se desgarra
sobre mi cabeza,
misterios indescifrables
agobian y
solo soy eso:
aplastada hacia abajo,
comprimida entre la tierra
y lo inconmensurable.
VII- La polilla
Dios mío, qué fantasma era aquel
que subía conmigo las escaleras de la biblioteca,
deslizándose por los estantes de literatura
¿estaría devorando libros de poesía?
¿Por qué? ¿será que alimenta también el cuerpo?
VIII- Resumen
Mis gestos ensayan
la expresión perfecta.
Ojos y oídos buscan
el poema perfecto
___ritmo, forma…
Pero los versos se rebelan
quieren lo deforme, lo feo.
Los versos están revolucionados
impregnan la hoja del papel
sin el menor respeto,
consiguen que me sienta como si fuera
prostituta de a real.
De a real
real.
IX- Más resumen
Tu carne
terciopelo,
gracejo
forma
tornadiza
modelada
por mi propio deseo.
Cuerpo ámbar
caliente
goloso
exhalando
sabores
aromas
en el cielo
de la boca.
___Tuya
___sin ser tuya
___mía
___sin pertenecerme
___dejo de existir
___ya no soy.
Ah! No me pidas
que adorne la mesa
con flores.
No quieras que
canten mis labios
canciones populares.
No! ¡Y más no!
Alégrate
¡Desapareceremos, mi amor!
Desa
pare
ce
re
mos…
RB, Victoria, ES, oct, 2016.
Ensayos de Renata Bomfim
La poeta y la artista global, quedan reforzada por la investigadora y ensayista. Análisis críticos, prefacios, palestras, tesis, claboraciones en revistas, preparación y escritura de temas académicos como profesora. Hay intelectuales que, por su obra, la interesan especialmente; entonces los investiga, los lee y los analiza para que los demás saquen provecho. Cualquier técnica que llame su atención, la aprende y la comparte con quien quiera aprenderla.
Oír sirenas
La mirada crítica de Renata Bomfim.
Prólogo escrito en portugués y traducido por Pedro Sevylla
Los versos del poema Ouvir estrelas, de Olavo Bilac, vate brasileño, hechizan a los lectores. La obra de Pedro Sevylla está hecha de esas materias: belleza y asombro; pero sólo el lector más despierto podrá escuchar el hondo canto que viene de las profundidades del texto, y oír a las sirenas. Esta novela consecuente perturba la posición del sujeto contemporáneo, vaciado de las verdades absolutas, siempre en búsqueda y en vía; Ulises tras la única verdad capaz de salvarlo, el Amor: de todos los mitos el más bello, y de todas las realidades la más cierta.
Virginia y Pablo, los afortunados protagonistas, viven vertiginosamente una historia de amor furtivo que es ejemplo de simbiosis vital: En cada rincón de nuestro hogar, en cada momento somos capaces de crear un ambiente de sosiego, de armonía, de amor… de esos que siempre hemos buscado y alguna vez nos ha parecido encontrar.
Trato de ser didáctico contigo para que me entiendas, trato de aprender de ti para entenderte. La voluntad de entendimiento nos une.
Pedro Sevylla de Juana escribió una novela sensual, pero también una crónica y un ensayo que rocían de cariño, poesía y belleza las dificultades de la vida diaria. La relación de pareja aquí tratada, se revela real, aunque sea virtual; y muestra el gran poder abrasivo de la palabra: Ahí destaca el efecto de la palabra enamorada, el brillo del deseo que impregna la palabra. El efecto supera la realidad, porque la imaginación multiplica, potenciando, el alcance y la eficacia.
Penetrar en la intimidad de los amantes, sondear sus sueños y fantasías, conocer las flaquezas y facultades, es recibir una lección sobre la autenticidad del amor, ese não querer mais que bem querer, cantado por Camões.
¡No sabes cuánto ansío la llegada del futuro! Esta frase, dicha por Virginia a Pablo al inicio de su correspondencia, resume la actitud humana más extendida en nuestra época. La espera, cuando no esperanza, de un tiempo que consolidará lo conseguido o traerá algo mejor. El futuro se ha idealizado de tal modo que para muchas personas se ha convertido en motor existencial.
Pablo responde al instante: No; el futuro no existe. Conocer la inexistencia del futuro me ha aligerado de nihilismo cargándome de fuerza. Hay una minoría social que comparte la visión de Pablo. Todo hay que hacerlo ahora, y tenemos que hacerlo nosotros. Nada lograremos mañana si no lo hemos propiciado hoy. Esta visión, claramente iconoclasta, es un motor existencial más eficaz que el otro y, sin pretenderlo, facilita la llegada del futuro que muchos esperan.
Pablo es el antiguo profesor y el actual maestro, persona que ha vivido y viviendo aprendió sobre las relaciones personales. Y explica a Virginia que el amor y la amistad son una misma cosa:
Socialmente hablando, amor es el afecto cerrado y exclusivo; y amistad el afecto sin márgenes, el que se puede y se debe compartir. Error claro, existen las personas, y las relaciones afectivas son personales. Es cultural el prejuicio y la división por sexos. Está permitido amarse a las parejas formadas por macho y hembra. Entre machos o entre hembras sólo es posible la amistad. Y todo por separar el amor del sexo. Y todo porque el sexo, salvo en circunstancias muy concretas, fue considerado pecaminoso.
Para Virginia, Pablo, además de manantial de placer, es el oído amoroso, el apoyo que ella necesita, el guía certero, un puerto en el dilatado océano de la soledad:
Ahora tengo un ratito de libertad, Marc y los niños ante el televisor… me gustaría estar contigo escuchando tus cosas del día, contándote mis cosillas en el sofá, amándonos luego y durmiendo abrazados hasta la madrugada.
Concretar la identidad personal del otro es una constante humana en todos los tiempos, entre ellos también ocurre: Preguntas quién soy, mi querida niña: yo soy lo que tú creas que soy. Seré quien quieras que sea.
Gran intuición, vitalidad desbordante, amante de la libertad, la belleza y el placer: nada humano me es ajeno.
Tú eres la continuidad de mis días, el devenir incierto. Eres mi musa y mi paradigma, mi colibrí, mi Edelweiss, mi corza alígera, mi dulce pájaro de juventud. Sin ti, mi primavera perpetua, los días son grises y fríos.
El lector debe ir más allá de los juicios morales, y de las convenciones sociales, para penetrar en los arcanos de la pasión, del deseo, de la seducción y del amor: laberinto del que nadie sale como entró.
Pablo pertenece a ese pequeño grupo de personas que desciende al ardiente crisol de la felicidad, para recoger la parte que en derecho le corresponde. Virginia es Penélope para Pablo, y la sirena que dirigía el coro, cuando, atado al palo mayor de su barco, escuchó su canto irresistible.
La pasión en la novela llega apremiante, es el hic et nunc, el aquí y ahora del deseo de amar. Algo así reflejan estas líneas:
Música de fondo tuya y mía, cánticos…el tiempo nocturno, el rumor del mar, nuestros latidos, nuestras manos… y la entrega emocionada. Rozo la palma de mi mano con la tuya y el sentimiento florece luminoso. Me entrego en el mejor de los besos, el más fresco y el más intenso.
La búsqueda de la libertad amorosa llevó a la pareja virtual a crear un mundo singular: Debo decirte que nuestra casa tiene una particularidad: se puede trasladar de un lugar a otro. Y una limitación que no resta: estará siempre al borde del mar. El paseo llega desde la portada a la arena de la playa o a las rocas de los acantilados: enfatiza Pablo, y Virginia confirma: Nuestra casa es amplia y luminosa…por fuera y por dentro sorprendente, inesperada. Estoy muy contenta… Tanto que gritaría Tu nombre a los vientos para qeu lo llevaran allá donde lleguen. Unión tan fértil que llega a generar una hija virtual: Aurora Céspedes Boinder.
VirginiaLibre, residencia virtual de la pareja, es una isla en el mar de los conflictos humanos, un oasis en el desierto de las dificultades cuotidianas: un terreno de libertad, donde cada uno puede expresarse, no solo como es, sino como desea ser: expresa Virginia.
En casa hay estímulos. Alegría de vivir, optimismo, solidaridad, arte, música, literatura, pensamiento, amor y erotismo. Toma un poco de cada cosa; es el equilibrio el que proporciona la felicidad: Dice Pablo.
En este espacio tan privilegiado: palpita un sentimiento común de admiración, respeto, deseo, estima, amor, amistad, atracción y vértigo.
Y ellos se saben esposos eternos: de una eternidad que ha de durar mientras el amor y el deseo duren.
Son desemejantes y lo aceptan: Mi campo de investigación es amplísimo, el cosmos en toda su magnitud. El tuyo se centra en lo doméstico, en el entorno cercano. Abarcas menos, sí, conforme; pero lo percibes con una precisión mucho mayor. Luego, extrapolando y generalizando, llegas adonde yo llego.
Presentan personalidades disociadas: Se me duerme el padre y despierta el macho, el amante. Te pones asertiva y sale el maestro a enseñarte. Soy todos porque tú eres todas. Eres todas porque yo soy todos.
Pablo ama a su esposa Amanda, la entrañable Maga: heredera de indígenas tupiniquim brasileños y continuidad de la vida; es animal, vegetal y mineral; es fuego y es aire. Es la naturaleza, lo palpable y lo etéreo.
Virginia ama a Marc, su esposo, desde la época universitaria: me gusta… y más que gustarme me atrae de una forma visceral. Es un imán para mí.
La amistad de Amanda con Mona Baccio revela la fuerza de la historia, capaz de unificar amor y amistad en un único sentimiento.
Pablo y Virginia encuentran en el otro el estímulo amoroso, el deseo fuerte y la acogida sexual que no encuentran en el matrimonio, y en su entorno configuran una nueva realidad física e intelectual: El placer debe ser el estribo, nunca el caballo. Me gustaría estar contigo en la cama, abrazados, escuchando tu voz mimosa, que alcanza así la verdadera profundidad. Hay literatura en lo que escribimos; y eso puede engañarnos. Los poetas somos el centro del cosmos, y desde ahí lo vemos todo, y lo explicamos. En mi caso, además, la novela me tiene rastreando como investigador, analizando como sicólogo, trabajando al pie de los hechos como sociólogo, y hurgando en el pasado como arqueólogo.
En el juego amoroso, el ser humano utiliza múltiples máscaras y, más que ocultar, revela su posición precaria, marcado por la finitud, ser que no posee atributos divinos, y que para alcanzar el infinito necesita el concurso de otro ser:
Anoche, en mi soledad habitual, me abrazaste y mimaste; besaste mi cuello y mi pelo y, después de gozar, me dormí en tus brazos.
Pedro Sevylla nos da a conocer cosmos que sólo los poetas son capaces de crear y organizar, mundos multidimensionales, en los que la flaqueza humana se trasforma en energía, y los valores de amistad y generosidad superan a las mezquindades de la convivencia diaria:
Se trata del exoplaneta Gliese 581g, el más acogedor del Universo. A él iremos. En él se vive eternamente y la felicidad es el estado natural de las personas. No hay fábricas, hay artesanos. No hay tecnología, hay manualidades. Su cielo es atmósfera de aire limpio y nubecillas formadas por minúsculas gotitas de maná. El aire las lleva en suspensión y alimentan a personas, animales y plantas.
Hay una frase de Pablo a Virginia, que cualquier mujer quisiera oír salida de la boca del hombre, sea padre, amigo, marido o amante: Mi niña, lleva el timón de tu vida, que yo remaré mientras quieras. Remo y timón son herramientas de ambos, lo saben, pero en la actitud de donación está la clave de la relación de pareja.
El autor no es un simple elemento del discurso; desempeña, además, un importante lugar expresivo en la obra: nos convida a embarcar en el vuelo de seu veleiro de papel para ouvir, ver e apalpar as estrelas.
Dentro de VirginiaLibre, los protagonistas viven, en plenitud, su pasión como una vertiginosa carrera de obstáculos que los hace sentirse vivos, activos, dinámicos y esforzados, unidos físicamente siguiendo el impulso de la imaginación.
Al lector, explorador inteligente y arriesgado, puedo decirle que en esta novela encontrará, además de los explicados, otros muchos elementos de gran interés para el camino sinuoso de la vida.
Professora Doutora Renata Bomfim
Judith Leão Castelo Ribeiro
Literatura produzida por mulheres no espírito Santo:
Judith Leão Castelo Ribeiro e a Afesl
por Renata Bomfim
Durante muito tempo um silêncio ruidoso pairou sobre a produção intelectual das mulheres capixabas. Maria Stella de Novaes, na obra A mulher na História do Espírito Santo (História e folclore), escrita entre 1957 e 1959, denunciou que essa “omissão de referências às mulheres” remontava os registros históricos da comitiva de Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania. Dona Stelinha, como carinhosamente era chamada, é uma personalidade importantíssima da historiografia do ES, pois, contribuiu para manter viva a memória de muitas mulheres, como a esposa do índio Maracaiaguaçu, batizada como Branca Coutinho e a viúva de Guajaraba (Cabelo de Cão) que guiou o seu povo na descida do Sertão para a aldeia dos Reis Magos.
Não ficou de fora de seu relato a importância histórica de Dona Luísa Grimaldi, que governou o Espírito Santo com êxito entre os anos de 1589 e 1593 e de Maria Ortiz, heroína capixaba, filha de espanhóis que defendeu a Capitania da invasão holandesa, em 1625. Os séculos passaram e “humildes e ignoradas, alheias, mesmo aos resultados sociais e econômicos dos seus esforços”, as mulheres capixabas chegaram ao século XVIII ainda condicionadas por conceitos patriarcais religiosos, sociais e legais que as caracterizavam como inferiores ao homem. Dona Stelinha registra: “fadas incógnitas que salvaguardavam as bases da sociedade”, as capixabas eram consideradas “máquinas de trabalho doméstico”, mesmo assim, as alunas da professora Maria Carolina Ibrense protagonizaram a primeira publicação pública feminina no ES, poemas no Correio de Vitória (29-12-1849).
No século XIX as mulheres começaram a conquistar novos espaços sociais e as senhoras do Espírito Santo se organizavam em torno de novos interesses, como o jornal de moda parisiense A Estação e surgem clubes literários como o de São José do Calçado, denominado “Amor às letras” e temos registros das primeiras escritoras capixabas: Orminda Escobar Gomes, Cecília Pitanga Pinto, Silvia Meireles da Silva Santos, minha patrona na AFESL,, e Maria Antonieta Tatagiba. Em Vitória e Vila Velha as rendas, parte do aprendizado de trabalhos manuais das moças, eram famosas. Porém, esses novos espaços conquistados se devem muito à escolarização das mulheres e à emergência de suas ações coletivas. Nesse sentido, no século XX, podemos perceber a relevância da vida e da obra da homenageada da 6ª Flic-ES, Judith Leão Castello Ribeiro.
O Brasil viveu e vive um obscurantismo com relação às questões de gênero, exemplo disso é que o tema vem sendo subtraído das metas da educação nacional. Acreditamos que resgatar a história das resistências das mulheres como Judith Leão é essencial, pois nos inspira a continuar lutando pela educação e pelo direito à livre expressão. Judith Leão se insere nesse contexto de luta e resistência das primeiras sufragistas capixabas. Ela estudou, tornou-se professora e o seu interesse por política levou-a a se engajar no movimento de mulheres. Vale recordar que a exclusão das mulheres da categoria de cidadãs, na constituição inglesa de 1791, levou a escritora Mary Wollstonecraft a escrever Reivindicação dos direitos da mulher e essa obra, que denunciava a opressão no tempo do iluminismo, ecoou no Brasil e, insuflado por Nísia Floresta com o seu Direito das mulheres e injustiça dos homens, de 1832, floresceu o movimento feminista brasileiro.
Berta Lutz, na década de 1920, liderou a criação da FEDERAÇÃO BRASILEIRA PELO PROGRESSO FEMININO e esse feminismo de primeira hora, que tinha como foto a melhoria das condições da mulher na sociedade e a conquista do direito ao voto feminino, só alcançou o pleito em 1932. Segundo Maria Stella de Novaes, o movimento feminista capixaba delineou-se, paralelamente ao movimento nacional, liderados por Silvia Meireles da Silva Santos, em Vitória. Nessa época, a organização das mulheres em entidades fomentou importantes debates políticos e, em vários estados da federação, o feminismo se fortaleceu. No Espírito Santo não foi diferente, as intelectuais capixabas já chamavam a atenção pela atuação destacada no cenário cultural local, mesmo assim, alguns espaços ainda lhes eram negados, e um desses espaços era o político. Judith foi uma defensora ardorosa dos direitos políticos das mulheres, mas, o ambiente conservador da época exigiu uma sensibilização das capixabas para a luta política. Maria Stella de Novaes expõe as dificuldades das mulheres que ousavam desafiar a ordem patriarcal adentrando espaços públicos, relata que ela mesma sofreu para ingressar como catedrática no corpo docente do Ginásio do Espírito Santo e na Escola Normal do Estado, e que “as escritoras e as poetisas margaram” da mesma forma, “bebendo o cálice da crítica ferina e da oposição implacável”.
Em 1933 um grupo de senhoras vitorienses fundou a FEDERAÇÃO ESPÍRITO-SANTENSE PELO PROGRESSO FEMININO, buscando incentivar o alistamento de mulheres e, sem compromisso partidário, fundou-se também a CRUZADA CÍVICA DO ALISTAMENTO, cuja presidente foi Silvia Meireles da Silva Santos, vice-presidente, Judith Castello Leão Ribeiro, e tesoureira Maria Stella de Novaes. Judith já era professora, desde o ano anterior, quando tinha sido aprovada em concurso público e ingressada como professora no Grupo Escolar Gomes Cardim. Foi como mestre que, em 1934, pela primeira vez, ela se candidatou como deputada estadual não filiada a partido, mas não se elegeu. Em 1936, o direito ao voto das mulheres foi mantido sem restrições na Constituição Federal e a sessão capixaba da Federação, no Rio de Janeiro, então capital Federal, contribuiu com uma mobilidade para esse episódio. A movimentação feminista vitoriense repercutiu no interior do estado e uma delegação da UNIÃO CÍVICA FEMININA, de Cachoeiro de Itapemirim, em 1936, enviou uma delegada para participar do Congresso Nacional Feminino. O “esforço titânico” para o êxito do movimento feminista, “como diria Maria Stella de Novaes”, de Judith Leão e de muitas outras mulheres capixabas, entre elas Guilly Furtado Bandeira, Ilza Etienne Dessaune, Maria Antonieta Tatagiba, Lidia Besouchet, Virgínia Tamanini, Yponéia de Oliveira, Zeni Santo e Haydée Nicolusse, precisa ser conhecido pelo público. A Flic-Es busca criar espaços para que os escritores do passado e do presente possam ter visibilidade. Em 18 de julho de 1949, um grupo de mulheres uniram forças com Judith Leão e fundaram a ACADEMIA FEMININA ESPÍRITO-SANTENSE DE LETRAS (AFESL).
Francisco Aurélio Ribeiro, dedicado pesquisador da vida e da obra das escritoras capixabas, nos faz saber que apenas muito recentemente as mulheres foram aceitas nas academias de Letras, e destaca da extemporaneidade da capixaba Guilly Furtado Bandeira que, em 1913, ingressou como acadêmica na Academia de Letras do Pará. A escritora é, também, a primeira capixaba a publicar um livro, em 1913, Esmaltes e Camafeus. A acadêmica da AFESL Ailse Therezinha Cypreste Romanelli destacará que, no ES, era “um despautério”, na década de quarenta, uma mulher como Judith cumprir quatro legislaturas como deputada e, ainda, tentar entrar para a Academia Espírito-santense de Letras. Judith se candidatou para uma cadeira da AEL, mas, não foi aceita. Ailse Romanelli destaca, ainda, que “as academias eram exclusivamente masculinas”, então num movimento de afirmação feminina, Judith fundou a Academia Feminina Espírito-santense de letras (AFESL) e foi a sua primeira patrona. Participaram dessa primeira diretoria Arlette Cypreste de Cypreste, como vice-presidente, como secretárias Zeni Santos e Iamara Soneghetti e Virgínia Tamanini como bibliotecária, a elas se juntaram Ida Vervloet Finamore, Hilda Prado e outras escritoras e a instituição foi se firmando no cenário cultural capixaba. Temos o registro de que a querida escritora e acadêmica Maria Filina Salles de Sá declamou o poema “Mãe Negra”, de Colares Júnior, na reunião da AFESL do dia 11 de agosto de 1949 e que Beatriz Monjardim participou pela primeira vez de uma sessão no dia 25 de agosto de 1951.
Maria Filina e Beatriz Monjardim continuam participando ativamente das atividades da AFESL, fica aqui registrado o meu carinho e o de todas as acadêmicas por ambas. Beatriz Monjardim lançará o seu mais recente livro, “Nas contas do meu terço”, na 6ª Flic-ES. Maria Stella de Novaes participou da comissão que escreveu o primeiro estatuto da AFESL, juntamente com Ida Vervloet Finamore e Hilda Pessoa Prado e muitas outras personalidades femininas do Estado passaram pela AFESL dignificando a instituição. No dia 16 de agosto de 1949, estiveram presentes no Salão de honra da Escola Normal Pedro II, onde aconteceu a Sessão solene de Instalação da AFESL e posse da primeira diretoria, o Governador Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, que falou sobre a “feliz iniciativa” de criação da Academia, o representante da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Dr. José Rodrigues Sette, e o Presidente da AEL, Dr. Eurípedes Queiroz do Vale, pessoa que muito incentivou e contribuiu para com a fundação da AFESL.
Nos seus setenta anos de existência, a AFESL continua lutando para ser um espaço de criação de livre produção para as intelectuais capixabas, desde os seus primórdios quando Annette de Castro Mattos, em 1950, organizou a “Vitrine literária”, fazendo um importante registro das escritoras do Espírito Santo, passando pelo programa “Mulher e perfume”, dirigido por Arlete Cyprete de Cypreste na Rádio Capixaba e que deu voz a muitas escritoras e artistas, a escritora Zeny Santos, que fundou a “Casa do capixaba”, o apoio dado pela AFESL ao Instituto Braile na sua criação, a criação do “Lar da Menina”, por Beatriz Nobre de Almeida e tantas outras ações das nossas acadêmicas. O emblema da nossa academia é Ubi Plura Nitente, que significa “onde todas brilham”, ele ilustra o sentimento que nos norteia. Assumi a presidência da AFESL consciente da responsabilidade de dar prosseguimento a esse legado de luta feminina/feminista e sinto-me honrada em presidir a AFESL no ano do seu Jubileu. A trajetória dessas e de outras grandes mulheres, muitas delas ainda desconhecidas, mostra a importância de que tenhamos consciência do nosso papel no âmbito da cultura, assim como no da política, da pesquisa, etc. A realidade atual exige, de nós, posicionamento com ações concretas. Poucas instituições culturais completam setenta anos ativas e com um histórico de conquistas. Dedico essas linhas a Judith Leão Castello Ribeiro, a Ester Abreu Vieira de Oliveira, destacando duas em especial, Carmélia Maria de Sousa e Haydée Nicolussi, que nas suas épocas, não foram aceitas no quadro de acadêmicas da AFESL, mas que hoje nos honram sendo nossas patronas. Renata Bomfim foi Presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras (2018-2020) e da 6ª Flic-ES
Carolina Maria de Jesus
O MEU OLHAR SOBRE FLORBELA ESPANCA E CAROLINA MARIA DE JESUS
Análise crítica da Professora e Doutora Renata Bomfim
NESSE ESTUDO APROXIMEI DUAS MULHERES que, ao primeiro olhar parecem tão diferentes, afastadas no tempo, no espaço, de condições sociais diversas, mas que se irmanam na busca que empreenderam para se inserirem na ordem do discurso. Falo de Florbela Espanca, escritora portuguesa nascida em 1894 e falecida em 1930 e Carolina Maria de Jesus, brasileira nascida em Minas Gerais, Sacramento, em 1914 e falecida e 1977, mas emigrada para São Paulo, onde viveu grande parte de sua vida. Florbela é uma companhia antiga, estudo sua obra há quase uma década, e Carolina Maria uma leitura recente, uma escritora inquietante, de difícil apreensão, que me interroga e sobre quem lanço minhas primeiras análises.
A crítica Eneida Maria de Souza (2002, p. 118) defende que é produtivo o contato literário entre escritores distanciados no tempo, desde que eles sejam participes de “uma mesma confraria”, para a pesquisadora é possível fazer aproximações entre seus textos estabelecendo “feixes de relações que independem de causas factuais”, mas que se explicam, antes, a partir de semelhanças e afastamentos. Souza (2002) dirá, ainda, que tais aproximações contribuem para a desconstrução dos cânones oficiais, promovendo o estabelecimento de novas linhagens literárias.
É sabido que a escrita de autoria feminina, especialmente, a partir da década de 1970, fomentada pela crítica feminista, tem se afirmado como um não-cânone, como uma “linguagem outra”, urdida à margem e nos interstícios, e que essa escrita é marcada por uma alteridade radical. Lúcia Zolin (2009, p. 329) nos faz saber que variados estudos tem buscado mapear os atributos dessa produção que se singulariza e difere do cânone oficial Ocidental que é masculino, branco e de classe média-alta. Na obra Uma estética da teatralidade, Renata Junqueira (2003) reivindicou para Florbela Espanca um lugar no cânone português moderno, essa reinvindicação não foi apenas dela, visto que o jeito decadentista de Florbela afastou o olhar das afinidades de sua escrita com o seu tempo, entretanto, hoje, reconhece-se que a escrita florbeliana se apropriou “do aparato das máscaras, das poses e dos artifícios retóricos que a revestiram de teatralidade, que se constitui uma das importantes características dos movimentos de Vanguarda do século XX.
Além do mais, a produção de Florbela aconteceu, especialmente, a partir da década de 1920. O biografismo foi, também, um artificio a partir do qual a escritora se projetou ficcional e sistematicamente no universo da criação literária.
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora que também mobilizou uma série de recursos literários na construção de uma poética de resíduos, urdida na primeira pessoa do singular. Essa escrita incômoda, que não escapou a “organização” e a “acertos vários”: revisão em relação à pontuação, ortografia, vocabulário e termos recorrentes, além da transposição da escrita cursiva para a letra de fôrma, presentificou um Eu capaz de assumir variadas posições. Carolina, assim como Florbela, cuja obra também passou por “montagens” e “adulterações” invoca a persona, ela utiliza máscaras de revelação e ocultação na tessitura do discurso ficcional. Na obra Quarto de despejo (1994), observamos uma autora favelada e uma narradora que vive variadas situações e que busca “livrar a protagonista dos mesmos gestos, pensamentos, comportamentos dos demais favelados”, entanto, as aproximações são inevitáveis, pois a linguagem utilizada, assim como o modo de vida protagonizado, faz parte do ambiente favelado. Carolina produz um tipo de narrativa fragmentada que registra anotações variadas de um passado recente e do presente.
O MEU OLHAR sobre Florbela Espanca e Carolina Maria de Jesus não é inocente, antes, ele está comprometido pela minha condição de mulher e de escritora. A crítica indiana Gayatri Spivak (2010, p. 9), defende que produzir crítica é uma forma de intervir na realidade, por isso essa prática profissional deve ser engajada e contestadora. É nisso que eu acredito.
FALAR SOBRE FLORBELA E CAROLINA me impôs uma reflexão sobre questões de gênero e sobre o jogo de forças existente entre o cânone oficial e os outros discursos. Lúcia Zolin (2009, p. 327) afirma que é impossível ignorarmos que o cânone ocidental é excludente e que não foram apenas as mulheres o alvo do seu preconceitos, mas também as etnias não brancas e as chamadas minorias sexuais. Esse cânone regulado pela ideologia patriarcal levou a mulher escritora a se colocar como um contra-poder, e essa passou a se constituir a partir da diferença, enquanto alteridade em relação a uma visão de mundo falocêntrico: “ser o outro, o excluso, o estranho”, para então, de forma periférica, se inseriu no mundo “sério” da literatura e da academia. São conhecidos os processos inquisitórios pelos quais passaram muitas escritoras: Florbela Espanca (alcunhada de “anti-constitucional”), Judith Teixeira de “escritora de Sodoma” tendo, inclusive, os seus livros queimados em praça pública, e Gilka Machado que, assim como Guilly Furtado Bandeira, alvo da crítica misógina de José Veríssimo, não suportaram a pressão e pararam de publicar.
EIS QUE FLORBELA E CAROLINA SE APROXIMAM. Coloco frente a frente essas duas mulheres escritoras, elas sorriem, há cumplicidade no olhar: são confreiras, como propôs Eneida Maria de Souza. Florbela e Carolina foram mulheres que ocuparam o lugar de escritoras por apropriação. Acerca de Florbela dirá Ana de Castro Osório (ESPANCA, 1995, p. 16): não abriu para si “nenhum horizonte profissional” a não ser o de “literata”, e este atributo era “o mais desagradável que podia ser dito de uma senhora, que era vista com um livro na mão”:
Todas as ninharias pueris em que as mulheres se comprazem, toda a fina gentileza duns trabalhos em seda e oiro, as rendas, os bordados, a pintura, tudo isso que eu […] não se dão bem nas minhas apenas talhadas para folhear livros que são, verdadeiramente, os meus mais queridos amigos e os meus inseparáveis companheiros. […] Que desconsolo ser assim! Eu não devia ser assim, não é verdade? Mas sou… (ESPANCA, 2002, p. 223).
Extemporânea, Florbela foi “um ser de suprema originalidade, tendo o orgulho por norma e a audácia por lei”, como a definiu Emilia Costa (apud ESPANCA, 2002, p. 12), talvez por isso, no âmbito do sistema político autoritário de Salazar, a Igreja portuguesa a tenha classificado como uma pessoa “moralmente perniciosa” e um “péssimo exemplo”, desaconselhando a leitura dos seus livros. Múltipla, sua obra é marcada pela teatralidade, pela encenação. Em se tratando de Florbela Espanca tudo é questionável e aberto a interpretações.
Rainha depois de morta, como afirmou Maria Lúcia Dal Farra, foi a partir do toque da “Senhora com dedos de veludo” que a poetisa teve o nome conhecido em todo o Portugal e também no mundo. Entretanto, a sua vida, assim como a sua morte cenográfica, por suicídio, no dia em que completaria trinta e seis anos, contribuíram para que a imanência de sua poética fosse ignorada, bem como, os seus pontos de contato e de deslocamento em relação à tradição.
Na década de 1960, Carolina Maria de Jesus lançou Quarto de despejo pela Livraria Francisco Alves e vendeu seiscentos livros somente na primeira noite de autógrafos. A tiragem inicial, que seria de três mil exemplares, foi de trinta mil, e eles se esgotaram em apenas três dias na cidade de São Paulo. Posteriormente, mais de dez edições foram feitas no Brasil. O livro foi traduzido para treze línguas e circulou em quarenta países. Foi grande o impacto desse sucesso sobre Carolina, que conseguiu realizar o sonho de sair da favela.
Fora da Favela do Canindé e morando em um bairro de classe média baixa, Carolina e seus filhos foram alvo de uma série de preconceitos por serem negros e por carregarem o estigma da pobreza. Não suportando as discriminações, a escritora mudou-se para um sítio em Parelheiros, onde morou numa pequena casa com os filhos, sobrevivendo das colheitas de algum plantio e da criação de galinhas e porcos, além de vendas na beira da estrada, o que não deu certo por causa dos fiados, e da “catação” de ferro, segundo ela conta em seu outro diário intitulado No sítio (1962, p. 257-258).
Vale observar que, no cenário literário, Carolina se tornou uma “excitante curiosidade”, a “negra semi-analfabeta” que “alcançou o estrelato”, como escreveu Audálio Dantas. Ela foi ovacionada por escritores brasileiros de renome como Raquel de Queiróz, Sérgio Millet e Manuel Bandeira que escreveu um artigo destacando que “ninguém poderia inventar aquela linguagem” cuja força criativa era de quem havia ficado “a meio caminho da instrução” (DE JESUS, 1994, p. 5). A crítica não foi apenas favorável à escrita de Carolina, houve também aqueles que acharam que o livro era “golpe publicitário”, “um golpe de espertalhão”, e aqueles que, simplesmente, não gostaram. Carolina faleceu pobre e esquecida no sítio de Parelheiros, na madrugada de 13 de fevereiro de 1977, sendo a sua obra retomada em 1996, com a publicação póstuma de Antologia pessoal, organizada pelo pesquisador José Carlos Sebe Bom Meihy, com revisão do poeta Armando Freitas Filho e prefácio de Marisa Lajolo.
A ESCRITA: A ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
A escrita de Carolina está intimamente ligada à sua vida, e nesse sentido seu diário é autobiográfico. Entretanto, podemos ver o trabalho estético da escritora como estratégia de organização da própria vida. Vale destacar que Florbela também escreveu um diário, conhecido como Diário de último ano, obra formada por trinta e dois fragmentos caóticos de textos. Assim como um caderno, o Trocando Olhares, matriz que abrigou textos que seriam retrabalhados e publicados. Esse caderno de capa dura com 32, 2 cm por 11 cm e com 47 folhas abrigou a escrita 88 poemas e três contos, numa produção que se estendeu entre 1915 e 1917 e ficou inédito até 1985. Nesse caderno coabitam “clarezas e obscuridades, espaços óbvios e intrincados enigmas” (DAL FARRA, 1994, p. 17). Observamos que Florbela se esmera na letra ao começar o caderno, mas, essa caligrafia foi cedendo à sobreposição misteriosa de códigos que se confundiam com outros dados: “esboços de poemas, retificações sobre versos apenas rascunhados, registros de títulos”, material eclético, palimpsesto no qual estão localizadas anotações e rascunhos na vertical e na horizontal, alguns deles ilegíveis (DAL FARRA, 1994, p. 17). Esse objeto arqueológico da escrita florbeliana indica que o caderno acolheu, desde a sua criação, outras finalidades além de servir a leitura alheia, se tornando uma espécie de oficina literária que desnudou a intenção da jovem poetisa: ser escritora.
O crítico Meihy (2005, p. 6), estudioso da obra da Carolina Maria, destacou que a escrita nos cadernos de Carolina, “diários femininos” que mostravam as suas variações psicológicas, a sua vulnerabilidade perante uma cultura que, aparentemente, rompia com o passado histórico, expôs o drama de mulheres marginais. Embora seja um gênero tradicional, o Diário , e até mesmo considerado menor pela tradição literária , assim como fez Florbela com o seu Trocando olhares, Carolina subverte o seu sentido original abrigando nele os produtos da marginalidade, marcado por uma narrativa sem fronteiras: é autobiográfica, testemunhal, diário íntimo, ficcional, dada sua riqueza metafórica e o conglomerado de discursos.
A escrita fragmentária, rascunhada, rabiscada dos cadernos, os seus hiatos temporais, dias não registrados, que contam, ou deixam de contar , varias histórias. Na obra Estética da criação verbal, Mikhail Bakhtin (2003, p. 138) defenderá que o biográfico atuará não apenas na organização da vida do outro, mas também contribuirá com “vivenciamento da própria vida”. O eu-para-si, ou seja, a relação consigo mesmo, está na base dos suportes contraditórios e transitórios e cambiantes em relação ao livro. Maurice Blanchot (2005, p. 270), ressaltará o entrelaçamento radical entre o diário íntimo e o tempo. Embora o diário a transpareça uma liberdade radical, sendo capaz de abarcar “sonhos, ficções, comentários de si mesmo, acontecimentos”, ele deve “respeitar o calendário”. Assim, o tempo torna-se um elemento chave na leitura do texto.
O Diário de último ano, de Florbela Espanca, se estenderá do dia 11-01-1930 ao dia 02-12-1930, já o de Carolina Maria de Jesus cobrirá 257 dias da vida da escritora, estendendo-se de 15-6-1955 a 18-7-1955, e depois de 02-05-1958 a 01-1-1960. Os dias estão incompletos, o que confere às obras das escritoras um caráter fragmentário. Há no diário de Carolina, por exemplo, um hiato de cerca de três anos. Essa escrita diaristica, como destacou Blanchot (2005, p. 272), enraizada no cotidiano e na perspectiva que esse delimita, demanda a representação da sinceridade, pois, “narra-se aquilo que não é possível relatar, aquilo que é “demasiadamente real para não arruinar as condições da realidade”.
Carolina Maria diz: “Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá… isto é mentira! Mas, as misérias são reais” (1994, 41); Sendo o autor biográfico “aquele Outro possível”, “investido de afetuosa autoridade” de si mesmo, como afirmou Bakhtin (2003, p. 140), encontraremos nas nossas heroínas, Florbela e Carolina, a vontade de serem heroínas, de terem importância no mundo dos outros, a vontade de serem amadas e, especialmente, a vontade de “superar a fabulação da vida”. Carolina relata: “Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: faz de conta que eu estou sonhando” (1994, p. 26):
Sonhei que eu residia numa casa residível, tinha banheiro, cozinha, copa e até quarto de criada. Eu ia festejar o aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu ia comprar-lhe umas panelinhas que há muito ela vive pedindo. Porque eu estava em condições de comprar. Sentei nam mesa para comer. A toalha estava alva ao lírio. Eu comia bife, pão com manteiga, batata frita e salada. Quando eu fui pegar outro bife despertei (1994, p. 35).
Carolina lança mão do sonho e do devaneio como estratégia, para manipular o real. Florbela utiliza o mesmo mecanismo: “Napoleão de saias, que impérios desejas? Que mundos queres conquistar? A poetisa vê as suas mãos se cruzarem “vazias dessa maré de sonhos, que a vida, em amargo fluxo e refluxo, leva e traz constantemente”, sonhos frustrados que fazem com ela deseje ser “outra, outra, outra!”. Enfim, no Diário de último ano Florbela dirá que “A vida tem a incoerência dum sonho.”
Carolina Maria escreverá no dia 16-7-1955: ganhei “dois quilos de arroz, idem de feijão, e dois quilos de macarrão”, assim, “o nervosismo interior que sentia ausentou-se”, sentei para ler um conto enquanto aproveitava os raios solares para aquecer-se. Urdida nos intervalos da cata de papel e busca diária de água, por comida, a escrita em Carolina é expressão de lucidez, tem objetivo, é uma ação que se assenta em um sonho: comprar uma casa: Ao ser convidada para ir no quarto de Seu Gino, a escritora recusa e declara: “é que eu estou escrevendo um livro, para vendê-lo. Viso com esse dinheiro compra um terreno para eu sair da favela. Não tenho tempo para ir na casa de ninguém” (DE JESUS, 1994, p. 25). Observamos que, para Carolina o espaço da narrativa se apresenta como um terreno de liberdade e um espaço de autopreservação:
eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa a pensar nas misérias que nos rodeia…(…) deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhante. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. (…) É preciso criar esse ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela. […] As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginários” (DE JESUS, 1994, p. 52, grifo nosso).
Blanchot (1995, p. 273) defenderá a possibilidade de (re)existência do escritor por meio da escrita, uma possibilidade desse tanto “escapar do silêncio”, quanto” do “extremo da fala”. Nesse espaço onde o eu se “derrama e consola”, tanto Florbela, quanto Carolina encontraram abrigo. Dirá Florbela no texto de abertura do seu diário: Para mim? Para ti? Para ninguém. Quero atirar para aqui, negligentemente, sem pretensões de estilo, sem análises filosóficas, o que os ouvidos dos outros não recolhem, […] todo o meu espírito paradoxal, talvez frívolo, talvez profundo” (ESPANCA, 2002, p. 256). Já Carolina, no dia 21-7-1955 externará o desejo de registrar “Todas as lembranças que pratica os favelados, estes projetos de gente humana” (DE JESUS, 1994, p. 24).
Observo no Diário do último ano, de Florbela Espanca, assim como no Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, reflexões e registros que comunicam uma busca de salvação/libertação pela escrita. Diz Florbela: “Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade”. A obra dessas duas escritoras, irmanadas no desejo de escrever e na luta para que suas vozes fossem ouvidas, estão abertas para diversas perspectivas interpretativas e teorias variadas. O caráter temerário de suas escritas permitiu diversas apreensões dos seus textos.
A visada a partir da perspectiva da escrita de autoria feminina permite que observemos que durante muito tempo, a mulher não representou a si mesma e, depois de muita, quando tiveram acesso ao mundo da escrita, o seu discurso foi regulado. Representada nos discursos e no repertório de imagens de variados tempos, a mulher passa a se apresentar, pondo em xeque estereótipos e reducionismos.
Florbela Espanca e Carolina Maria de Jesus possuem escritas que estão para além da simples transgressão da proibição da escrita, seus textos se estruturam como palimpsestos da escrita masculina, um recortar e colar que dá forma a uma escrita outra, da alteridade, sob o ponto de vista feminino. Diz carolina: “Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu diário. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo. ….Eu fiz uma reforma em mim” (DE JESUS, 1994, p. 25).
A ERRÂNCIA VERSUS A CASA
Florbela Espanca passou muitas dificuldades financeiras na vida. A herança que recebeu de sua madrinha foi totalmente perdida em um investimento mal sucedido, que levou a escritora a uma errância que se estenderia por toda a sua vida. Vivendo em casa alheia, Florbela ansiava legalizar a sua situação com Antônio, o segundo marido, para que pudessem viver felizes, em uma casa só deles, ela ansiava um lar. Foi nesse período que escreveu o soneto “A nossa casa”: “A nossa casa, Amor, a nossa casa!/ Onde está ela, amor, que não a vejo?/ Na minha doida fantasia em brasa/Constrói-a, num instante, o meu desejo!”. Variadas cartas revelam a importância de ter uma casa para Florbela: “Não sei o que esperas para alugar casas, dizes que a questão é eu ir, pois eu digo que a questão é ter lá um buraco por modesto que seja. Palácio ou tenda na praia, o que eu preciso é casa minha”, noutra carta a poeta diz: “Muito depressa arranja a nossa casinha seja como for. Na Foz ou no Porto ou em casa do Diabo”. Findo o segundo casamento a escritora finda seus dias morando na casa do sogro, em Redondo.
A casa é um motivo simbólico, imagem arquetípica que emerge com o descentramento radical do ser. Sonho de simplicidade que remete para os valores da intimidade em face de uma urbanidade feroz. O eu lírico florbeliano enuncia a sua errância desde o Manuscrito Trocando Olhares, quando “vai fugindo, e tonto vai andando/ A perder-se nas brumas dos caminhos” (ERRÂNCIA, 1999, p. 115); passando pelo Livro de Mágoas quando se define: “Eu sou a que no mundo anda perdida,/ Eu sou a que na vida não tem norte/[…] Sou aquela que ninguém vê…”(EU, 1999, p. 133). Maria Carolina de Jesus dirá no seu Diário Quarto de despejo (1994, p. 72), “Parece que vim ao mundo predestinada a catar. Só não cato a felicidade”. O dia a dia de andanças em busca de água, de recicláveis, de comida, de dignidade, se tornam leitmotiv e fio condutor da obra: “Todos os dias é a mesma luta. Andar igual um judeu errante atrás de dinheiro, e o dinheiro que se ganha não dá pra nada”. A constatação da impotência frente a um sistema excludente desperta na narradora o desejo de suicídio: “Quando eu fiquei doente eu andava até querendo suicidar por falta de recursos” (DE JESUS, 1994, p. 60). A morte é personagem que ronda não apenas o narrador em Quarto de despejo, mas todo o grupo de excluídos sociais que mora na Favela do Canindé. Carolina Maria dirá: “ninguém deve alimentar a ideia de suicídio. Mas hoje em dia os que vivem até chegar a hora da morte, é um herói (DE JESUS, 1994, p. 54). A “triste viagem” de Carolina, o seu dia-a-dia marcado pela fome, pela dor, pela incerteza e também pela coragem, podem ser acompanhados pelo leitor.
A SITUAÇÃO DA MULHER
Podemos vislumbrar, a partir da leitura dos textos de Carolina Maria de Jesus, as incursões de mulheres, especialmente de mulheres negras e pobres, pelo espaço urbano da grande São Paulo. Entrevemos as suas dificuldades, anseios e um destino comum de violência com o qual muitas delas buscam romper. Diz Carolina: “Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar”; “As mulheres que eu vejo passar vão para a igreja buscar pães para os filhos. Que o Frei Luís lhes dá, enquanto os esposos permanecem debaixo das cobertas”. Nem todas as mulheres se submetem passivamente a violência, há aquelas que reagem à agressão, entretanto, muitas conseguem. A violência é um fenômeno que destrói a autoestima da mulher e comprometendo a sua potência reflexiva e capacidade de reação. O medo é outro fantasma comumente encontrado num cenário contemporâneo onde a violência banalizada invade o cotidiano doméstico e familiar. A violência pode ser rompida com a denúncia, com a quebra de um silêncio que se mostra secular. Carolina denuncia no seu diário a violência de gênero, de raça, o Eu se coloca ao lado dos mais fracos, e sua luta se amplifica contra, especialmente porque a sua obra serve para que haja uma democratização da palavra e para que possamos nos livrar, inclusive, dos preconceitos linguísticos.
Nos deparamos com uma narradora arrojada, que busca romper com status quo assumindo o sustento de sua casa e a criação e educação dos filhos: “Meus filhos não são sustentados com o pão da igreja. Eu enfrento qualquer espécie de trabalho para mantê-los” (DE JESUS, 1994, 14).
A dureza da vida, da cama e do pão são a condição do favelado, diz Carolina. Mas, há dias que nem mesmo o pão duro, para qual é necessário ter dentes de ferro, há para alimentar os filhos: “só quem é mãe é que pode avaliar”. Não encontramos em Quarto de despejo uma representação fixa de mãe, mas a apresentação de uma mãe que se constrói a partir, inclusive, da palavra: “Mostrei-lhe os sapatos, ela ficou alegre. Ela sorriu e disse-me: que está contente comigo e não vai comprar uma mãe branca. Que não sou mentirosa. Que falei que ia comprar os sapatos e comprei. Que eu tenho palavra” (1994, p. 60). Um tema de extrema importância nas narrativas das nossas escritoras é a fome.
A escritura de Carolina abriga múltiplas vozes, essa polifonia radical nos põe em contato com a a situação de dois meninos da favela. Chegamos a ouvir o barulho da sirene que trouxe os dois “negrinhos” que vagavam pela Espação da Luz, um tem 4 o outro tem 6 anos. Eles são “os mais maltrapilhos da cidade” e vão comendo o que encontram pela rua: “casca de banana, casca de melancia e até casca de abacaxi” (1994, p. 40). A FOME
A fome se impõe como personagem na obra de Carolina, ela é real: “os meus filhos estão sempre com fome, […] quando eles vê as coisas de comer eles brada: Viva mamãe! (DE JESUS, 1994, p. 26-27). “Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo, […] a comida no estômago é como o combustível nas máquinas”; “o meu dilema é sempre a comida”(1994, p. 45).
Florbela, por sua vez, explicitou no seu canto que ser poeta é “ter fome e ter sede de infinito” (SER POETA) e, na sua errância perguntava, “Dize pra onde vou, donde é que venho// Dize de que é que eu tenho sede e fome?!” (INTERROGAÇÃO). A fome do eu lírico florbeliano retratou a fome secular das mulheres por amor, elemento dos valores biográficos, segundo Bakhtin (2003, p. 144) e “força motriz de organização da vida” . Era fome de justiça, de liberdade: “Estonteante fome, áspera e cruel,/ Que nada existe que a mitigue e a farte!”. A fome de Carolina, aparentemente menos estética, também não e apenas dela, é de milhares de brasileiros que são subtraídos nos direitos básicos, que tem a sua cidadania obliterada: “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora” (1994, p. 26).
O acúmulo de experiências vão despertando em Carolina um sentimento de revolta e esta levanta variados questionamentos: “será que Deus sabe que existem as favelas e que os favelados passam fome”. Outra característica marcante da obra de Carolina é a lucidez com essa reconhece o seu papel como mulher e como cidadã: “Aqui na favela quase todos lutam com dificuldade para viver. Mas quem manifesta o que sofre é só eu” (p. 32). Carolina declara não ser “da violência”, mas reconhece a injustiça, a “vida negra” na favela onde “as pessoas chegam esfarrapadas, andam curvado e os olhos fitos no solo como se pensasse na sua desdita”, a consciência de que a favela do Canindé, que margeia o Rio Tietê, mimetisa a sua condição de marginal: “nós somos pobres, viemos para a margem do rio. As margens dos rios são lugares do lixo e dos marginais. […] há decadência na favela, Favela é de morte!”. Carolina dirá que quando está na cidade, a qual chama de “palácio”, tem a impressão que esta na “sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludo, almofadas de sitim”, mas, quando está na favela, a sua impressão é de ser “um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo” (DE JESUS, 1994, p. 33).
A realidade nua e crua, a qual a ficção é capaz de produzir, faz se fortalecer a revolta: “Começo a me revoltar. E a minha revolta é justa” (1994, p. 30). A revolta de sentir-se um “rebotalho”, ou seja, coisa inútil, sem valor:
Quando um político diz nos seus discursos que está do lado do povo, que visa incluir-se na política para melhorar as condições de vida pedindo o nosso voto, prometendo congelar os preços, já está ciente que abordando este grave problema ele vence nas urnas. Depois divorcia-se do povo. Olha o povo com olhos semi-cerrados. Com orgulho que fere a nossa sensibilidade (1994, p. 34).
Esse narrador inquietante é sensível, capaz de “contemplar extasiada o céu cor de anil”, sentir seu olhar pousar nos arvoredos que existem no início da rua Pedro Vicente: “as folhas moviam-se”, e, nesse momento, numa espécie de epifania a la Clarice, compreender que ama profundamente o Brasil: “Pensei: “elas [as folhas] estão plaudindo este meu gesto de amor a minha pátria” (1994, p. 32). Entretanto, chega a conclusão de que o sistema social e político brasileiros está falindo: “A democracia está perdendo os seus adeptos. No nosso país tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco, A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo o que está fraco, morre um dia” (1994, p. 35). Para Carolina, deveria dirigir o país “quem tem capacidade, quem tem dó e amizade ao povo”, mas não é essa a realidade que se vê, pois governam aqueles que tem dinheiro, que não sabe o que é fome”, “dor”, “aflição do pobre”. A escritora posiciona-se: “Eu estou do lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido. Precisamos livrar o país dos políticos Açambarcadores” (1994, p. 35).
FRANKENSTEIN PATRIARCAL
Durante o mestrado observei que a poética de Florbela abrigava variadas representações femininas, destaquei entre elas as de Lilith, Eva e Maria. Percebi que essas representações davam forma a uma representação outra, a uma imagem síntese, para a qual utilizei como representação a criatura da obra de Mary Shelley, o Frankstein, ente formado por partes de cadáveres e que ganha vida nas mãos do Dr. Victor Frankenstein.
A escritora Lúcia Castelo Branco (1989, p. 17) destaca que as imagens construídas pelo homem não coincidem com a mulher, não são a sua réplica fiel, “como crê o leitor ingênuo”. Simone de Beauvoir (1961) corroborará essa afirmação, ela já havia falado sobre a habilidade com que o masculino desenhou o perfil feminino durante diferentes épocas visando perpetuar a ideologia patriarcal, seja utilizando a literatura, contos tradicionais, os mitos. São exemplos dessa pretensa superioridade masculina as figuras Perseu, Hércules, Davi, Aquiles, Napoleão, quantos homens para uma Joana d’Arc; e, por trás desta, a grande figura masculina de São Miguel Arcanjo! […] Eva não foi criada para si mesma e sim como companheira de Adão […]. As deusas da mitologia são frívolas ou caprichosas e todas tremem diante de Júpiter; enquanto Prometeu rouba soberbamente o fogo do céu. Pandora abriu a caixa das desgraças. […] A Virgem, acolhe de joelhos a palavra do anjo: “Sou a serva do Senhor”, […] as santas declaram de joelhos o seu amor ao Cristo radioso (BEAUVOIR, 1961, p. 30).
Constatei nas minhas pesquisas que grande parte da problemática da mulher em busca de identidade e expressão podia ser observada nas representações presentes na poesia florbeliana, que denuncia a invalidez do feminino dentro de uma consciência patriarca que enxerga o feminino e sua liberdade como perigosos e ameaçadores.
Assim como Florbela, Carolina foi destruída, como um herói trágico. Machado (2006, p. 108) diz que assim que a escritora saiu de São Paulo, a imprensa “já não teria a sua Geni para tocar pedras” e a escritora passou a ser achincalhada nos jornais: “Carolina de Jesus deixou a casa de alvenaria e voltou a catar papel em São Paulo (Jornal do Brasil, 1966); Carolina de Jesus quer viver com os indígenas (Folhade S. Paulo, 5/2/1970); Carolina: vítima ou louca? (Folha de S. Paulo 1/12/76)”. Observamos que o sistema patriarcal sustenta-se na dicotomia e que a multiplicidade e a potência da escrita de mulheres como Florbela e Carolina não são toleradas.
Vale destacar que, muitas das cartas de Florbela, alguns de seus poemas foram adulterados pelo seu editor póstumo, Guido Battelli, para que ela parecesse menos erótica e mais católica, já no caso de Carolina, não há caderno seu que tenha sido publicado integralmente. Segundo Elzira Divina Perpétua (2016), que estudou os manuscritos, as interferência realizadas pelo editor de Carolina objetivavam eliminar o que poderia haver de suposta erudição na escrita da escritora, adequando, assim, a sua imagem a da sua condição social, construindo o estereótipo de uma personagem do povo, com pouca escolaridade. O que corrobora nossa hipótese acerca da impossibilidade de sobrevivência do potencial feminino nesse tipo de sociedade.
Tomado de https://pedrosevylla.com/carolina-maria-jesus/
A Biblioteca Municipal de Matosinhos encerra uma semana inteiramente dedicada à vida e obra de Florbela Espanca.
Ali, a dois passos, na Rua Primeiro de Dezembro, continua à venda a casa onde a poetisa morreu.
Foto Hernâni Von Doellinger
Referências:
DAL FARRA, Maria Lúcia, Florbela Espanca: Trocando olhares. Estudo introdutório e estabelecimento do texto e notas de Maria Lúcia Dal Farra. Lisboa: Imprensa Nacional–Casa da Moeda, 1994.
DE JESUS. Carolina Maria. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 1994.
ESPANCA, Florbela. Florbela Espanca. Organizado por Maria Lúcia Dal Farra. Rio de Janeiro: Agir, 1995. (Nossos Clássicos; 121).
ESPANCA, Florbela. Afinado Desconcerto: (contos, cartas e diário). Estudo introdutório, apresentações, organização e notas de Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo: Iluminuras, 2002.
ESPANCA, Florbela. Poemas Florbela Espanca. Estudo introdutório, edição e notas de Maria Lúcia Dal Farra. Martins Fontes. 1996.
FOUCAULT, Michel. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Organização e seleção de texto de Manoel Barros da Motta, tradução de Inês Autran Dourado Barbosa. 2.ed. Rio de janeiro: Forense Universitária, 2006.
MACHADO. Marília Novais da Mata. Os escritos de Carolina Maria de Jesus: determinações e imaginário. Psicologia & Sociedade; 18 (2): 105-110; mai./ago. 2006.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Os fios dos desafios: o retrato de Carolina Maria de Jesus no tempo presente. In: Silva (org.). Artes do corpo 2. São Paulo: Selo Negro, 2004, p.15-55.
MORIN, Edgar. O homem e a morte. Tradução de Cleone Augusto Rodrigues. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
PERPÉTUA, Elzira Divina – “Aquém do Quarto de despejo: a palavra de Carolina Maria de Jesus nos manuscritos de seu diário”. Disponível em.< https://docplayer.com.br/3127985-De-carolina-maria-de-jesus-nos-manuscritos-de-seu-diario-elzira-divina-perpetua.html>. Acesso em 01 set 2016.
SOUZA, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
Biografia
RENATA BOMFIM (21/11/1972)
Nasci na capital do Espírito Santo, Vitória, no dia 21 de novembro de 1972, à tardinha, exatamente as 18 horas. Desde menina escrevia poesias e gostava muito de ler. Fiz o segundo grau na Escola Técnica Federal do Espírito Santo, atualmente IFES e, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) cursei graduação em Artes Plásticas (Bacharelado). Posteriormente, alcancei o título de doutora em letras (área de concentração estudos literários) pela UFES, com bolsa de pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/ CAPES, na Universidade de Évora, Portugal, estudando poesia Iberoamericana e o mestrado em letras na mesma instituição, com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa no Espírito Santo/ FAPES, pesquisando a obra da poetisa portuguesa Florbela Espanca. Sou Especialista em Arteterapia na Saúde e na Educação (UCAM /RJ), Psicossomática (FACIS/ SP) e Psicologia Analítica Jungueana (IBPP/ ES) e Pesquisadora do CNPq desde 2007 no seguinte projeto: Figurações do feminino: Florbela Espanca et alii, sediado na Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação da Professora Doutora Maria Lúcia Dal Farra. Sou ativista cultural e ambientalista atuante, escritora, poeta e ensaísta com pesquisas em literatura produzida por mulheres em língua portuguesa. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do ES (IHGES), da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (cadeira nº 16). Sendo Presidente da Afesl de 2018 a 2020. Membro da Academia de Letras de São Mateus. Como professora atuei no Departamento de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) ministrando matérias como «Literatura do ES», «Literatura de autoria feminina em Portugal, Angola e Brasil», entre outras. Sou educadora socioambiental e há dez anos criei a Reserva Natural Reluz, em Marechal Floriano, hoje uma RPPN onde cuido dos macacos, pássaros, tatus e planto muitas árvores. Sou Autora dos livros Mina, editora Floricultura/ES (2010), Arcano dezenove, ed. floricultura/ES (2011), Colóquio das árvores, ed. Chiado/ Lisboa (2015.) e O Coração da Medusa (2020) Premio do Governo. Autora da Revista literária digital Letraefel, criada em 2007: www.letraefel.bogspot.com
O CORPO COMO SENDA E CONDIÇÃO PARA O SER
Prefácio de Renata Bomfim para o poemário A Eufória do Corpo de Anaximandro Amorim
Anaximandro Amorim é advogado e professor, mas, antes de construir um vasto currículo profissional, tornou-se escritor. Foi em 2001 que ingressou no universo literário integrando a Academia Jovem Espírito-Santense de Letras, considerada, institucionalmente, a primeira Academia Jovem de Letras do Brasil. Na atualidade, o escritor é autor de obras que transitam entre a prosa e a poesia e continua atuante no campo cultural integrando várias instituições, dentre as quais a Academia Espírito- Santense de Letras.
A leitura inicial de A euforia do corpo me rememorou as ideias de Roland Barthes, para quem a escrita, afastada dos deveres e pressupostos do fazer científico, possui a potência de produzir diferenças, provocar deslocamentos e descentralizar sujeitos e palavras. Barthes nos diz, também, que o corpo vincula-se à escritura por meio do prazer. Foi a partir desse prisma que passei a deleitar-me com a leitura desse poemário e compartilharei com vocês, leitores, algumas sendas por onde passei nesse espaço dinâmico e plural.
Acredito que A euforia do corpo busca implicar os leitores num percurso de ambiguidades — rompendo com obviedades —, a começar pelo título, indicativo de estados abissais do ser, pois, a euforia pode indicar tanto alegria e otimismo quanto o seu oposto, o patológico, bipolar, a euforia depressiva. Jacques Lacan referiu-se à depressão como uma espécie de covardia moral, uma recusa do sujeito frente ao seu desejo. Anaximandro aceitou o chamado interno para refletir poeticamente sobre temas e conteúdos pulsantes e limítrofes. O escritor elegeu o filósofo francês Jean-Luc Nancy, estudioso de Lacan, como interlocutor privilegiado, como poderão observar em mais de duas dezenas de epígrafes. Essa escolha, que julgo ser consciente e bastante adequada, põe em cena o ente delimitador-mor da existência e condição primeira para a materialização de outros corpos: o corpo. A jornada começa com o impulso que arremessa para “fora (ex) do não-ser”. Sob o signo/bússola do desejo, — negado ou vivido às últimas consequências —, o saudável e o que, oprimido no inconsciente busca vir à luz, se comunicam como instâncias afins.
A euforia do corpo desnuda esse ente que nos acompanha do nascimento à morte/desencarne, impondo inquietações, espantos e, em momentos preciosos, nos regala com o maravilhamento e a epifania. Corpo plural e, como podemos observar no poema homônimo à obra, subdividido em três partes, apriorístico. Tomei a liberdade de ler esse poema como se fossem lâminas, ou seja, cartas do tarô. No início, observamos que loucura, magia e desejo constroem uma senda arquetípica, “labirinto sem mapas ou réguas”, que encaminha o leitor para um eufórico “balé
feérico”, onde tomará contato com outra subjetividade. A imagem do Louco, que subsiste nos baralhos modernos como o “coringa”, não tem posição fixa e, livre, transita entre os demais personagens do jogo. O eu poético parte daí, carta de número zero, liberto dos códigos tradicionais, “sem arrependimento, abrindo cordões, correntes e camisas de força”, enfim, “em procura”. “Uma charada que convida a repetir o enigma” está lançada. Chega o tempo da experimentação: O corpo é Amuleto! Na primeira carta do tarô, o Mago, criador e embusteiro, dirige a sua atenção para tudo o que lhe rodeia criando mundos imaginários e “um pacto de mistério”, a partir do qual o eu poético vivenciará o processo de diferenciação necessário à sua evolução, uma espécie de rito de veneração e de delícias que transforma a matéria alheia em uma coisa outra, “colosso”, “Porto aberto, macio e úmido”, “augusto deus pagão” e “objeto de culto/delírio”. Simplesmente, não há como resistir, “O corpo é uma tentação!”, não existem diques que contenham a sua força e nem o seu furor, embora o homem seja “feito de carne, ossos, músculos e vontade”, a qualquer momento “explode o que está (nele) contido”. Percebemos o germe de algo novo, a emergência de uma energia feminina poderosa.
A deriva do corpo é sempre produtiva e, ao desbravar uma Geografia íntima, o eu lírico se depara com “falésias” e “planícies”, repousa no “golfo”, “corpo de fuga”, sempre animado pelo “desejo do perder-se” e “Tendo a adrenalina/ do querer como/ ópio da procura”. Inexiste um manual que aponte saída para as antinomias do desejo, entretanto, o caos enuncia uma nova ordem e, “como monção que tudo destrói/ mas também tudo renova”, e o eu lírico
encontra nessa “geografia íntima”, “em cima,/ um cheiro de porto-seguro/ embaixo,/ um gosto de corpo.” Seguimos acompanhando a evolução dessa subjetividade poética que supera o medo de perder-se, pois crê ser preciso o seu destino: “o território do corpo”. Nessas andanças, o erro deixa de ser falta grave, tornando-se “brincadeira”, e as cicatrizes do corpo tornam-se um convite erótico, “portas semicerradas pelo tempo” cuja chave é outro corpo. Persistem as imagens que sugerem a existência de um código de acesso para todos esses mistérios, e nessa altura do texto, na qual o corpo tornou-se local privilegiado de enunciação, — seja ele um corpo de carne, filosófico ou linguístico —, urge “Buscar o eterno/ no irromper do instante// sabendo-se/ cativo/ no vazio/ do depois”, ou seja, é tempo de desafiar “o estado da matéria”. O eu poético vê-se impelido a “subverter a ordem do mundo,/ virar o macho do avesso/ – criar uma grande confusão!”: “Lilith”. Tomamos contato com a lâmina segunda do tarô: a Sacerdotisa. O conteúdo feminino latente é poderoso, mas, aqui essa imagem deve ser observada a contrapelo, ou seja, ser a carta de número dois não indica subjugação ou inferioridade, antes como ente emergente da sombra do um, vinculada à serpente, mentora da segunda esposa de Adão: Eva. O poema, dedicado a “todas as mulheres do mundo”, desafia o corpo sociocultural e opressor do patriarcado ao apresentar um modelo de entregar desmesurada. O tempo tornou-se propício para que constelasse essa que possui “entre as pernas”/- uma máquina de castração!”. A primeira esposa de Adão, Lilith possui um forte conteúdo revolucionário e pode ser encontrada em mitologias de variados países, entre eles as da Assíria, da Suméria, da
Babilônia, da Cananéia, da Arábia, da Pérsia, entre outras, escancara o “desvario da criação” revelando a necessidade uma nova arquitetura, a “Arquitetura do Nada”, plantada em um domínio “fértil de símbolos”. Assim, sob o signo da insurreição, nos deparamos com outra personalidade emblemática, o desejado Jacinto, que entra em cena como um “corpo de alívio”, fluido como um “rio soberano” e transbordante, — poeta e amante —, presenciamos, então, a “Soberania do corpo”. Tudo é prazer, “um mundo se põe em delírio”, “dedos” e “língua” são senhas para a penetração, mas ainda há alguma reserva. Volto a Roland Barthes em minhas reflexões. Esse pensador nos diz que a escrita cria um espaço relacional, nem sempre harmonioso, entre o escritor e a sociedade. Acontece ai um embate profícuo que, em essência, busca liberar a literatura de comunicar fatos históricos e de transmitir mensagens, para que possa realizar-se em si mesma: prazer e gozo. Na poesia de Anaximandro sinto esse pressuposto em operação, há no seu processo criativo uma bússola que o orienta para que não se desvie do cuidado/compromisso com a linguagem, sempre burilando os poemas, explorando sons e formas e jogando com os sentidos das palavras, como observamos no poema “A Pele. O Pelo” que, anaforicamente, repete cinco vezes a palavra “voo”, ao passo que brinca com as consoantes “p” e “l”. Esse poema ratifica o movimento ascensional ensejado nos poemas anteriores. A pele e o seu “raso”, o pelo, são peças no jogo da sedução e levam o eu poético ao desfrute de um “Acalanto doce” que é “remanso” e “abrigo”, e a possuir um “gosto de eterno”. Tempo de dizer, tempo de dizer-se: “A Boca”. A escritura efetua a linguagem na sua totalidade e deparamo-nos
uma poética de hierarquização dos corpos: “imaculados”, “aceitáveis”, “rebotalho”, “transitórios”, todos esses presos à ilusão de serem senhores de si. Avesso do avesso: “o não- corpo” influi, seduz e tenta, espelho no qual o sujeito poético se vê refletido de forma invertida.
Jean-Luc Nancy terá dito que “Um corpo só é fazendo e se fazendo”, dessa maneira, o próximo conjunto de poemas construirá, a partir da “fresta da palavra”, o mundo. O eu poético denuncia: “aquilo que cala,/mata” e a semente que dormitava desperta “feito poema de devir”, semente-ostra gerando pérolas espetaculares, guardadas pelo “segredo-oceano”.
No campo da beleza e do “sublime” ressurge o “corpo de alívio”, agora, maturado pelas vivências, ele anseia “apenas o inominado:/ Um casamento de almas” que possibilita “A Humanidade/ Recompor/ A beleza/ Dos dias” e, eis o milagre: “(o corpo inteiro)”.
O movimento circular do texto enseja um reinício, a “queda” torna-se uma espécie de senha para novas viagens e descobrimentos, o corpo torna-se “cordilheira” e o eu poético vislumbra, enfim, o segredo que se escondem por trás da complexidade, “para além do absurdo”: “A dor de máquina do mundo”. O olhar dessa subjetividade peregrina se (re)constrói com a imagem de um embate entre “Nasciso” e “Medusa”, ela percebe então que há beleza no brutal das criaturas, ou melhor, que brutal é a própria beleza. Essa visada que tomou a leitura da obra A euforia do corpo como a leitura da profundeza do ser buscou centelhas de compreensão, de forma nenhuma tentou esgotar o seu significado, até porque a potência da palavra poética nos impede de cometer tal hybris.
Há “segredos” inesgotáveis escondidos “por trás de um silêncio prenhe de signos”, o caminho buscado, agora é o da “alegria”. Mas, esses segredos podem ser acessados apenas por meio da leitura individual, na solidão essencial que emana da obra literária, como diria Maurice Blanchot. Mas, lembre-se sempre da senha: “aquilo que cala/ mata”.
Renata Bomfim
Doutora em literatura, poeta e ativista ambiental
Vitória ES Brasil, Agosto de 2020
__A eufória do corpo, Impresiones de un poeta lector. Pedro Sevylla de Juana
Los títulos del todo, de las partes y de los poemas, ya dan una idea de los caminos que abre el libro, además de su asunto o asuntos. En mi lectura sorprendida de los poemas iniciales, percibo la forma y el fondo, sus dimensiones trascendentes. Al escribir nos proyectamos en la escritura, significante y significado. Eso busco por añadidura. Escribimos para equilibrar nuestro desequilibrio incesante. La forma de la expresión y lo íntimo guardan una relación que, sospechada, nunca es evidente. Se hace seguir por todos los vericuetos para contarte el contenido percibido e imperceptible, sólido y gaseoso, aire incoloro e inodoro frente al granito rosado. Cuarzo, feldespato y mica opuestos al azul impuro del cielo. Mármol negado a la disgregación que el pedrero reclama y el escultor desea simple cambio de forma final.
Eufória do corpo es un libro que hace poco tuvo sus páginas en blanco, procediendo, en consecuencia, de principio a fin por instigación del autor, persona que acepta el interés despertado en los lectores, y lo recompensa con creces al mostrarnos, en lo profundo, su eu más valiente. Ahí están las páginas repletas de conceptos, suscitando compresiones e incomprensiones. Es un libro que aporta lo que dice y lo que sugiere. Y esa sugerencia es distinta para cada lector. También lo dicho. Pinturas abstractas, trechos de altura y hondura, pinceladas etéreas y golpes de cincel. La ilustración de portada lo interpreta a gusto del artista y del escritor. Caleidoscopio en blanco y negro desarrollándose por sí mismo, coloreándose de matices esenciales, limaduras de acero imantado uniéndose a las afines y a las contrarias.
Me creo ante un libro que será leído una y otra vez, al derecho y al inverso, poesía y filosofía hermanadas, unificadas para dejar constancia de la unicidad conseguida. Sicología como pretexto y coartada. Avanzando por el territorio de sus versos, sus personalísimos versos, me siento en lo alto de una montaña elevada iniciando el descenso por un tobogán acuático. No había leído nada así: fecundidad y equilibrio intangibles, dicotomías que pueblan todo. Vendaval interior difundiendo los cinco elementos. Barreras alzadas o cerradas. Entrada y salida son dos puertas conocedoras de que una de ellas puede ser eliminada sin perjuicio. Cordura equiparada a la locura. La piel es lienzo y la pintura es táctil. Traslación de lo diverso y simetría imposible. El lenguaje más preciso es el que intenta decirse en clave. Piel y pelo, o viceversa. Anverso y reverso son una misma cara. La boca y sus disyuntivas. Ahora sé muchas cosas desconocidas que, mañana, no podré olvidar. El impresionismo utiliza pinceladas gruesas. La mente completa lo incompleto. Sensaciones frente a sentimiento, ¿Quién vence? Un oasis espera ser habitado de manera permanente. El artista lloró ayer, convencido de la imposibilidad del mañana. Descifrar no es conocer, ni siquiera aproximarse; el poeta, sorprendentemente, se reviste de sinceridad. La calidad de los libros de Anaximandro Amorín es progresiva, estoy ante el libro más osado y complejo de un autor que se engrandece obra a obra.
A menina Renata Bomfim com a sua cadelinha amiga
Renata Bomfim es una de las personas decididas y eficaces que, en Brasil, se dan con alguna frecuencia. Partiendo de abajo, con su afán de progreso y su tesón, a fuerza de esfuerzo, se van formando profesional y socialmente hasta destacar en varios frentes.
He llegado a creer que Renata es de granito, un granito rosado de Espírito Santo, capaz de reflejar el sol del atardecer. Sí, un granito sensible a los cambios de temperatura, a los cambios de actividad y a los cambios de entorno.
Periódicamente, por razones que solo ella conoce, el granito se desmorona. Se hace arena fina y así permanece una semana, quince días a lo sumo. Pasado ese tiempo vuelve a su ser, pero un peldaño más arriba, con mayor ímpetu. Su resiliencia resulta sorprendente y envidiable.
Como ejemplo tan solo, diré que, en el tiempo en que la conocí escribía yo el libro que terminó siendo Los gozosos amores de Virginia Boinder y Pablo Céspedes. Quiso que la enviara capítulos, páginas recién escritas. Luego escribió el prefacio, un prólogo tan ajustado al libro que hacía mi texto innecesario.
Acabo de encontrar unos párrafos de Renata, donde explica una actividad suya que no conocía con detalle:
“O Mosteiro Zen Morro da Vargem está localizado em Ibiraçu, ES. Único mosteiro budista da América Latina, compreende um complexo de 150 hectares de Mata Atlântica recuperada. Em 34 anos de existência esta instituição religiosa traçou um percurso de trabalho marcado pelo comprometimento com as questões socioambientais, com ações sempre pautadas na sustentabilidade, sem perder de vista a missão religiosa que desempenha como pólo de formação monástica e de práticas leigas do budismo soto zen e transformou-se em uma área de relevante interesse ecológico e pólo de educação ambiental da Mata Atlântica.
O Programa COMPAZ: A ética policial e a vivência socioambiental, vem ao longo de mais de dez anos se consolidando e investindo na educação transdisciplinar dos policiais militares e civís do Espírito Santo, objetivando propiciar a estes grupos, vivências de sensibilização para questões ambientais tendo como aporte, a filosofia oriental.
A vivência socioambiental de arteterapia integrou o Programa COMPAZ: A ética Policial e a Vivência socioambiental com o intuito de conscientizar seus participantes da importância do diálogo e da ética para a construção de uma sociedade mais pacifica e sustentável. O diálogo entre os saberes possibilita com que o conhecimento não se esgote em sua própria identidade, mas que reverbere para além de si mesmo, gerando novas articulações e possibilidades, transcendendo as fronteiras do seu domínio epistêmico. O programa COMPAZ vem de encontro a essa demanda crescente na educação, ao possibilitar uma experiência diferenciada aos policiais e por estar apoiado no pilar da interdisciplinariedade. Ao valorizar o saber gerado pelo trabalho conjunto das diversas especificidades, ele favorece uma reflexão sobre a necessidade de uma ética comum nos grupos, constituindo um olhar transdisciplinar do saber.
Entre os meses de maio e agosto de 2009 está sendo realizado o COMPAZ/AMA 3, com a polícia militar ambiental do ES. Todo o efetivo da polícia militar está sendo atendido por este programa. A vivência de arteterapia lançou uma proposta de trabalho arrojada para os grupos, um verdadeiro desafio, trabalhar o homem que está por detrás da farda, seus sonhos, desejos, suas responsabilidades para consigo e para com o outro. A vivência «Alteridade e identidade do policial ambiental» tem sido um desafio e uma alegria, como costumo dizer, crescemos juntos com esta reflexão”.
Renata Bomfim
Convencimientos
POESIA é «conhecimento, salvação, poder e abandono. Operação capaz de transformar o mundo», afirmou o Nobel de Literatura Octávio Paz. Acredito que a poesia é tudo isso e muito mais: a poesia é o fio capaz de nos (re)ligar a um passado vivo, bruxedo que torna o presente suportável, utopia… É o grito de Munch, a noite estrelada de Van Gogh, o Minotauro de Jorge de Sena, é Dom Quixote lutando e amando com a mesma delicadeza e intensidade. É uma arte que resiste em se tornar mercadoria (por isso vende pouco), mas é uma fonte pura e disponível para todos aqueles tem sede de sentido na vida. (Renata Bomfim)
“Pienso que la poesía es un medio para tantear lo inabordable, una palanca que nos impulsa a la superación, un elixir capaz de curar variados males, un camino que nos lleva hacia donde debemos ir, aunque no sepamos dónde está. Poesía es resistencia, es compasión, es esencia y presencia del vasto corazón del Cristo Cósmico y aproximación a nosotros mismos en nuestra propia divinidad” RB
En 2010 escribió
Manifesto da poeta
As pessoas clamam pela PAZ, pela não-violência, anseiam justiça e igualdade de direitos. Ainda que a violência, a guerra, a injustiça e a desigualdade persistam, elas são cada vez menos vistas como a ordem natural das coisas e, são cada vez mais, são denunciadas como violações de diretos fundamentais dos indivíduos. Entretanto, os mesmos seres humanos que clamam pela não-violência, pela paz, pela solidariedade e exigem os direitos dos menos favorecidos, não se dão conta de que contribuem grandemente para a persistência desses males. O pacifista indiano Gandhi ensinou que “devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”, concordo com ele, embora não me considere exemplo de nada para ninguém… Mas, acredito que não podemos clamar pela não-violência, pela paz e pela justiça e, ao mesmo tempo, promover a violência e a injustiça, pura hipocrisia! sim, somos uma sociedade de hipócritas.
Uma das formas mais graves e generalizadas de violência e de injustiça é aquela à qual submetemos os animais não-humanos, nossos irmãos viajantes da grande nave azul. Nesse sentido, não se pode falar em transformações positivas e concretas sem reconhecer que estamos presos nas teias do especismo e que somos uma sociedade que ainda não conheceu o sentido da compaixão. Por isso é preciso se considerar o vegetarianismo! Acredito também que o veganismo é um caminho para a paz, para o amor… é uma filosofia, uma concepção ética, um jeito de ter um modo de vida pautado nesse direito fundamental, a vida! Os animais não são comida, não são mercadorias, eles tem sentimentos e, ao contrário do que pensamos, evoluíram mais que nós com passar do tempo… Não destroem a terra em que vivem, não poluem a água que bebem, vivem do essencial e são felizes assim… me contradiga quem for capaz! Os animais, sendo seres sencientes, devem ser incluídos em nossa comunidade moral e ter seus interesses e direitos respeitados, somente aceitando os animais como irmãos faremos as pazes com a nossa animalidade, e assim começaremos a entender o que é ser humano.
RB
Experiencia en múltiplos trabalhos
2010, eu digo Sim!
Olá amigos, foi com muita alegria que aceitei o convite para coordenar a Oficina de Pintura da Clínica Psiquiatrica Travessia. Estava afastada da clínica da psicose a um tempinho, estava dedicando-me apenas aos «normóticos», mas confesso que já estava com saudades.
Eu comecei a trabalhar com oficinas terapêuticas quando ainda era estudante de artes da Ufes e, assim que me formei, passei a coordenar a oficina de Pintura do CAPS -ILha de Santa Maria, onde havia sido extensionista pelo Programa Cada Doido Com Sua Mania (UFES). Depois do CAPS-Ilha, tive a honra de participar da elaboração do primeiro ambulatrório de saúde mental do estado para crianças e adolescentes, no Hospital Universitário/ Hucam, e da estruturação do Centro de Atenção Continuada a Infancia e a adolescência (CACIA), na Ufes. bem, foram muitos anos ministrando e criando oficinas terapêuticas, um percurso que não é linear e me possibilita aprender a cada dia.
Bem, não sei se está se fechando ou abrindo um novo ciclo na minha vida com este aceite, mas sei que estou feliz! Abraços
Renata
Rosa amarela aberta no día 31 de dezembro de 2017 na RPPN RELUZ, Marechal Floriano, Montanhas Capixabas ES Brasil
Comenzamos a escribirnos Renata y yo, y a intercambiar conocimientos y aficiones. Yo aportaba mi origen mesetario en España, área del río Duero, que se hace Douro al llegar a Portugal, arrastrando la tierra gris y parda de mi Valdepero hasta el mar en O Porto, convirtiéndome así en ibérico.
Renata me mostraba lo capixaba de su Vitória natal y del Estado uno y vario. La conocí personalmente en la Universidad Federal de Espíritu Santo, el día en que yo hablaba allí de Ibéria e iberoamérica. Días después me convidó a visitar Reluz, su paraíso elemental. Acepté, y allí descubrí la Mata Atlántica y a Luiz Alberto Bittencourt, su esposo. Luiz era el complemento humano de Renata. Me entendí con él a las mil maravillas. Simpático, modesto, entrañable, generoso, servicial; había sido um gran corredor de maratón y todavia practicaba. Sabía dosificar las fuerzas para vaciarse del todo en la llegada. Conocimiento muy útil para llevar a cabo cualquier proyecto humano.
De entre sus correos entresaco fragmentos:
“Sempre me dediquei à defesa das árvores e dos animais, não porque seja boa, mas porque são indefesos como eu fui um dia. Defendendo esses seres é a mim que defendo. Eu posso dizer não, me esquivar, gritar, contratar um advogado, mas os animais precisam de alguém que os defenda, assim como a natureza. As pedras são vivas, tudo é vivo, as pedras crescem, e quem pode garantir que não sentem? Que não amam? Eu amo as pedras. Quando estudei artes plásticas na Universidade Federal do Espírito Santo conheci Freda Cavalcanti Jardim, conhecida como mãe do mosaico brasileiro. Freda foi minha mestre e uma amiga muito querida. O Espírito Santo é prodigioso em pedras, granitos espetaculares e únicos com os quais fiz muitos mosaicos, até que, em 2000, um acidente automobilístico me forçasse a ficar dois anos sem poder quebrar pedras”.
“Considero amigas todas as pessoas com que estabeleço algum tipo de vínculo. As vezes pessoas que nem conheço pessoalmente se tornam amigas queridas. Foi assim com meus amigos do grupo do CNPq, depois de quatro anos de muita conversa via internet, de troca de informações e de matérias de pesquisa nos encontramos em Portugal, foi maravilhoso, a empatia era tamanha que parecia que convivíamos juntos por uma vida. Nosso grupo de pesquisa sobre Florbela Espanca acaba de completar oito anos. É certo que algumas me tocam de forma especial e, mesmo que não as veja mais, ficarão na lembrança. Outros amigos entraram na sua vida para nunca mais sair, considero-os irmãos que escolhi”.
“Gosto de saber que, depois de mim, no rastro da minha existência, ficarão versos, estudos, quadros, mosaicos, apenas isso. Não fiz filhos, talvez tenha feito alguns no coração, então meus versos me perpetuarão, mesmo que não me leiam, viverão repousando nas páginas dos livros, dispersos e errantes pela internet, isso sim, talvez, permite que eu vislumbre algum sentido na vida. Acho que busco apenas a satisfação de saber que fiz algo produtivo e que acho válido na mina vida, muitos não precisam disso para viver e nem para morrer, mas eu preciso. Saber que se eu morrer deixarei uma obra poética, acadêmcia, contribuições, me fazem encontrar algum sentido. A arte tem esse caráter de transcendência, concordo com Maurice Blanchot quando diz que escrevemos para nos salvar”.
“Vivemos tempos de efemeridade, mas não estarei aquí quando o libro se desfizer em poeira… prefiro acreditar que não será assim, que outras mulheres e homens levarão o meu nome assim como eu levo os seus…, sou uma pesquisadora da obra de escritores do século XVIII, XIX e XX, e um pouquinho do século XXI, então há esperanças”.
EXPERIENCIA PROFISSIONAL
2016 – 2017
Universidade Federal do Espírito Santo
Vínculo: Enquadramento Funcional: Professora Adjunto A, nível 1, Carga horária: 40, Regime: Dedicação exclusiva.
Outras informações:
Ministrei periodização literária, gêneros literários, Laboratório de escrita de autoria feminina e Literatura no Espírito santo, entre outras atividades complementares.
2014 – 2015
Governo do Estado do Espírito Santo
Vínculo: Enquadramento Funcional: Assessor Especial, Carga horária: 40, Regime: Dedicação exclusiva.
Outras informações:
Fui contratada para criar um plano de atividades lúdicas terapêuticas para as Comunidades terapêuticas (CTs) credenciadas pelo Governo do Estado do Espírito Santo. Nesse serviço desenvolvi Oficinas de artes plásticas, de literatura, e vivências socioambientais com pessoas em recuperação, bem como, criei bibliotecas e pontos de leituras nas CTs.
2011 – 2013
Faculdade SABERES
Vínculo: Professora de Pós-graduação, Enquadramento Funcional: Professora de Psicopedagogia, Carga horária: 4
Outras informações:
A matéria que leciono intitula-se Psicopedagogia e Literatura.
2008 – 2014
Mosteiro Zen Morro da Vargem
Vínculo: Colaborador, Enquadramento Funcional: Educadora socioambiental gestora de projetos, Carga horária: 20
Outras informações:
O Mosteiro Zen é um Polo de educação ambiental reconhecido pela UNESCO como um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. No Mosteiro desenvolvi projetos e programas socioambientais e de qualidade de vida para diferentes grupos, entre eles: ZENZINHO, que atende crianças da rede pública capixaba, sensibilizando os jovens para a importância de uma vida sustentável e trabalhando no enfrentamento ao uso e abuso de drogas por meio de atividades lúdicas. COMPAZ: a ética policial e a vivência socioambiental, que oferece formação continuada (sensibilização para a questão ambiental, ética e direitos humanos) para as polícias do Espírito Santo (Militar, Civil, Ambiental e Bombeiros). ZEN MANAGEMENT, destinado a gestores e técnicos de empresas públicas e privadas e a profissionais liberais. Consiste em uma imersão na filosofia zen destacando com ênfase na sustentabilidade e na importância do relacionamento humano no que tange à liderança. *Por meio de uma apresentação do programa COMPAZ que realizei no IV Fórum Brasileiro de educação ambiental, RJ, o entrevistador André Trigueiro fez uma reportagem para o programa ?Cidades e Soluções?. Já o Programa ZENZINHO foi apresentado no Globo Repórter em 2014. Nos programas socioambientais do Mosteiro fui responsável, também, por realizar treinamento com os membros da equipe, bem como, escrever sobre a memória desses programas, registrá-los em textos, e construir relatórios. Esse trabalho foi um divisor de águas na minha vida pessoal e profissional.
2015 – Atual
Faculdade SABERES
Vínculo: Enquadramento Funcional:
2004 – 2006
Centro de Atenção Continuada a Criança, Adolescente e Adulto
Vínculo: Extensionista Voluntária, Enquadramento Funcional: Arteterapeuta, Carga horária: 20
Outras informações:
Coordenação da Oficina terapêutica de Arteterapia; Tutoramento de alunos; supervisão de casos clínicos; Co- coordenação dos grupos de Estudo «Nise da Silveira» e do grupo de estudo » Arteterapia»; membro da comissão de seleção de extensionistas.
2002 – 2003
Prefeitura Municipal de Vitória
Vínculo: contratada, Enquadramento Funcional: Arteterapeuta, Carga horária: 20
Outras informações:
Coordenação da Oficina Terapêutica de Pintura no Centro de Atenção Psicossocial – Ilha de Santa Maria.
2002 – 2003
Associação de Aposentados e Pensionistas da Vale do Rio Doce
Vínculo: Contratada, Enquadramento Funcional: Arteterapeuta, Carga horária: 20
Outras informações:
Coordenação de Oficina de Arteterapia com aposentados e pensionistas da APOSVALE. Atendimentos arteterapeuticos individuais.
1997 – 1997
Prefeitura Municipal de Vila Velha, PM/VilaVelha
Vínculo: Efetiva, Enquadramento Funcional: Monitoria no Museu Homero Massena, Carga horária: 32
Outras informações:
Manutenção de acervo, acompanhamento e monitoria de visitas, aos sábados e domingos.
1995 – 1996
Prefeitura Municipal de Vila Velha, PM/VilaVelha
Vínculo: Efetiva, Enquadramento Funcional: Funcionária Secretaria Municipal de Cultura, Carga horária: 40
Outras informações:
Responsavel pelos trabalhos de montagem e desmontagem de exposições e organização de vernissagens na Galeria Eugênio pacheco de Queiróz/ Teatro Municipal de Vila velha.
1993 – 1995
Prefeitura Municipal de Vila Velha, PM/VilaVelha
Vínculo: Funcionária concursada, Enquadramento Funcional: Agente de Saúde Pública, Carga horária: 40
Outras informações:
Compôs equipe que estruturou o código sanitário do município de Vilha Velha- ES.
Intervenção de Renata Bomfim desde o minuto 9,00
Renata Bomfim é eleita para a Academia Espírito-santense de Letras 13 de dezembro de 2022
A escritora, poeta e ensaísta Renata Bomfim é a nova imortal da Academia Espírito-santense de Letras (AEL). A autora foi eleita para a cadeira 07 da instituição, antes ocupada pela saudosa jornalista e cronista Jeanne Bilich, falecida em 27 de março de 2022, aos 73 anos.
A reunião ordinária que definiu a eleição de Renata Bomfim foi realizada nesta segunda-feira, na sede da AEL, também conhecida como a Casa Kosciuszko Barbosa Leão, em homenagem ao patrono que fez a doação de sua residência à entidade.
Nascida em Vitória, Renata Bomfim é doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pesquisadora com extenso currículo, publicou os seguintes livros de poesia: Mina (2010), Arcano dezenove (2011), Colóquio das árvores (2015) e O coração da Medusa (2021), premiado em edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES). Professora universitária, ativista ambiental, é ex-presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras (AFESL) e presidente do Instituto Ambiental Reluz.
De acordo com o estatuto da AEL, a nova acadêmica tomará posse no prazo de 180 dias.
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